PÂNICO NA CÂMARA MUNICIPAL

Postado por e arquivado em CANTINHO LITERÁRIO DO EITEL.

De repente, oito horas da manhã, as rádios começaram a anunciar:

– A Câmara Municipal acaba de ser tomada por 10 bandidos fortemente armados e fizeram reféns os 17 vereadores e o prefeito, que estavam em reunião extraordinária discutindo a possibilidade de se criar uma lei municipal liberando as motos a barulhar somente até 200 decibéis e outra liberando o trânsito de navios na Rodovia Major Gote.

A notícia se espalhou por toda a Cidade como fogo em capim seco em dia de ventania. Para evitar maiores tumultos, a polícia com um enorme contingente bloqueou o quarteirão da Rua José de Santana entre a Rodovia Major Gote e a Avenida Getúlio Vargas. E o povo foi chegando, lotando as ruas do entorno, vindo gente até dos Distritos. Dois helicópteros da Polícia Civil sobrevoavam o edifício da Câmara. E o povo se juntando, praticamente parando o trânsito de veículos nas redondezas. E as rádios anunciando:

– Os sequestradores acabam de informar que exigem um resgate de 20 milhões de reais que deverão ser entregues pela esposa do prefeito até as duas horas da tarde, com um minutinho só de tolerância. Se a quantia solicitada não chegar até o horário estipulado, eles espalharão gasolina por toda a Câmara que será devidamente consumida pelas chamas com os vereadores e o prefeito.

Enquanto tudo isso acontecia, o Gumercindo não estava na praça dando milho aos pombos, e sim voltando de sua fazenda localizada em Lanhosos. Com residência no Bairro Caiçaras, seguiu a rota tradicional que é varar a Rodovia Major Gote. Passando pelo Hospital Regional, começou a perceber o ajuntamento anormal de pessoas e o trânsito lento. Chegando na José de Santana, com o trânsito mais devagar que lesma subindo parede, se assustou com a confusão, perguntando-se o que teria acontecido. Foi quando viu um amigo no passeio e não perdeu tempo em perguntar o que estava acontecendo. O amigo explicou tudo e arrematou:

– As rádios estão desesperadamente pedindo doações.

– Você tem ideia do quanto a gente deve doar?

– Olha, Gumercindo, um litro por pessoa tá bão demais da conta!

Mal terminou de ouvir a informação do amigo, o Gumercindo começou a sentir um cheiro de queimado. No princípio não se importou, mas quando o cheiro se tornou intenso, arregalou os olhos, percebeu uma fumaceira danada vindo da cozinha, pulou do sofá onde cochilava e correu para lá. Só lhe restou suspirar já sabendo do tamanho da bronca que ia levar da patroa:

– É, torrei o arroz, e pra tirar o pretume dessa panela vai ser difícil!

* Texto: Eitel Teixeira Dannemann.

* Foto: Montagem de Eitel Teixeira Dannemann sobre foto publicada em 01/02/2013 com o título “Casa do Hugo – 1”.

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