NO TEMPO DO HALLEY

Postado por e arquivado em CANTINHO LITERÁRIO DO EITEL.

No final de 1985, a passagem do Cometa Halley, que de 76 em 76 anos dá as caras pelas redondezas da Terra, virou assunto geral. Em maio de 1910, sua última aparição, disseram as boas línguas que, motivados por superstições, provocou muita comoção em todo o Planeta, incluindo, óbvio, Patos sem ainda o “de Minas”. De acordo com os entendidos no assunto, o dito cujo estava previsto para nos visitar no início de fevereiro de 1986. Foi então, ficando só por aqui na nossa terrinha, que o Halley era tão comentado que rivalizou com qualquer tipo de notícia política-econômica-social-criminal-religiosa-esportiva-passional-bestial e por aí foi.

Tancredo foi eleito por voto indireto em 15 de março mas não assumiu porque morreu em 21 de abril? O Halley passou a ser mais comentado. Sarney assumiu? O Halley passou a ser mais comentado. O Coritiba foi campeão do Campeonato Brasileiro em agosto? O Halley passou a ser mais comentado. 21% de brasileiros de 15 anos ou mais não sabiam ler e escrever? O Halley passou a ser mais comentado. E assim foi o final de 1985, o assunto era a expectativa da vinda do Cometa Halley.

Nas escolas da Sede e dos Distritos os educadores aproveitaram a oportunidade para instruírem seus jovens discentes sobre o que era e como se deslocava pelo infinito espaço o tal corpo celeste. Do Colégio Marista ao Marcolino de Barros, da Escola Normal à Escola Professor Modesto, do Colégio das Irmãs à Escola José Paulo de Amorim, da Escola Adelaide Maciel à Escola Juca Mandu, só se falava no Halley. E foi em Santana de Patos, na cita Escola Juca Mandu, que uma meninota de 10 anos se encantou pelo astro.

Encantou-se tanto pelo o astro que se transformou em prioridade de sua vida ver a passagem do cometa. Os pais, religiosamente repletos de crendices sobre fenômenos vindos lá do Céu, tentavam de todas as formas convencerem a filhota esquecer as baboseiras da professora e não mexer com coisas esquisitas sabe-se lá enviadas por quem. Mas a filhota tanto insistiu, tanto insistiu para ver a passagem do cometa, que os pais finalmente concordaram.

Veio então a previsão que nas noites do início de abril de 1986 o Halley poderia ser avistado cruzando a negritude do espaço patense. A partir de então, a garota se arvorou em querer ficar a noite toda e a madrugada toda na esperança de ver a sua luminosidade. Que sacrifício para os pais. Um, dois, três, quatro dias, e nada do Halley. Até que um bafafá surgiu sobre uma luz pálida caminhando lentamente no espaço. A garotinha saiu correndo com a mãe para observar o cometa, juntando-se a um monte de santanenses já de plantão. O pai, preocupadíssimo, clamou à esposa:

– Pelamordedeus, muié, não deixa ela chegar perto, sabe lá se esse trem é do tinhoso!

* Texto: Eitel Teixeira Dannemann.

* Foto: Montagem de Eitel Teixeira Dannemann sobre foto publicada em 06/06/2014 com o título “Antiga Rodoviária no Final da Década de 1970 − 1”.

Compartilhe