CHARLATÃO ESPERTO

Postado por e arquivado em CANTINHO LITERÁRIO DO EITEL.

No início da década de 1960, dizem as boas línguas, um senhor aparentando uns 50 anos de idade e uma senhora mais ou menos da mesma idade, num Gordini parecendo do ano, surgiram no Bairro Brasil. Conversando com os moradores, apresentaram-se como médico e assistente, procurando uma casa para alugar no intuito de morar e montar um consultório. Uma viúva que morava sozinha numa casa de três quartos na Avenida Paranaíba, pertinho da Igreja dos Capuchinhos, se ofereceu para hospedar o casal, espertamente sabendo que teria um médico ali do seu ladinho.

Na verdade, os dois chegantes era um casal de vigaristas que rodava por vários povoados e pequenas cidades, ficava por lá um tempo e caia fora quando a coisa esquentava. E o povo do bairro começou a desconfiar disso a partir do momento em que as prescrições aos pacientes não surtiam os efeitos desejados. Deu-se então que os pacientes sumiram. O vigarista, para tentar reverter a situação, saiu espalhando que cobraria só R$ 50,00 pela cura, e se o paciente não se curasse, ele, o doutor, pagaria R$ 1.000,00¹ ao paciente.

Dois espertos irmãos resolveram faturar os mil reais. O primeiro foi até lá fingindo que há dois dias tinha uma dor insuportável no pé esquerdo e que só de encostar doía. O dr. solicita uma pomada à assistente, passa a pomada no pé do paciente e pede para ele aguardar só 5 minutos para ficar curado. Passados os 5 minutos, de propósito, o dr. pisa levemente no pé do paciente, e este não tem reação alguma. O médico então diz:

– Pronto, seu pé foi curado, manda cá os meus R$ 50,00.

Óbvio que o homem ficou fulo da vida e por isso, uma semana depois, voltou com outro fingimento, dessa vez dizendo que não estava se lembrando de nada, nem do próprio nome. O médico pediu à assistente a mesma pomada e passou na testa do paciente, que chiou:

– Uai, sô, essa é aquela pomada que você passou no meu pé.

O médico: – Que legal, resolvido o seu problema de memória. Manda cá os meus R$ 50,00.

Aí foi a vez do irmão fingir na tentativa de desmascarar o médico e faturar os mil reais:

– De dois dias pra cá passei a não enxergar praticamente nada, tanto que esse meu amigo me trouxe aqui.

O médico: É, nesse caso não tenho capacidade para curá-lo, muito menos com a minha milagrosa pomada. Pra mim, promessa é promessa, e se eu honro com as minhas, eis aqui os seus R$ 1.000,00.

O paciente: – Uai, doutor, você pirou, isso aí é só uma nota de R$ 20,00.

O médico: Que maravilha, só de vir aqui você recuperou a visão. Manda cá os meus R$ 50,00.

Quatro meses. Foi esse o tempo em que os dois vigaristas ficaram no Bairro Brasil. Sumiram quando o povo teve a certeza de que eram realmente vigaristas e a coisa começou a esquentar para o lado deles.

* 1: Uso aqui o Real para bom entendimento, pois não tenho a mínima ideia de quanto em Cruzeiros se pagava por uma consulta médica naqueles idos tempos.

* Texto: Eitel Teixeira Dannemann.

* Foto: Montagem de Eitel Teixeira Dannemann sobre foto publicada em 01/02/2013 com o título “Casa do Hugo – 1”.

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