LEMBRANÇAS DO TEMPO EM QUE NA ESCOLA O PROFESSOR ERA AUTORIDADE A SER RESPEITADA

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lembrancas-do-tempoTEXTO: EITEL TEIXEIRA DANNEMANN (2016)

Há poucos dias, na cidade de Passos, no Sul de Minas, uma professora ficou ferida após ser atingida por uma carteira arremessada sobre seu corpo. Um aluno de 12 anos, coitadinho, tão jovem e indefeso, ficou furioso porque a educadora ralhou com ele. Para proteger a desprotegida criatura, foi até acionado o Conselho Tutelar. Este é apenas mais um caso registrado pelos órgãos de comunicação sobre a inversão de valores na educação que vem acontecendo perigosamente já há muitos anos. Mais um, apenas, pois imbróglios semelhantes ou piores abundam pelo país do pau brasil. Se somarmos este aos não registrados, fica caracterizada uma pandemia contra a autoridade do professor, autoridade esta que no passado distante era inquestionavelmente apoiada pelos pais, tanto que o símbolo maior daquela época atendia pelo nome de palmatória.

A palmatória foi muito usada até meados do século 20, quando se punia com certa quantia de bolos os alunos que não fizessem as lições diárias ou descumprissem as normas estabelecidas pelo professor. Muitas vezes o professor fazia um furo no centro da parte oval da concha da palmatória para que ele chupasse o sangue da mão do aluno provocando, dessa forma, uma dor bem mais acentuada. Assim, muitos alunos temerosos da punição e procurando evitá-la, aprendiam a ler, a escrever e a fazer contas. E os pais agradeciam!

Com a “evolução” (?) do ensino, e a percepção dos jovens sobre a necessidade da educação, mesmo com a aposentadoria da palmatória a autoridade do professor não foi afetada. Era coisa de berço, os alunos aprendiam no lar que o mestre devia sempre ser respeitado. Relembro de meus salutares dias educacionais no Grupo Escolar Marcolino de Barros na década de 1960. Concentrados nas rústicas cadeiras, eu e meus coleguinhas olhávamos admirados a impoluta figura feminina que nos ditava ensinamentos. Além lar, ela era a nossa âncora. De repente, ecoava por toda a escola o sinal de recreio. Ninguém se mexia, a não ser a professora, que ajeitava seus apetrechos na mesa e só assim ordenava que saíssemos ao pátio. Em fila indiana, respeitosamente, mansamente. Lá ficávamos no tempo determinado naquele paraíso infantil e no mesmo comportamento da ida, voltávamos à sala de aula.

Nos idos de 1968, o chiquete Ploc era uma verdadeira febre entre a gurizada. Para minha felicidade, meu pai era o distribuidor da marca em Patos de Minas e região. Naquele ano o Ploc lançou uma novidade revolucionária para a meninada: figurinhas que, molhadas (geralmente com cuspe) e pressionadas sobre qualquer parte do corpo, transformavam-se em toscas tatuagens. Lembro-me que algumas crianças (eu, uma delas) eram tão alucinadas pelas tatuagens que queriam que elas durassem bastante tempo, e aí não queriam tomar banho. E tome bronca das mamães. E minha mãe danando com meu pai pela situação, pois ele era o “responsável”. No dito ano, eu cursava o 1.º Ginasial no Marista. Numa bela manhã, o bonitão aqui surge na sala de aula com uma belíssima tatuagem afixada na mão direita. Era simplesmente o Pato Donald. Pra quê! Quando o professor viu aquela coisa estranha na minha destra, imediatamente ordenou que eu fosse ao banheiro para lavar aquele “macuco”. Assim foi feito, meus pais foram repreendidos e nunca mais tatuagens Ploc na escola.

Aí veio 1969, 1970… os anos se foram e mudanças estranhas se estabeleceram no ensino. A partir do surgimento dos “gênios” educadores com seus métodos revolucionários de ensino, realmente tudo mudou. Não sou entendido no assunto, mas o que percebi é que foram minando a autoridade do professor e transferindo-a ao aluno, paulatinamente, ano a ano. Hoje não há mais ordem e a figura do professor nada mais é do que um estorvo à falta de educação do aluno. Pude comprovar esta triste realidade quando fui visitar uma escola pública aqui em Patos de Minas.  Enquanto eu esperava ser atendido pela diretora, caminhava pelos corredores quando soou o apito do recreio. Em questão de segundos fez-se soar pelo ambiente um som ensurdecedor. Imagine um curral imenso lotado de gado nelore, daqueles bem ariscos e enfezados. Imagine agora a porteira sendo aberta. Eureca, é isso mesmo, que nem! Eu tive que me apertar, quase que adentrar a parede do corredor senão seria pisoteado por um bando de alunos de olhos esbugalhados, mancebos e mancebas de lá seus 12 a 14 anos, por aí. Que algazarra, que sandice impressionante, que saudade do Marcolino de Barros dos idos tempos. Ufa, escapei!

Mais calmo, como quem não querendo nada, fui apreciar os garrotes, quer dizer, os garotões e garotonas aglomerados na cantina. E o que eu presenciei resume o que é este torrão de terra chamado de país do pau brasil. Na fila, cada um dando tapinha na cabeça dos outros, chegavam às panelas e a funcionária enchia, literalmente, os pratos. Mais do que óbvio, qualquer um vai acreditar que a intenção de cada aluno seria procurar um cantinho para se sentar e saborear a dádiva recebida que muitos deles tinha modestamente em casa. Qual! A grande maioria ficava andando para lá e para cá com o prato cheio de comida nas mãos, aos gritos uns com os outros, dava duas ou três garfadas e… pasmem… você não vai acreditar… mas vou contar assim mesmo. Depois das afamadas duas ou três garfadas, inúmeros jovens despejam em enormes vasilhames de plástico o prato praticamente cheio de comida e partiam para a “farra” do recreio, aos berros e parecendo débeis mentais.

Quando a diretora me atendeu, entre perplexo e abobalhado, não me contive e narrei o que presenciei. A resposta dela comprovou que, realmente, fatalmente, o professor se transformou em marionete na mão do aluno:

Se a gente admoestar algum deles corremos o risco de ser agredidas e, pior, o pai ou a mãe costuma vir aqui para defender o filho e também nos ameaçar. Infelizmente, a lei está do lado deles. Portanto, se quiserem quebrar a escola, que quebrem; se quiserem jogar comida fora, que joguem…

É, quando presencio a sujeira que “universitários” fazem na Rua Jaime Ramos¹ fica provado que a decadência de comportamento fincou raízes em todas as classes sociais. Concluindo: se hoje eu fosse professor, estaria preso ou morto!

* 1: Leia “Jovens Exemplares”.

* Foto: Colorir.blog.br.

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