É claro que tenho boas lembranças de meus donos e toda a parentada e ainda mais quando eu estava novinha e eles vieram pra dentro de mim. Esse quintalzão aí já teve muitos pés de frutas, verduras, legumes e o muro sempre foi baixo porque praticamente não tinha amigos do alheio. Apesar da simplicidade dessa região¹ nos idos tempos, e raramente com uma casa melhor que eu, o povo se dava bem e também me lembro das visitas que eu recebia, especialmente do casal Manoel e Maria Augusta, gente boa e graças aos dois temos aquele cruzeiro aqui pertinho². Pena que aqueles bons tempos se foram, assim como se foram de mim todos aqueles que outrora me habitavam. Hoje já não encaro o tempo com a alegria de antigamente. Considero agora o tempo desagradável, sinistro e tétrico com todas as mudanças que aconteceram por aqui, com as que estão acontecendo e que ainda vão acontecer. Tudo em volta de mim está se transformando, as casas estão desaparecendo e em seus lugares surgindo edifícios, e nem sossego mais temos com essa quantidade enorme de carros e motos barulhentas que autoridade nenhuma combate e de muita gente esquisita que passa por mim sabe-se lá pensando o que. Falando sinceramente, já nem sinto mais vontade de existir como casa. Sei que vou fazer parte da História de Patos de Minas para sempre, mesmo não existindo mais. E quando isso acontecer, deixarei saudade!
* 1: O imóvel localiza-se na Rua Virgílio de Sousa entre suas colegas Gabriel Pereira e Tonho do Nico, no Bairro Nossa Senhora das Graças.
* 2: Leia “Praça do Cruzeiro”.
* Texto e foto (30/05/2024): Eitel Teixeira Dannemann.
