Como em qualquer cidade do país e do mundo, sempre há os tipos populares. Pelas nossas bandas patenses, cito alguns que fizeram história: Dr. Noé, João Meleca, Pula-Piru, Zé Albino, José Prates, Matraca, Chico Cacete, Cubu, Ferrugem, Cuiabana, Melo Viana, David, Maria Garrincha, Bentinho das Moças, Jerônimo Boiada, Paulino, Alexandre Cadela, Emiliano Candocha, Edinha, Totó, muitos outros e… claríssimo, a Tita.
Muitos outros perambularam e perambulam hoje em dia pela Cidade, mas não foram e não são tão conhecidos como os citados. É o caso do cinquentão Vieirinha, que praticamente ninguém conhece, a não ser eu e mais meia dúzia. Simplório demais da conta, metido a entendido de tudo, mas só dá mancada. É daqueles que cruzam cabra com luneta para ver se nasce bode expiatório e ainda capaz de provocar azia em Alka-Seltzer.
Certa vez, olhando uma vitrine de uma loja de confecções na Rua General Osório, leu que estavam à venda duas camisas polo por x valor. Entrou e perguntou:
– Moça, essas camisas são que nem pilha e bateria que tem dois polos? Me mostra qual é a camisa de polo negativo e qual é a de polo positivo.
Solteirão inveterado, quando ia a um casamento de um parente, uma tia sempre pegava no seu pé dizendo que o próximo seria ele. Assim foi muito tempo, até que o Vieirinha se cansou e quando houve um funeral de um deles, chegou perto da tia e no seu ouvido sussurrou que o próximo seria ela. Nunca mais a tia lhe aborreceu.
A última notícia que se tem dele é quando foi de ônibus visitar um parente em Patrocínio. De manhãzinha, sentou-se no seu lugar e ao lado, na poltrona da janela, uma senhora de lá seus oitenta anos que não lhe deu a mínima bola. Tudo ia tranquilo quando, após o ônibus passar pela entrada da comunidade de Lanhosos, o estômago do Vieirinha entrou em atrito com seu corpo, fruto da ressaca da noite anterior. Veio-lhe uma vontade irresistível de vomitar. Tentou de todas as formas segurar, vindo-lhe à boca duas golfadas, das quais controlou e conseguiu mandá-las de volta ao estômago. Mas, na terceira, não teve jeito. Em questão de um segundo, olhou para o lado e, graças, nos dois bancos do outro lado do corredor não tinha ninguém, a sorte estava com ele. Mais um segundo, olhou para a idosa roncando. E no terceiro segundo, numa força imensurável para fazer o mínimo de ruído possível, soltou aquela maçaroca horrível no peito dela. Correu o olhar em volta e se tranquilizou, porque ninguém reparou. Só por mais alguns segundos, pois a catinga começou a se espalhar dentro do ônibus. Foi então que o Vieirinha demonstrou que, pode até ser frogoió, mas não é tão bobo assim. Colocou um pouco da maçaroca fedorenta escorrendo pela boca da idosa e, acordando-a, perguntou emocionado enquanto a limpava com um lenço:
– Tá melhor agora, senhora?
Desceu em Patrocínio como benfeitor.
* Texto: Eitel Teixeira Dannemann.
* Foto: Montagem de Eitel Teixeira Dannemann sobre foto publicada em 25/02/2020 com o título “Palacete Mariana na Década de 1960”.