Quando no sábado, 9 de abril, a Miss Minas Gerais/88 pisar a passarela do Centro de Convenções do Anhambi, em São Paulo, poucos saberão que ali desfila uma moça simples, que gosta sobretudo de ler.
Com 19 anos, Lara Lúcia Fonseca de Mattos, primeira patense a conquistar o título máximo da beleza no Estado, gosta também de praticar ciclismo, natação e ballet.
Aliás, Lara estudou ballet com a professora Simone Guimarães, dos 6 aos 17 anos, tomando amor pela dança; com certeza responsável pela modelagem escultural de seu corpo – um dos trunfos da representante mineira no Concurso Missa Brasil/88. Marcado para o dia 9 vindouro.
A Família – A mãe de Lara Lúcia, a professora Lúcia de Melo Fonseca Mattos, é educadora na Escola Estadual Professor Antônio Dias Maciel, a Escola Normal; pintora e ainda “dona de casa”.
O pai, Lázaro de Mattos, desenvolve a atividade de comerciante, durante a semana, e fazendeiro. Lázaro é dos proprietários da Construpatos, uma das mais importantes casas de materiais de construção de Patos de Minas.
Completam a família da Miss Minas Gerais/88 os cinco irmãos: Laurence, Luana, Lelian, Lauro e Lévio. Lara Lúcia nasceu em Patos em 1968 e aqui viveu até ingressar na faculdade, em 1986.
Os estudos – O curso primário (1.ª a 4.ª série) foi feito na Escola Estadual “Marcolino de Barros”. A conclusão do 1.º grau Lara buscaria estudando no Colégio Estadual, isto é, Escola Estadual “Zama Maciel”.
Também o 2.º grau foi cursado no Colégio Estadual, do qual saiu para o Cursinho Pré-Vestibular do Pitágoras. Ali, Lara Lúcia se preparou para o vestibular de julho de 1986, quando foi aprovada em Uberaba (Odontologia) e Belo Horizonte (Ciências Biológicas, na Católica).
Lara chegou a cursar o 1.º período de Ciências Biológicas, enquanto aguardava a oportunidade de vencer a batalha do vestibular também para Medicina. Hoje, ela cursa o 2.º período de Medicina na UFMG, segundo sua mãe, “com muito entusiasmo”.
DIGA – 1994
Tudo começou em maio de 1987, quando Lara Lúcia Fonseca de Matos candidatou-se à Rainha Nacional do Milho na 29.ª Fenamilho, concorrendo ao título com as também estudantes Marli da Mota Porto e Eliane Pereira Fonseca. Ela mesma lembra que o fato aconteceu por acaso, pois estava estudando para o vestibular de medicina na UFMG, em Belo Horizonte, no qual passou na segunda fase. “Para não ficar longe da família até o início das aulas, voltei à Patos de Minas e acabei sendo convidada a disputar o título”, recorda Lara. Na época, com 1 metro e 80 centímetros de altura, 68 quilos, 90 centímetros de busto, 62 de cintura e 90 de quadris, a morena clara de olhos negros era o que se pode chamar de um “avião” pronto para a decolagem de vôos bem mais altos. Sua vitória não foi nenhuma surpresa e a coroa de Rainha do Milho nunca foi tão bem colocada em uma majestade de tamanho brilho pessoal. Antes disso, Lara Lúcia já era uma garota que repercutia na roda da sociedade com o seu estilo de maneca e estampa top model. Debutou em 1.983, quando estudava no Colégio Zama Maciel e, naquele mesmo período, foi eleita Broto do Ano, pela antão colunista social Maria Inêz Martins, do extinto jornal Folha Diocesana. Em 1.984, aos 16 anos, Lara ganhou o concurso Garota Debulha, tendo participado como destaque da 3.ª Festa do Barril. A trilha de suas conquistas anteriores já evidenciavam o caminho do sucesso nas passarelas de Patos de Minas. No entanto, ninguém esperava que ela fosse tão longe.
O olho clínico do veterano colunista Nicolau Neto flagrou Lara Lúcia numa época de pleno esplendor. Na condição de produtor do concurso Miss Minas Gerais o colunista foi inflexível: “Ela tem tudo para ser a mais bela do Estado”. Lara recebeu o convite para participar do concurso mas não pôde aceitar, por ser menor de idade em 1.987. No ano seguinte ela topou a parada e partiu para a luta. “Nicolau Neto ligou várias para mim e também conversou com minha mãe. O ex-prefeito Arlindo Porto Neto me prometeu todo o apoio da Prefeitura Municipal. Muitas pessoas me incentivaram e eu, enfim, resolvi experimentar para ver como era”, diz Lara. Ela foi bem taxativa dizendo que participaria do concurso mas não abandonaria “por nada deste mundo” o curso de medicina da UFMG. Tudo foi muito rápido e decisivo. Lara disputou o título de Miss Minas Gerais com 35 candidatas tendo sido eleita por 45 pontos contra apenas 28 da segunda colocada Christiane Moreira Ferreira, uma bela morena de Pará de Minas.
