Eis um sujeito batendo palmas. Não, meu prezado, não adianta bater palmas, pois não tem mais ninguém aqui dentro de mim. Eu sou o número 1102 da Rua Dr. Marcolino, entre a Pará e a Maranhão. As ruas, não os Estados, viu! Meu último ocupante foi a D. Branca, que se foi eternamente há quase três meses. Como era gostoso o ambiente aqui dentro de mim, com a D. Branca e as suas visitas. Era uma conversação danada de boa e rolava café, pão de queijo, biscoito de polvilho frito e bolo de fubá. Impossível pra mim aproveitar, né. A visita que eu mais gostava era a do Delfim, amiguíssimo da D. Branca, e quando vinha de BH a Patos de Minas, sempre se hospedava em mim. Infelizmente, o Delfim também se foi. Agora, estou sozinha. Ninguém mais mora dentro de mim. Vira e mexe vem alguém da família e fica pouco tempo. Já ouvi conversarem sobre o valor do lote. Valor do lote! É, foi-se a D. Branca e agora estão conversando sobre o valor do lote, só do lote, como se eu não estivesse aqui ou nunca estive aqui. Os humanos realmente não têm sensibilidade. Eu sei, sei muito bem o que pretendem fazer comigo. Isso aí atrás de mim: edifício. Não adianta, o destino está traçado e não sobrará uma única casa por essas redondezas. Oh, D. Branca, quisera eu a senhora ter me levado contigo. Não me levou contigo e agora vou ficar nessa agonia até chegar o momento da transformação, o momento da minha partida para a vinda de um edifício. Pois é D. Branca, a senhora faz parte da História de Patos de Minas, assim como eu. A senhora se foi e deixou saudade. E quando chegar a minha vez, também deixarei saudade!
* Texto e foto (22/06/2024): Eitel Teixeira Dannemann.