SUSTO ADVOCATÍCIO

Postado por e arquivado em CANTINHO LITERÁRIO DO EITEL.

Nas décadas de 1960 e 1970 houve um intenso ativismo estudantil universitário, principalmente na segunda, quando esse ativismo manteve uma feroz oposição contra os governos, indo desde protestos até a resistência armada contra regimes ditatoriais. Foi nessa época, mais precisamente no ano de 1972, durante o governo de Emílio Garrastazu Médici, que o patense Antônio se formou advogado pela UFMG. Durante todo o curso, fez parte de inúmeras manifestações contra a Ditadura Militar e chegou a ficar, juntamente com quatro colegas, dois dias detidos numa delegacia. Ufa, pelo menos foi só isso!

Filho de um conhecido advogado, resolveu iniciar sua vida profissional em sua terra natal, para pegar experiência com o pai, pouco tempo depois demonstrando competência e adquirindo respeito no ramo das Leis. Dois anos após, já estava em sua sala própria no Edifício Ilídio Pereira. Foi quando ficou sabendo através de um colega e amigo de Belo Horizonte, que seu nome estava incluído num IPM – Inquérito Policial Militar por causa de seu ativismo nos tempos da UFMG. Aquilo passou a lhe incomodar psicologicamente 24 horas por dia.

Uma semana depois, sua secretária, ao entrar no edifício, percebe três homens altos e fortes perguntando no comércio embaixo qual era a sala do Dr. Antônio. Subiu correndo e avisou o patrão. Este, já com as pernas tremendo, imaginando o início das consequências do IPM, tratou de, em segundos, tramar uma fuga estratégica orientando sua funcionária:

– É o IPM, vieram me pegar, o negócio é o seguinte, vou descer e passar por eles, e como são de fora e não me conhecem, vão chegar aqui no escritório e você diga a eles que estou viajando, e nessa já estarei longe.

Dito, Dr. Antônio se apressou em sair da sala no exato momento em que os três homens altos e fortes estavam chegando e foram logo afirmando:

– Dr. Antônio!

Até a secretária se assustou com a cara de pavor de seu patrão. Encostado na parede, totalmente derrotado, já se imaginando questionado em tudo por todos os seus ativismos universitários, já se imaginando torturado, já imaginando o seu fim como advogado, eis que clarões de flashes de câmeras fotográficas arderam seus olhos e ele ouviu uma voz de locutor de rádio:

– Parabéns, Dr. Antônio, o senhor, um dos maiores clientes da Casa das Representações é também muito sortudo, pois foi sorteado e ganhou um espetacular Motoradio 6 faixas.

O jornal da época publicou matéria a respeito com uma foto do Dr. Antônio com um semblante ao mesmo tempo de terror e de alívio. Ninguém sabe o porquê de todo aquele desespero, só ele.

* Texto: Eitel Teixeira Dannemann.

* Foto: Montagem de Eitel Teixeira Dannemann sobre foto publicada em 01/02/2013 com o título “Casa do Hugo – 1”.

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