Todo dia, geralmente de manhã, ela se senta naquele banco no passeio. Não sei se já passou dos 90 ou está quase lá. Com dificuldade nos passos, de vez em quando se arrisca ir até a esquina próxima¹. Antigamente, andava por toda a Cidade. Hoje, contenta-se em sentar naquele banco no passeio para prosear com algum conhecido que passa por lá. Ao contrário de outrora, percebo poucas pessoas aqui, e já não sei mais quem é parente ou não, pois também sou velha e não estou atinando bem como nos idos tempos, belos idos tempos onde a convivência entre as pessoas era intensa, onde as portas das casas costumavam ficar abertas para o entra e sai das visitas que geravam saudáveis bate-papos, muitas vezes aconchegadas em cadeiras no passeio no finzinho da tarde até a boquinha da noite. Não mais existe isso. Primeiro porque o povo anda temeroso, vai daí que nunca se vendeu tanto sistemas de segurança. Segundo porque as casas estão deixando de existir. Por que? Veja aí atrás de mim o porquê. Sacou? Por um acaso você, uma única vez na vida, viu moradores proseando em cadeiras no passeio à frente de edifícios? É, o negócio é construir as moradias uma em cima da outra. E assim nós vamos paulatinamente, inexoravelmente, desaparecendo, sumindo do mapa, até que não restará nenhuma de nós e os edifícios serão os donos da Cidade. Eu, na minha simplicidade, pequenina, sem janelas na fachada, só a porta da sala, fico aqui nesse meu cantinho, resignada, esperando o meu fim. Entretanto, mesmo eu sendo esse cadiquinho de casa, ninguém, absolutamente ninguém, me tira a condição de ser integrante da História de Patos de Minas. E após a minha partida, deixarei saudade.
* 1: O imóvel localiza-se na Rua Teófilo Otoni, entre a sua colega Alfredo Borges e a Travessa do Sumbém.
* Texto e foto (19/09/2024): Eitel Teixeira Dannemann.