ANTONIO ZACARIAS ALVARES DA SILVA

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MEDICOSão poucos os registros históricos sobre o trabalho e a vivência do médico Antônio Zacarias Alvares da Silva em Patos de Minas. Em seu livro “Domínios de Pecuários e Enxadachins”, Geraldo Fonseca lhe dedica poucas palavras:

De 1886 a 1889 a população teve a seu dispor a assistência do dr. Antônio Zacharias da Silva, formado no Rio de Janeiro e especializado  na Europa.

De Oliveira Mello, em “Patos de Minas: Capital do Milho”:

O primeiro médico aqui residente, de que se tem notícia foi o Dr. Antônio Zacarias Álvares da Silva, que juntamente com o engenheiro Crispiniano Tavares, fundou uma fábrica de ferro no Distrito do Areado (hoje, Chumbo), na fazenda denominada da Fábrica¹.

No livro “Motta & Mota”, os autores Edilson Corrêa da Mota e Hudson Rangel de Souza Mota referem-se à participação do Dr. Antônio Zacarias na Fábrica de Ferro do Areado:

Três sócios investiram determinado capital na Fábrica de Ferro do Areado […]. Eram eles o Dr. Antonio Zacarias Álvares da Silva (Barão do Indaiá), que foi vereador em Patos de Minas e possuiu fazendas em Santana de Patos e mais tarde foi grande político em Dores do Indaiá.

Sobre a sua participação política, seu nome consta das atas da Câmara Municipal de Patos de Minas pela primeira vez em 04 de agosto de 1886, sendo Presidente e Chefe do Executivo duas vezes: 07/01/1887 a 07/01/1889 e 08/07/1890 a 28/04/1891. Quando foi instalada a República, participou das “Intendências” em 1890.

Dr. Antônio Zacarias era natural de Dores do Indaiá e para cá veio exercer seu ofício. Além de médico foi vereador, fabricante de ferro, fazendeiro e “Barão do Indaiá” em sua cidade natal. A relevância da pessoa do Dr. Antônio Zacarias na história de Patos de Minas foi registrada em sua morte, noticiada pelo jornal O Trabalho em sua edição de 15 de novembro de 1905²:

HOMENAGEM DE O TRABALHO AO DR. ANTONIO ZACARIAS ALVARES DA SILVA

NA SUA CAMPA O TRABALHO ESPARGE PETALAS DE GOIVOS E DERRAMA LAGRYMAS DE IMMORREDOURA SAUDADE

Quem foi o dr. Antonio Zacarias? Podemos aprender de vós, e não vós de nós; bem sabeis o quanto elle era simples, sem resaibos de affectação, digno, sem excessos de altivez. Nascido nas immediações de 42, quando nuvens prenhas de desgraças ameaçavam os horizontes desta terra, desde cêdo patenteou a philantropia do ser caracter e a bondade de seu coração, esse mesmo coração que veio a matal-o, triste irrisão da fortuna. Diplomado em Medicina, o seu lugar era sempre junto dos que soffrem, onde existia uma dor a alliviar, um pranto a enxugar. Ahi sempre estava elle, dedicando-se mais tarde ao exercicio da medicina publica ou politica, sciencia complexa, que tem na philosophia a base de suas especulações, na hygiene os seus meios de determinação pratica, e, pensando que a caridade que se exerce em proveito de um só é insufficiente para remediar a situação afflictiva de milhares, e elle ahi gastou toda a energia de seu espirito e até a seiva de sua vida.

Elle morreu, se morrer é a desaggreagação molecular e a renovação incessante de seres no meio cosmico; mas se morrer é deixar esse mundo onde existem desesperados que blasphemam, miseraveis que mendigam, felizes que sonham, e illusos que gosam, se morrer é deixar tudo isto para viver uma existencia no seio immenso de Deus, então elle não morreu, foi arrebatado por mão defada bemfazeja, lá para o mundo das estrellas. Pela calada noite, nesta terra de pouco revolvida, os anjos da morte cantam nenias saudosas ao rugir languoroso dos cyprestes e das caguarinas que traduzem lamentos, choros, saudades do amigo que tombou na campa e cuja alma se evolou para as regiões ethereas do infinito. Descança em pax, cedro robusto, que pareceste  zombar dos furacões da vida e que tombaste ao golpe instantâneo do raio. Descança em paz, que para os mortos ainda os mais illustres os vivos só tem uma lagryma  e uma oração.

Nesta cidade a sua morte foi muito sentida, havendo-se celebrado uma missa, que teve extraordinaria concurrencia, para descanço eterno de sua alma. A’ exma. familia do illustre morto e aos seus parentes, o “Trabalho” apresenta seus sinceros pezames, lamentando tão funesto passamento que veio privar a’ Patria e a’ visinha cidade de Dores de um de seus principaes sustentaculos. Paz a’ sua grande alma.

* 1: Leia “Fábrica de Ferro do Areado”.

* 2: Arquivo do Laboratório de Ensino, Pesquisa e Extensão de História (LEPEH) do Unipam.

* Texto: Eitel Teixeira Dannemann.

* Foto: Avd2010.blogspot.com.

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