NO TEMPO DOS SELOS SEM COLA

Postado por e arquivado em CANTINHO LITERÁRIO DO EITEL.

Antigamente os selos dos Correios não tinham cola. Por isso, em mesas das agências havia o tradicional vidro com cola e um pincel para o remetente colar devidamente o selo, o que invariavelmente deixava a mesa respingada de cola, a fatídica goma arábica. Depois a coisa evoluiu um pouquinho e os selos surgiram com cola e que era necessário umedecer para pregar no envelope. Também tarefa exclusiva dos remetentes. E nessa, quantos e mais quantos lambiam o selo para executar o serviço. Mesmo assim os tais vidros com cola de goma arábica permaneceram para atender aqueles que não queriam lamber os selos e/ou para lacrarem os envelopes. Até que o trem evoluiu de vez e há muito os selos vêm com uma cola que não é preciso umedecer: é só destacá-lo de um papel próprio e pregá-lo no envelope, tarefa essa agora efetuada pelo atendente. E os tais frascos com cola goma arábica e um pincel ainda permanecem única e exclusivamente para os esquecidos que não lacraram o envelope. E tome mesa respingada de goma arábica.

Naquele tempo dos selos sem cola e o tradicional vidro com cola goma arábica e um pincel, foi quando o Zé resolveu enviar uma carta a um amigo de infância residente em Lagoa Formosa. Como nunca tinha enviado uma carta a ninguém, foi orientado que lá na agência seria orientado como fazer. Uma irmã que sabia um pouquinho sobre a coisa conferiu se no envelope estava tudo certo quanto ao nome e o endereço do destinatário na frente do envelope e o nome e o endereço do remente na parte traseira do cito envelope. E ajudou o irmão lacrando o envelope com cola.

Tudo certinho, com o envelope devidamente lacrado com cola, lá foi o Zé em direção àquela agência dos Correios na Rua José de Santana. Meio ressabiado e um pouquinho nervoso, chegou ao guichê. O atendente examinou o envelope, verificou o peso, constatou que o dito envelope estava com as informações necessárias para uma feliz viagem e feliz chegada ao destino e após receber a tarifa, orientou o Zé sobre o que fazer:

– Vá até aquela mesa onde tem um frasco com cola e um pincel e cole o selo. Depois, é só me entregar o envelope.

E o Zé se sentiu tranquilo, pois o trem era muito fácil. Assim, foi até a mesa, com o pincel passou cola no selo e o pregou, sentindo-se feliz por ter executado a tarefa com muita presteza. Com um sorriso de quem se considerou eficiente, voltou ao balcão de atendimento para entregar o envelope. No que ele, o atendente, pegou o envelope, perguntou ao Zé:

– Uai, moço, eu te disse para ir até aquela mesa onde tem um frasco com cola e um pincel e colar o selo. Cadê o selo?

E o Zé, tadinho:

– Uai moço, eu entendi direitinho que você falou pra eu ir até aquela mesa onde tem um frasco com cola e um pincel e colar o selo. Pois foi exatamente o que eu fiz: tá lá o selo pregadinho na mesa como você me disse pra fazer.

O que aconteceu depois? Não fiquei sabendo!

* Texto: Eitel Teixeira Dannemann.

* Foto: Montagem de Eitel Teixeira Dannemann sobre foto publicada em 06/06/2014 com o título “Antiga Rodoviária no Final da Década de 1970 − 1”.

Compartilhe