Gente do Céu, estou estranhando demais da conta o que anda acontecendo por aqui¹. Que loucura, sô, é edifício pipocando pra tudo quanto é lado. É evidente que eu, nascido lá pela década de 1950, onde prédio não passava de dois pavimentos como eu, estou deverasmente impressionado com a devastação dos imóveis antigos. É que nem quando destroem florestas com aqueles enormes tratores com enormes correntes, que vão derrubando tudo o que encontram pela frente. Olho pra frente e lá está uma casa antiga sendo demolida. Olho pra direita, lá está uma casa antiga sendo demolida. Olho pra esquerda, lá está uma casa antiga sendo demolida. Olhe aí atrás de mim e perceba o meu drama. Estou, a cada mês que passa, sendo espremido por edifícios. Pelamordedeus, gente, faço parte da História de Patos de Minas, será que isso não representa nada? Será que a única coisa que importa é o progresso? Por que não nos deixam em paz e surjam edifícios onde ainda não tem construção alguma? Por que essa vil mania de destruir o antigo para construir o novo no mesmo lugar? Ora, quero viver, quero continuar nesse meu cantinho aqui e ser apreciado daqui a cem, duzentos anos. Eis que palavras nada são mais do que palavras, pois não adiantam minhas lamentações. Como tenho a mesma importância dos outros imóveis antigos que já sucumbiram, chegará o triste dia de minha partida. E como todos os outros, deixarei saudade!
* 1: O imóvel localiza-se na esquina da Rua Teófilo Otoni com sua colega Alfredo Borges, a um quarteirão da Antiga Cadeia.
* Texto e foto (18/03/2023): Eitel Teixeira Dannemann.