Vende-se! Está aí bem aparente na minha fachada. Vende-se! Quer dizer que sou unicamente uma mercadoria para quem me construiu e para todos aqueles que moraram dentro de mim! Vende-se, simplesmente, vende-se! Estou sendo sumariamente descartada sem eu saber para qual propósito, isto é, estou sendo vendida pra que? Aliás, abalam-se todas as minhas estruturas por essa ingratidão. Foram-se todos aqueles que conviveram comigo durante anos e que sem nenhuma dó, sem nenhum reconhecimento, simplesmente me abandonaram e resolveram me vender. Repito: por que me vender? Essa pergunta eu me fiz durante muito tempo sem encontrar a resposta, até que, sozinha como estou agora, nessa solidão mordaz, com pensamentos sorumbáticos se espalhando por todo o meu ser, finalmente percebi o que realmente está por trás de tudo isso. Foi a partir do momento em que reparei que por essas minhas redondezas¹ outras semelhantes a mim eram colocadas à venda e logo depois eram demolidas para a construção de um edifício é que eu cai na real, e como dizem popularmente, a ficha caiu pra mim. E a partir do momento em que assimilei essa cruel realidade, não me restou alternativa a não ser aceitar que, por tudo que represento na História de Patos de Minas, por tudo que fiz àqueles que aconcheguei com tanto carinho e que hoje simplesmente me descartaram, declaro solenemente que, transformada em espaço para ser ocupada por um edifício, deixarei saudade!

* 1: O imóvel localiza-se na Rua Barão do Rio Branco entre sua colega Marechal Floriano e a Avenida Brasil.

* Texto e foto (20/04/2023): Eitel Teixeira Dannemann.