CIGANO CURANDEIRO

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Houve um tempo, dizem que foi lá pelas décadas de 1950 e 1960, que Patos de Minas foi invadida por uma manada de ciganos. Um grupo costumava armar suas barracas num grande terreno que havia na esquina da Rua Tiradentes com a sua colega Olegário Maciel, onde hoje está o prédio do INSS, cujo local também era usado por circos. Outro grupo costumava arranchar lá para as bandas do hoje UNIPAM. E por aqui costumavam ficar mais de mês, zanzando pelo Centro da Cidade, os homens tentando catirar qualquer coisa e as mulheres tentando ler a mão das pessoas.

Foi-se o tempo da manada, mas de vez em quando alguns deles surgem por aqui. Certa vez, e dizem que foi na década de 1980, arranchou na comunidade de Boassara um casal de ciganos que, com consentimento do proprietário, armou a barraca numa aguada pertinho do lugarejo. Inicialmente, correu a notícia que a mulher acertava quase tudo na leitura de mãos. Depois de um tempo, algumas pessoas começaram a comentar que o homem tinha o dom da cura através de transmimento de pensassão, quer dizer, transmissão de pensamento, e que o sujeito só não era curado por falta de fé. E o melhor de tudo: cobrava baratinho!

O Tonho da Dica e o Zeca do Nhô Calixto, ambos residentes no Bairro Nova Floresta, ficaram sabendo da dupla cigana. O primeiro, com um tique de piscar o olho esquerdo de meio em meio segundo; o segundo, com um problema crônico no joelho que só poderia ser resolvido com prótese, o que lhe obrigava a andar com duas muletas. E ficando sabendo da dupla cigana, os dois simplórios amigos foram até a comunidade na esperança de terem seus males resolvidos.

O método do cigano era o seguinte: a pessoa ficava em pé dentro de uma alta barraca enquanto o curandeiro ficava de fora para fazer o transmimento de pensassão, quer dizer, a transmissão de pensamento. Nessa, o Tonho e o Zeca entraram juntos, para fortalecer as energias, de acordo com o cigano. Postos os dois bem concentrados dentro da barraca, afastado uns dez metros o curandeiro começou a rezar numa língua que os dois lá de dentro não entendia bulhufas. Depois de uns 30 minutos de reza, ele gritou:

– Sr. Zeca, largue as muletas e venha até mim. Sr. Tonho, diga não tenho mais tique, bem alto.

Escuta-se um barulho de muletas batendo no piso de lona plástica da barraca, mas o Zeca não saiu e o Tonho não falou nada, ouvia-se apenas gemidos. O cigano insistiu:

– Saia, Zeca, fale, Tonho.

O Tonho saiu da barranca cuspindo marimbondo:

–  Pombas, seu charlatão, o Zeca caiu, quebrou os dois braços e agora estou com o tique nos dois olhos.

Vocês não tiveram fé! Foram as últimas palavras do cigano curandeiro ouvidas em Boassara, pois enquanto o Tonho foi levar o Zeca ao Hospital Regional, a dupla de ciganos se mandou.

* Texto: Eitel Teixeira Dannemann.

* Foto: Montagem de Eitel Teixeira Dannemann sobre foto publicada em 01/02/2013 com o título “Casa do Hugo – 1”.

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