De que me adianta viver na cidade se a felicidade não me acompanhar! Declaro aqui publicamente que eu seria muitíssima mais feliz se tivesse sido construída no campo, seja num simples sítio ou numa garbosa fazenda. Tem dó, Deiró, aguentar essa zoeira de motos, carros com som e essas bicicletas motorizadas não dá. E eu escuto aqui dentro de mim as almas que eu aconchego sempre reclamando disso. Oh, como eu queria estar erguida na roça, com aquele som de roça! De que me adianta viver na cidade com esse meu porte garboso se a felicidade não me acompanhar! Ora se não, eu sou garbosa sim, com muito orgulho. Mas, de que me adianta ser garbosa como eu, se já me começa a faltar espaço para viver bem? Repare nessa minha vizinha aí ao lado do edifício de sete andares. Ficou exprimida, coitada. Enquanto isso, pelo menos, do outro meu lado o edifício é só de três andares. Menos mal, mas quando não tinha nenhum deles por aqui¹ era muito melhor. Eu e essa minha vizinha de lado, trocando ideias paredísticas, chegamos à conclusão que o cerco está se fechando sobre nós. Não só sobre nós duas, mas sobre todas as casas desse entorno. É edifício pipocando pra tudo quanto é lado. Óbvio, consequência cruel de que na grande área central da Cidade não há mais como se crescer para os lados, então cresce-se para cima. E esse crescer para cima significa construir edifícios nos espaços das casas. Talvez por eu ser mais garbosa que muitas outras eu consiga resistir mais que aquelas. Talvez, pois não há garantia alguma. E se não há garantia alguma sobre a minha sobrevivência, sigo em frente fazendo parte da História de Patos de Minas, esperando o destino chegar para eu afirmar: deixarei saudade!
* 1: O imóvel localiza-se na esquina das Ruas Dr. Eufrásio Rodrigues (à direita) e Hugo José de Souza (à esquerda), no Bairro Jardim Centro.
* Texto e foto (27/07/2024): Eitel Teixeira Dannemann.