Como é de conhecimento de muitos, a pandemia do Covid-19 causou problemas econômicos em todo o Planeta, desencadeando uma tremenda crise que gerou milhões e milhões de desempregados mundo afora. Um dos que ficaram sem emprego aqui foi o sarado Marcelo, formado em Educação Física e que trabalhava numa academia de ginástica. A propósito, coisa que ele mais detesta é ser chamado de Profissional de Educação Física, e de Educador Físico então, vixe!. De jeito algum, pois ele é brasileiro, e como brasileiro adepto do portuglês, faz questão de ser chamado de Personal Trainer. Pois bem, mesmo com a chiquesa de ser um Personal Trainer, perdeu o emprego.
Na fase mais dura do distanciamento social, o Marcelo não sabia o que fazer. Ainda solteiro e morando com os pais pôde ir levando a vida esperando a pandemia passar para tudo voltar nos trinques como dantes no quartel de Abrantes. Não faz muito tempo, conversando com um primo Médico Veterinário, ficou sabendo que um empresário morador no Bairro Copacabana estava procurando uma pessoa bem dotada fisicamente para passear pelas redondezas do bairro com o seu cão Pitbull, todas as manhãs por um período de pelo menos uma hora. Mas, com uma condição: sem focinheira, para que seu amigo pudesse respirar melhor. Por isso, exatamente por isso, o empresário estava procurando uma pessoa musculosa que teria a força necessária para conter o animal. A propósito, o empresário sabe da Lei que obriga o proprietário de cão considerado agressivo − que agora não é mais proprietário e sim tutor − a passear com seu cão − que agora não é mais cão, agressivo ou não, e sim pet − com focinheira. O cão!
Pois eis que o Marcelo, pelo rendimento financeiro razoável num período em que não estava tendo rendimento financeiro algum, engoliu o orgulho da sua condição de Personal Trainer e aceitou a incumbência de passear com o Pitbull sem focinheira, confiando no seu poderio muscular. Mas o trem foi duro demais, pois o cão até parecia que era mais forte que ele. Depois de apenas uma semana, já com calos nas mãos pela força que tinha de usar para segurar a coleira atrelada ao peitoral do animal, estava zanzando com ele pela Avenida Angra dos Reis quando um jovem, percebendo o cão babando com um olhar feroz, exclamou:
– Nossa, moço, que cachorro bravo, segura ele com força aí até eu passar.
O Marcelo, que estava já indo embora para entregar o Pitbull e nunca mais passear com aquele disgrenhento de cachorro, fulo da vida, respondeu:
– Meu jovem, não é assim não, quando ele quer ele deixa qualquer pessoa estranha aproximar numa boa, e parece que ele quer que você se aproxime.
– É mesmo, por quê?
– Ora, se você não se aproximar ele não vai conseguir te abocanhar. Vem…
O jovem não foi, saiu correndo e sumiu. Passada a fase crítica da pandemia do Covid-19 após as vacinações, o Educador Físico Marcelo, quer dizer, Personal Trainer, voltou à sua atividade e a vida vai seguindo, agora com a Varíola dos Macacos. Qual será a próxima?
* Texto: Eitel Teixeira Dannemann.
* Foto: Montagem de Eitel Teixeira Dannemann sobre foto publicada em 06/06/2014 com o título “Antiga Rodoviária no Final da Década de 1970 − 1”.