DEIXAREI SAUDADE – 42

Postado por e arquivado em 2018, DÉCADA DE 2010, FOTOS.

Quando fui erguida, o PTC era simplesinho, a sede ao lado das duas piscinas, uma pequena e outra média, era um galpão comprido. Eu, também simplesinha, ali encostada, numa Avenida Getúlio Vargas com um mundaréu de lotes vagos, sempre ouvi gente passando à minha frente dizendo que aqui não teria edifícios. Ouvia com muito prazer, pois imaginava a avenida somente com suas casinhas simples como eu e aqueles lindos casarões do escol, que surgiram há muitos anos antes de mim lá para as bandas da Matriz, com estilos de arquitetura elaborados. Ledo engano, coisa de imóvel sonhador, que imagina para si a eternidade. Bobinha, só recentemente é que assumi que fui uma bobinha, pois os lotes vagos foram sendo ocupados e quando me dei conta, lá estavam os fatídicos edifícios, mais parecendo caixotes como esse aqui juntinho de mim, sem nada do charme estiloso dos poucos casarões sobreviventes.

Atualmente, as almas que me ocupam estão estranhas. Muita conversa sobre mudanças, sobre preços de lotes. É triste. Durante anos e anos fui residência, fui lar, agora sou apenas um lote, não tenho mais nenhum valor como estrutura física, como paredes e telhado. É como se olhassem para mim e enxergassem apenas um espaço para a construção de um edifício. E é isso que vai acontecer. Não só comigo. Quantas se foram. A do Cel. Arthur e a do Itagiba agonizam. A do Amadeu está lá, reformada. Mas para que? Outras, como eu, ainda mantêm uma aparência saudável. Mas tudo é ilusão. Esperança vã. Não há força neste mundo que aplaque a sede financeira da especulação imobiliária, que não sabe conviver com o passado. Chegará um tempo em que a Avenida Getúlio Vargas só terá altos edifícios para gente de dinheiro. Muito antes disso, eu mesma já terei cedido lugar para um caixote horroroso como os que já estão presentes. Estou inerte, esperando a minha vez. Serena, ciente da sina, mas com a vibração de saber que faço parte da História de Patos de Minas desde o primeiro tijolo assentado. E quando eu não mais existir… deixarei saudade!

NOTA: O imóvel foi demolido em fevereiro de 2020.

* Texto e foto (25/02/2018): Eitel Teixeira Dannemann.

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