Enquanto nos grandes centros todos os times criam “escolinhas de futebol”, promovem “peneiradas” para escolherem os jogadores do futuro que aparecem por lá e desembolsam quantias consideráveis sempre visando a revelação de valores, aqui em Patos de Minas se faz o contrário: o futebol juvenil é eliminado do plano dos diretores. A cidade está sem seu tradicional Campeonato Amador, com incalculável prejuizo para o Esporte local. Naquele Campeonato surgiam jogadores vindos dos juvenis e muitos desses jovens valores foram e tem sido aproveitados pelas grandes equipes. A gente fica sem entender é o porque de tal atitude, porque todos (inclusive os próprios Diretores que teimam em não valorizar os jovens craques da cidade) sabem que o futuro do nosso futebol está nos juvenis. Basta que se observe o atual quadro de futebol do Atlético Mineiro para se ter uma visão das mais completas sobre o que significa os escalões inferiores num Clube.
Aqui em Patos, no caso da URT há algum tempo tivemos um quadro juvenil que se afigurava como um dos melhores da Região e onde vários craques despontavam como sendo de brilhante futuro, mas que, inexplicavelmente, foram relegados ao total abandono. O quadro de juvenis, com o respectivo Departamento, foi extinto. Ao quadro de profissionais deveria ser dado TODO o apôio. Mas seria justo, seria inteligente, seria mesmo normal que se continuasse com as atividades dos escalões inferiores, como se faz em todas os clubes bem organizados. A idéia imediatista prevaleceu. Uns poucos jogadores locais foram aproveitados no atual quadro de futebol da URT e todos, sem exceção, não tem decepcionado. À medida que o tempo passa, mais fica patente a necessidade de serem criadas bases para os futuros quadros da cidade e para que tal aconteça é extremamente necessário que se cuidem com a devida atenção dos nossos jovens valores. Tal atenção atualmente não existe. Não se cuida do futebol juvenil (alguns até acham que atualmente não se cuida mesmo de nada em matéria de futebol amador) e alguns craques dessa categoria já estão em outros clubes, como é o caso de Rogério, Belchior e outros que tem saído daqui para brilharem em outros clubes por culpa do descaso a que são relegados no futebol de Patos.
Eu pessoalmente me empenhei em ajudar a URT a criar um bom quadro de futebol juvenil que nos deu, durante a curta existência, boas razões para acreditarmos que teríamos no futuro um quadro de futebol forte e respeitado não só na região, mas em todo o Estado e mesmo no Brasil, tal o quilate dos jogadores. Esse quadro foi reduzido a zero. Seus integrantes estão dispersos. Muitos até deixaram o esporte e alguns, mais decididos, conseguiram se sobrepor a essa onda avassaladora de extermínio esportivo e foram parar em outros quadros, sempre de outras cidades, já que em Patos atualmente não existe um Campeonato em andamento e nem equipes juvenis, treinado em existir apenas algumas agremiações, como o NS. Aparecida, para citar um exemplo, que, para não acabar, fica a jogar amistosos nas cidades vizinhas e nas roças apenas com o objetivo de se manter vivo e, quem sabe, treinando para um Campeonato que não se sabe quando acontecerá. Pode ser que seja muito breve (o que até pode ser), mas pode ser que essa insustentável situação se mantenha por mais tempo, com flagrante prejuizo para o futebol de Patos de Minas.
Alguma coisa tem que ser feita para resolver a questão. Ainda acredito que a Liga tome uma posição enérgica e decidida e, com a colaboração que não pode faltar das forças vivas e atuantes do futebol patense, bem como de entidades e pessoas desinteressadas, tal situação tenha fim. A situação em que se encontra o futebol de Patos é atualmente uma das mais confusas dos últimos tempos. Existe um quadro de profissionais que embora esforçado não disse ainda ao que veio, com apagada passagem pelo Campeonato Mineiro e com perspectivas de ser rebaixado da Primeira Divisão (isso se ficar em último lugar) o que não será absurdo a se julgar suas últimas apresentações. Se algo não for mudado, para desgosto de todos nós que de uma forma ou de outra colaboramos com o futebol patense, essa triste previsão se efetivará, fatalmente. De qualquer forma ganhou-se uma coisa, experiência. Ficou-se sabendo que, por exemplo, não se faz time de um dia para o outro; que para se fazer um quadro é necessário que se aproveite o que se tem de melhor, e se possível do próprio Clube, além de outras lições que, se bem aprendidas, poderão muito ajudar a URT nas próximas jornadas.
Não adianta tapar o sol com a peneira. O pior cego é aquele que não quer ver. O exemplo do Clube Atlético Mineiro está aí para qualquer um ver, como se não bastasse os exemplos anteriores do Cruzeiro em 1966 e mesmo do Santos FC em outros tempos. Os meus votos sinceros de sucesso para o futebol de Patos de Minas nos próximos anos e em especial a URT, clube que muito admiro, bem como aos seus Diretores, que tanto tem trabalhado. Mas não se esqueçam de que para se colher é preciso PLANTAR. Os juvenis são as sementes, as quais devem ser cuidadas, adubadas, tudo pacientemente, metodicamente. Dá trabalho, é verdade, mas, podem crer, Compensa. O Atlético que o diga! Finalizando faço um pedido aos presidentes e as diretorias dos Clubes Patenses e em especial a URT: dêem atenção especial aos escalões inferiores se desejarem ter um futebol que bem represente a cidade onde quer que vá. Sem isso a situação será essa mesma de agora. Felicidades e votos de sucesso aos nossos Clubes!
* Fonte: Texto publicado com o título “Futebol Juvenil Acabou Mesmo” na edição de 20 de julho de 1977 do Jornal dos Municípios, do arquivo da Fundação Casa da Cultura do Milho.
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