Por favor, não queira me entender, porque se nem eu sei como me entender, como é que você vai conseguir me entender. Essa aí é a minha frente, e não a minha traseira. Sacou? Mas peraí, eu não era assim. Tentando um explicamento justificável, eu surgi normal aqui quando a poeira das poucas ruas e uma imensa área vegetal ocupava esse lugar, porque descendo essa rua ficava o vale do então exuberante Córrego Água Limpa, que abastecia a simpática Lagoinha¹. Eu surgi simples e como outras aqui ao redor, outras acolá e essa rua aí de cima era praticamente uma saída da Cidade, não pra bairros, mas para a roça, pois só havia roça adiante no então vasto e exuberante Cerrado². Com o tempo, com o famigerado progresso, as ruas sendo calçadas ou asfaltadas, loteamentos surgindo que nem moscas em carne putrefata, tanto eu fui sendo deformada quanto lá pra cima foram surgindo os bairros, tais quais Nossa Senhora das Graças, Cerrado, Caramuru, Alvorada e outros. E nessa metamorfose, eu fui sendo transformada muito na base do esquisitamento, só pode! Cruz Credo, Ave Maria, Nossa Senhora da Abadia. Esse é um ditame constante dos humanos, que não tem absolutamente nada conosco, imóveis. Portanto não devo e não posso me ancorar nele para justificar que o bicho tá pegando e que as transformações já chegaram com força total, derrubando a nós para a construção de edifícios. Eu já nem me lembro como eu era quando surgi, mas quando eu deixar de existir e fizer parte da História de Patos de Minas, que não seja além do que sou hoje. E assim, serenamente, deixarei saudade!
* 1: O imóvel localiza-se no início da Rua Rio de Janeiro, no Bairro Nossa Senhora das Graças.
* 2: Hoje a Rua Manoel Dias, que após o ex-campo do Olaria e hoje o Supermercado Bernardão, é a Rua dos Guaranis.
* Texto e foto (29/07/2024): Eitel Teixeira Dannemann.