SURPRESA – Quem achava que os atributos de Lara Lúcia ficariam apenas no âmbito estadual teve uma tremenda surpresa. Em abril de 1.988 ela rumou para São Paulo na condição de representante de Minas Gerais no concurso de Miss Brasil que, na ocasião, era promovido pela Sistema Brasileiro de Televisão (SBT). A disputa foi acirradíssima entre as 27 candidatas que concorriam ao título, e ela acabou ficando com o terceiro lugar, numa colocação bastante questionável. Na capa da Revista Manchete, a superioridade da patense ficou gritante. A morena Lara se destacou de forma incontestável sobre a candidata eleita, Isabel Cristina Beduschio, Missa Santa Catarina e a segunda colocada, Vanessa Victal, Miss Bahia, duas loiras de estatura mediana e traços conflitantes com os padrões de beleza da mulher brasileira.
O resultado final do concurso deixou muito a desejar e houve motivos de sobra para que se suspeitasse de uma trama. “Não me senti magoada, mas acho que houve política na coisa”, insinua Lara. Antes do julgamento, todas as candidatas foram convidadas a assinar um contrato de trabalho com o SBT. Lara Lúcia se recusou a endossar o documento. “Era um termo que nos obrigava a fazer 20 trabalhos para a emissora, mas não discriminava o qual seria o tipo desse serviço”, explica ela. Lara ficou com receio de ter de abandonar o curso de medicina para trabalhar para a emissora. A jurada Joice Bergman chegou a pedir desculpas a Lara depois do julgamento devido ao resultado do concurso. Joice Bergman talvez tenha sido instruída a não votar em Lara Lúcia pelo fato dela não ter assinado o tal contrato.
CARREIRA – Ao contrário das outras candidatas que vislumbravam uma oportunidade de alcançar o topo da carreira de modelo ou manequim, isso nunca passou pela cabeça de Lara. “Posar nua. Nem Pensar!”, esquiva-se ela ao tocar no assunto. Se tivesse ganhado o concurso, Lara teria de morar um ano em São Paulo e, logicamente, suspender por este período o curso de medicina da UFMG. “Eliminei tudo que pudesse atrapalhar meus estudos”, salienta. Ela afirma que não recebeu convites para posar nua para revistas masculinas, porque não deu oportunidades. “Eu corto na hora. Não aceito nunca. Minha criação foi muito rigorosa”, se exalta.
Para ela, o mais importante era formar-se em medicina. “Eu me vejo operando, acho que seria uma boa cirurgiã”, divaga, com um sorriso nos lábios. Dinheiro nunca foi problema para Lara, filha de família tradicional e economicamente estabilizada. Do pai, o empresário Lázaro de Matos, da A Construpatos, parece ter herdado o dom para o comércio. Ela é proprietária da Boutique Última Via e montou recentemente uma filial no Shopping. Da mãe, Lúcia Fonseca de Matos, a morena puxou os traços, os laços e espírito fraternal. Os valores dos prêmios que ganhou como Miss, Lara gastou comprando roupas. Na época, por iniciativa de empresários patenses, ela ganhou um carro zero de presente.
TEMA – Em 1.989, quando fazia o quarto período do curso de medicina, Lara abandonou a universidade. Ela ficou grávida e casou-se com o jovem empresário Carlos Magno Peres, com quem teve o filho Pedro, hoje com quatro anos. “Tudo o que eu faço, gosto de me dedicar ao máximo. Sou uma mãe coruja e não conseguiria ver meu filho numa creche o dia inteiro”, justifica sua opção por abandonar os estudos. O marido bem que a incentivou a terminar o curso de medicina, mas sentiu obrigada a optar por ser uma boa médica ou uma boa mãe, e não se decepcionou com a escolha que fez. “Voltei a estudar novamente. Estou fazendo o jardim de infância”, brinca Lara, lembrando que o filho já está na escola. Quanto ao curso de medicina ela ainda tem esperança de concluí-lo. Se tivesse continuado os estudos Lara teria formado no ano passado. “Se por acaso tiver o curso de medicina em Patos de minas eu volto a estudar, mesmo que eu esteja com 50 anos”, sentencia, a ex-miss.
Atualmente o tema de Lara é outro. Aos 25 anos de idade, a morena que conquistou o Brasil já não tem mais nenhum atrelamento com a agitação das passarelas. Gosta de andar de bicicleta, curte filmes de amor e adora qualquer tipo de música. “Só não gosto de samba porque não sei dançar”, observa. Emotiva, Lara enche os olhos de lágrimas para falar da coisa mais inesquecível que já aconteceu em sua vida: “Os olhos de Pedro na hora em que ele nasceu. Foi paixão a primeira vista”. Com a chegada do filho, o tema de Lara mudou, e ela garante que foi para melhor.
* Fonte 1: Texto publicado com o título “Um Pouco de Lara Lúcia” e subtítulo “Confira aqui alguns detalhes sobre a Miss Minas Gerais/88, que gosta de ciclismo, natação, ballet e leitura” na edição n.º 182 de 31 de março de 1988 da revista A Debulha, do arquivo do Laboratório de Ensino, Pesquisa e Extensão de História (LEPEH) do Unipam.
* Fonte 2: Texto de Simone Marques publicado com o título “O Tema de Lara” e subtítulo “Breve história da estudante patense que foi rainha por acaso, virou capa da Manchete e apaixonou-se por Pedro” na edição n.º 1 de 10 de julho de 1994 da revista Diga, do arquivo de Luis Carlos Cardoso.
* Foto 1: Fenamilho.com.br.
* Foto 2: Revista Manchete n.º 1879, de Produto.mercadolivre.com.br.