CARESTIA EM 1913

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CARESTIA EM 1913TEXTO: JORNAL O COMMERCIO (1913)

Chegou-me aos ouvidos que alguns acharam que a minha agua doce passada, não passou de agua morna. Bem que eu espremi bastante para dar-lhe um pouquinho mais de calor, para misturar-lhe um pouquinho mais de doce, mas… o bestunto não deu! Um pouquinho mais de doce!… Nessa não cahia eu, em addicionar-lhe mais doce, pois, este artigo está tão vasqueiro por aqui. Apezar de ser tempo de moagem, a rapadura está relativamente cara e o assucar, carissimo. Não é só este genero que está caro não, há muitos outros que estão peiores. Nunca vi em nossa cidade tanta falta como agora.

Ora, vejam só: – Aqui que é o poço, por assim dizer, de boiadeiros fortes, que compram e vendem, annualmente, milhares de bois; aqui onde não faltam criadores abastados, que possuem alqueires de invernadas cheias de gado; aqui, finalmente, que devia ter fartura de carne, não tem: pois estão vendendo 1 kilogramma de carne de vacca por $700, não se falando na de porco que não está custando menos de 1$. Ainda se houvesse muita, embóra cara, transeal, mas, não ha.

Tenho visto, varias vezes, a carroça de carne chegar em um córte, acompanhada de 8, 10 e mais compradores, os quaes, até brigam para serem despachados primeiro, temendo voltarem sem levar carne, como acontece a muitos, por não chegar para todos. Não acreditaes? Pois é real!

O toucinho, até a pouco, navegava lá para os 15$ a arroba, estando hoje felizmente a menos. Este é o artigo cujo preço mais oscilla em nossa praça. O arroz está pela hora da morte; quem desejar comel-o, não póde ter dó de marchar com 6 ou 7 mil réis por uma quartazinha de 15 litros.

Si as coisas não melhorarem, si o mantimento não baixar de preço é preciso que o Cel. Arthur, si quizer que haja frequencia no Cinema, ponha a $500 a entrada geral; sinão a maior parte do povo lá não poderá ir, devido à falta dos dez tostões inteirados. A $500 S.S. terá o dobro de espectadores, não precisando ter medo da casa não caber, porque, com a carestia reinante, o pessoal está afinando muito, e no banco em que no tempo da fartura, cabiam 3 pessoas, hoje cabem 6, com certa folga, bastando apenas não deixar que deitem, como fazem alguns, com prejuizo dos visinhos e com falta de delicadeza para com os circumstantes. Si esta tambem estiver morna, não vos custa nada.

* Fonte: Texto publicado com o título “Palestra” na edição de 12 de outubro de 1913 do jornal O Commercio, do arquivo do Laboratório de Ensino, Pesquisa e Extensão de História (LEPEH) do Unipam.

* Foto: Diariodaregião.com.br, meramente ilustrativa.

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