PONTE RURAL VERSÁTIL

Postado por e arquivado em CANTINHO LITERÁRIO DO EITEL.

Nos idos da década de 1960, o povo das Comunidades de Posses do Chumbo e Café Patense, no Distrito de Chumbo, que até hoje o nome não pegou e ninguém se refere a Chumbo e sim a Areado¹, reivindicou a construção de uma ponte no Córrego das Posses porque considerava importante para a região principalmente pela possibilidade de se chegar à hoje BR-365 passando pela hoje conhecida Capela dos Bahianos. A realidade é que no ponto do citado córrego havia uma rusticíssima ponte de madeira que não suportava mais do que carros de bois sem carga.

Um grupo de pessoas das duas Comunidades procurou o então prefeito Pedro Pereira dos Santos para solicitar a construção da pequena ponte que seria muito útil a eles. O prefeito atendeu a todos com muita atenção e prometeu que a ponte seria construída com madeiramento suficiente para resistir décadas. Como a época era de chuvas, e naqueles idos tempos chovia pra caramba por aquelas bandas do Areado, quer dizer, do Chumbo, o prefeito prometeu que tão logo estiasse, a ponte seria construída.

No que estiou, o poder público enviou o pessoal para construir a ponte. Foram três meses de trabalhos e os comunitários acompanharam dia-a-dia. Terminada a obra, tratou-se da inauguração oficial, porque obra pública sem inauguração oficial com a presença de autoridades não é inauguração oficial de obra pública. Marcada a data, o prefeito não pôde comparecer por estar em Belo Horizonte em reunião com o governador Magalhães Pinto. Deslocaram-se para lá o vice-prefeito Genésio Garcia Roza e alguns vereadores e secretários. Após o discurso do Genésio e de um representante comunitário, o vereador Olegário Caetano Porto pediu a palavra. Depois de comentar sobre a importância da pequena, mas grandiosa obra, salientou:

– Essa ponte vai ser utilíssima para os vivos e para os mortos.

Todos os presentes se espantaram, muitos ficaram estupefatos e até preocupados. Houve um buchicho danado e até o Genésio ficou pasmo.  Foi então que o Olegário explicou:

– É que de um lado e do outro as comunidades têm cemitério e vai acontecer de alguma família ter que passar na ponte para transportar mortos de um lado para o outro. Por isso é que a ponte vai servir para os vivos e para os mortos.

Encerrada a solenidade, cada um pro seu canto, na vinda da chuvarada o córrego transbordou e levou a ponte, e depois disso, o que se sabe é que nada se sabe.

* 1: Pela lei provincial nº 2329, de 12/07/1876, e lei estadual nº 2, de 14/09/1891, é criado o distrito de Dores do Areado. Pela lei estadual nº 843, de 07/09/1923, o distrito de Dores do Areado tomou a denominação de Chumbo.

* Texto: Eitel Teixeira Dannemann.

* Foto: Montagem de Eitel Teixeira Dannemann sobre foto publicada em 06/06/2014 com o título “Antiga Rodoviária no Final da Década de 1970 − 1”.

Compartilhe