TEXTO: JORNAL O COMMERCIO (1913)
Ha bastante tempo, acha-se desfalcado o destacamento policial desta cidade, composto de seis praças e actualmente reduzidas a duas.
Infelizmente essa deficiencia de soldados não tem permittido a organisação de um serviço regular para a manutenção da ordem, pois a certeza de que não serão cohibidos nos seus excessos criminosos, dão logar a que individuos percam o respeito devido a sociedade, perturbando o socêgo das familias, com abusivos tiroteios pelas ruas da cidade, podendo mesmo dar logar a consequencias graves, pois que se dão tiros a torto e a direito. Alguns acham que esses pequenos delictos de se andarem armados ostensivamente e de se darem tiros pelas ruas da cidade, não são graves, é um engano, elles são como o vírus do mal, que infiltrando aos poucos no organismo, produzem as grandes doenças. Em uma população pequena como esta, já se praticaram esse anno, dentro da cidade, dous crueis assassinatos. Em um d’elles, o criminoso, Mathias de Tal, carpinteiro, depois de varar uma infeliz mulher, à bala de carabina, andou calmamente pelas ruas da cidade, conversando aqui e alli. Percebendo mais tarde que era perseguido por alguns populares, retirou-se tranquilamente para Carmo do Paranahyba, onde, ao que consta, se acha.
Vendo que não havia motivos para ter receio, um outro individuo compra uma carabina e, á luz do dia, junto á casa de uma autoridade merecedora de todo o respeito, tiroteia um seu desaffecto, morador no effervescente suburbio da “Vargem”, não havendo offensas physicas, felizmente.
Esse foi infeliz, pois o delegado de policia o enfrentou resolutamente e mostrando-lhe com quantos páus se faz uma canôa, arrumou-lhe nas costas o Auto de prisão em flagrante e o trancafiou no xadrez. Perdeu a liberdade, perdeu os cobres com que comprou a carabina, perdeu a perigosa arma e naturalmente ainda terá que dar ao advogado aquillo com que se compram os melões. Consequencia: a “Vargem” melhorou, pois moderado ficou o seu impeto belicoso, não se ouvindo tiros durante algumas noites.
Si todos tivessem a sorte desse atirador, estariamos certos de que a “Vargem” seria um seio de Abrahão e era uma vez, o tiroteio pelas ruas da cidade.
O dignissimo Dr. Chefe de Policia bem podia ordenar o complemento do destacamento policial, prestando um beneficio a Patos, mesmo porque, segundo affirmam, o municipio está povoado por muitos criminosos, servindo de estimulo aos máus para a perpretação de novos crimes, as mais das vezes, sem motivos que os justifiquem perante a lei.
NOTA: O EFECADEPATOS não conseguiu identificar onde se localizava, no subúrbio da então pequena Patos sem ainda o “de Minas”, a citada Vargem. Pelo menos por enquanto!
* Fonte: Texto publicado com o título “Policiamento” na edição de 15 de novembro de 1913 do jornal O Commercio, do arquivo da Hemeroteca Digital do Alto Paranaíba e Triângulo Mineiro, via Altamir Fernandes.
* Foto: Início do texto original.