DEIXAREI SAUDADE − 207

Postado por e arquivado em 2022, DÉCADA DE 2020, FOTOS.

Aqui onde fui erguida havia uma semelhante, humilde, mas uma casa como eu. Certo dia, não tão distante assim, demoliram minha semelhante e em seu lugar eu fui construída. E se tem uma sensação que me atormenta diariamente é saber que surgi no mundo dessa maneira. Mesmo eu tendo ciência de que não tive culpa alguma, não adianta, essa condição não me abandona de modo algum. Outra coisa que me aborreceu deveras foi a mudança do nome desse beco, uma injustiça com a D. Inhá, e nada a ver com a outra, pois ela nem sabe disso¹. Pelo que ando ouvindo das almas que eu aconchego, a certeza que tenho é que um dia também terei o mesmo destino da minha semelhante. Mas não serei ocupada por outra casa, isso é certo, pois não vão querer me ornar além do que sou hoje. Minha sina é outra, assim como as de todas as casas do Centro, do seu entorno e de muitas outras casas dos bairros. É um movimento irreversível, inexorável e tétrico. Qual o nome desse movimento? Eis o nome: crescimento vertical! E esse crescimento vertical tem como demanda o progresso, pois não havendo mais como crescer para os lados, as moradias vão crescer para cima. Por isso, milhares de casas desaparecerão para serem ocupadas pelos edifícios. Infalível, tenebroso, doido e sei lá mais o que de trem ruim. Quando será a minha vez? Não tenho a mínima ideia. O que me resta é viver, viver, viver… até quando me permitirem, já fazendo parte da História de Patos de Minas. No meu adeus eterno, deixarei saudade!

* 1: O imóvel localiza-se na Travessa Maria Eugênia de Jesus, entre as Ruas Major Jerônimo e 31 de Março, no Bairro São Francisco. Leia “Travessa Maria Eugênia de Jesus: Favorecimento de Uma em Detrimento de Outra”.

* Texto e foto (26/07/2022): Eitel Teixeira Dannemann.

Compartilhe