Uma nuvem negra paira sobre mim, só pode! Há anos essa nuvem negra vem judiando de minhas paredes, portas, janelas e telhado. Tudo por causa do disgranhento progresso que não perdoa nada do que é velho, que despreza tudo aquilo pertencente ao passado. Pra ele, o progresso, essa maldita máquina trituradora do ontem, só interessa o novo. E esse nefasto progresso vem nos devorando, nós casas, uma a uma, para sermos ocupadas por edifícios. Por aqui em volta está um horror¹. Enquanto eu me envolvia nessa nuvem negra, imaginando apenas essa nuvem negra a me atormentar, pensando até na utopia de me salvar, eis que me enfronho em outra lástima. Sim, outro infortúnio. Era noite quando percebi o cheiro de fumaça e logo o fogo começou na minha entrada. Senti o ardor das chamas, vi-me sendo devorada pelo fogo, sem como me salvar. Já entregue ao meu triste destino, veio um som apaziguante. Sim, o som de sirene. E sim, do Corpo de Bombeiros. E assim, deu-se a minha salvação, mas fiquei nesse estado lastimável, chamuscada, feia. E agora, o que vai acontecer comigo? Serei reformada ou esse fogo foi a deixa pra me derrubarem pra servir de pouso a um edifício? É assim que vou entrar para a História de Patos de Minas? Não me importa mais nada, somente só que, quando eu me for, deixarei saudade!

* 1: O imóvel localiza-se na Rua Alfredo Borges, entre suas colegas Teófilo Otoni e Cesário Alvim.

* Texto e foto (25/08/2023): Eitel Teixeira Dannemann.