Já estive na moda, ó como estive! Nos idos tempos o prédio mais alto da Cidade era como eu, só de dois andares, com comércio embaixo e moradia em cima. Pode conferir, principalmente no Centro. Até que veio 1961 e foi um espanto: surgiu um monstro de seis andares¹. Cinco anos depois, apareceu outro². Foi uma loucura, uma revolução. Tanto, que depois dos dois demorou um pouquinho para surgirem outros. Será que foi por causa da ousadia? Sei lá, deixa pra lá, o que importa é que de alguns anos pra cá o trem voltou com força, estão surgindo edifícios quem nem mosca no melado, e eles não perdoam nada, não importando se é casa antiga, casa mais recente, pouco importa, de um dia para o outro o imóvel está demolido. Quanto a nós, predinhos antigos de dois andares como eu, é óbvio que não escaparemos dessa sanha destruidora, principalmente nós que não estamos no Centro. Falam daqueles do Centro e os que não estão lá, ninguém se lembra deles. Por um acaso você se lembra de mim, sabe que fui construído quando essas ruas nem eram asfaltadas³? Pois é, aqui no meu entorno já tem um monte desses malfadados e intrusos edifícios, disgranhentos edifícios que, vorazmente, vem nos consumindo. Pouco importa se já fui útil abrigando um mundaréu de almas, pouco importa se faço parte da História de Patos de Minas igualmente como aqueles lá do Centro. Ousarão, por uma acaso, demolir o prédio da Recreativa, o São Bento, o do antigo Cine Tupã, o do Ilídio, o Paranaíba, o Ponto Chic? Quero ver! Quanto a nós, ora, ousarão sim, com certeza, como dois mais dois igual a quatro. Pronto, já chega dessa papagaiada. O que importa é que, quando chegar a minha vez, deixarei saudade!
* 1: Leia “Edifício Alvorada”.
* 2: Leia “Retoques Finais no Prédio do Banco do Brasil”.
* 3: O imóvel localiza-se na esquina da Avenida Paranaíba com Rua Dr. Marcolino.
* Texto e foto (17/04/2022): Eitel Teixeira Dannemann.