TEXTO: DÉLIO BORGES DA FONSECA (1969)
Alguns patenses dedicados ao esporte, se congregam nesta hora conturbada, com a finalidade de unir os clubes de futebol sob uma só bandeira. Caso exista sinceridade mesmo, naqueles que patrocinam um consórcio quase impossível, a cidade estará de parabéns. Caso exista apenas hipocrisia e demagogia, não creio que consigam algo perene, duradouro.
Pediu-me o meu dileto amigo José Marques (aquele que conserta relógio até debaixo d’água), que externasse a minha opinião sôbre o assunto, através da prestigiosa Fôlha Diocesana. Fiz ver a êle a minha total incompetência na matéria, o meu afastamento das lides futebolísticas e a ausência de qualquer compromisso com qualquer dos clubes da cidade. Embora cá no íntimo seja Mamoré, passo anos a fio sem pisar num campo de futebol. Pelo visto, ninguém poderá afirmar que puxo a braza para qualquer sardinha. Nem dinheiro nunca dei para qualquer clube.
No entanto, por estar de longe, por enxergar os acontecimentos à distância, posso ter e tenho, uma visão global, panorâmica, do assunto, sem me impor com os detalhes que possam existir e que existem. Sinceramente eu não creio seja possível uma união dos atuais clubes patenses. Esta é minha opinião e cada pessoa pode dizer o que pensa, pelo menos a respeito de esporte. As raízes de nossos dois principais clubes, Mamoré e URT, se encontram mergulhadas irremediavelmente em ranços antigos irremovíveis de nossa política municipalista. Não creio que alguém se atreva, sem ser um hipócrita, a negar esta assertiva. E ninguém que pretenda construir algo duradouro mesmo, poderá erguer o edifício sôbre os alicerces frágeis da mentira e da tapeação. O prédio ruiria estrondosamente, dentro de muito pouco tempo, soterrando todos quantos lá se encontrassem naquela hora trágica. Consigam primeiro unir o próprio povo patense, em uma só bandeira política e depois então, eu acreditarei também na união no Esporte. União firme, duradoura, que precisará de muito tempo para que se comprove a sua validade.
De nada servirá que consigam uma união apenas de fachada, para uso externo, para que pensem, fora das fronteiras do município, que conseguimos congregar todo o mundo em torno de um só pensamento, de um só ideal. Quando se der com os burros n’água, a coisa ficará pior do que antes. De nada valerá uma tal providência de fachada, se continuarem aqui as desconfianças, as desavenças, as sabotagens, a prejudicar um trabalho que para ter êxito precisa de unanidade. Aí está minha opinião, meu caro amigo. Não sei se será do seu agrado. Mas é o que penso. Que todos digam aquilo que realmente pensam, para que não se concretize mais uma farsa nesta nossa capital do milho.
* Fonte: Texto publicado com o título “União no Futebol” na edição de 09 de janeiro de 1969 do jornal Fôlha Diocesana, do arquivo do Laboratório de Ensino, Pesquisa e Extensão de História (LEPEH) do Unipam.
* Foto: Rabiscos de Eitel Teixeira Dannemann.