Demonstrando um amor imenso pela Sociedade Recreativa Patense, Antônio Felisberto Borges responde com carinho quando é perguntado qual o segredo da preservação do clube por mais de oito décadas e sua atual estrutura de sucesso: “é a afetividade”. “As pessoas têm um afeto especial pela Recreativa”, diz abraçando o portal de entrada do escritório e falando com o coração. Reconhecido como uma das melhores cabeças pensantes que já passaram por aqui, quando se refere ao significado da Recreativa, ele o faz com o coração e com emoção à flor dos olhos.
“Aqui estão as histórias de suas famílias, dos amigos, dos grandes momentos de suas vidas e por isso cuidam deste patrimônio comum a todos os associados”. Antônio Felisberto capta e descreve com muita clareza, o sentimento em relação ao clube que um dia presidiu e trouxe ideias extraordinárias. Ele sabe exatamente o que está dizendo, pois é conhecedor de mais de cinquenta países, quinhentas e seis cidades, sendo trezentas e vinte brasileiras.
Casado há sessenta e dois anos com Vera Maria Nogueira da Fonseca, Antônio Felisberto é uma pessoa que valoriza a família em primeiro lugar. Junto à sua mulher formam um par maravilhoso. Casados em julho de 1955, foram fotografados juntos uma semana após o casamento, na mesma rua que sua foto mais recente foi clicada pela Ana Maria.
Pai de seis filhos, sendo três casais: Ana Lúcia, pesquisadora da Embrapa em Cruz das Almas-BA; Carlos Antônio, engenheiro elétrico residente em Ribeirão Preto, funcionário da Toledo, fábrica de balanças; Júlia Márcia, professora aposentada pela Federal de Uberaba; Antônio Felisberto Júnior, engenheiro mecânico em Belo Horizonte; Juliana Borges, que mora em Uberaba e trabalha na Caixa Econômica Federal; Márcio Geraldo, o caçula, é engenheiro agrônomo e reside em Patos de Minas.
Antônio Felisberto nasceu em Patos de Minas em 1934 e até hoje reside no mesmo local onde nasceu. Filho de Octávio Borges, fundador da Recreativa, é bisneto do patriarca da família Borges que ficou em Formiga no século XIX, e muitos de seus filhos vieram para cá e trouxeram um dos mais famosos sobrenomes para esta terra. Tem o mesmo nome de seu bisavô. Ele diz que esse nome é muito comum em Portugal, país de origem da família.
Neto do quinto administrador da cidade de Patos de Minas, Bernardino Antônio Borges (1881 a 1883), Antônio Felisberto mantém a árvore genealógica da família bem atualizada, em um diagrama imenso colocado na parede de seu museu particular. A cada país que visita traz vários souvenires e guarda nesse museu. Lá ele guarda de forma ultra organizada sua coletânea de fotos, presentes e lembranças não só dos lugares que visitou mas também de todos os aspectos importantes que foi marcando sua vida.
Em 18 de novembro de 1967, foi eleito com 100% dos votos válidos na assembleia, formada por 430 votos que foram dados unanimemente para toda a sua diretoria. A sua gestão irá ocorrer no ano de 1968, quando foi reeleito para o período de 1969. Sua primeira diretoria ficou assim composta:
Presidente, Antônio Felisberto Borges; Vice-presidente, Lázaro Pereira da Cunha; Primeiro Secretário, Josalfredo Caixeta (Boy); Segundo Secretário, Abel Pereira Borges; Tesoureiro, Geraldo Caixeta de Melo; Comissão de Contas: Alino Caixeta de Castro, João Batista Borges de Andrade e Olímpio Borges de Queiroz; Suplentes: Olímpio Ferreira Leite, Urbano Augusto de Queiroz e Vicente Borges.
A posse se deu em 08 de dezembro de 1967 com a mesa presidida por Ilídio Pereira. A saudação foi do farmacêutico João Gualberto de Amorim Júnior (Zico Amorim). Em seguida falou o novo presidente, saudando os diretores que se despediam e fez um discurso cheio de otimismo e esperança. Nesse mesmo dia, Geraldo Caixeta de Melo fez uso da palavra para agradecer a doação de NCr$ 52,80 enviado pelo clube para a Conferência de Santo Antônio.
Foi sob sua liderança que surgiu a ideia de se fazer um clube moderno, com piscina transparente e tudo o mais no local onde é o Banco Itaú hoje. O projeto foi desenvolvido por uma patense, a arquiteta Dra. Freusa, numa visão de vanguarda para a época. A ideia foi uma somatória de sugestões dos próprios diretores. João Lucas Borges também era arquiteto e fez sugestões. Mas foi a Dra. Freusa, que é da família Mourão, quem deu a ideia principal para o projeto.
Ali onde hoje é o Banco Itaú e o Sacolão seria utilizado para fazer um clube de três andares, para fazer a transferência do prédio da Recreativa para o local, pois a estrutura do clube já estava pequena para atender a demanda de pessoas. A biblioteca fora deslocada para trás do salão de jogos para ganhar espaço. Desta forma o salão foi ampliado, quando a entrada era pela Rua Major Gote.
Nesse período, a presidência era eleita para um ano de mandato. Antônio Felisberto era Coletor Federal em Patos de Minas, cargo de influência junto ao governo federal. Por ter que se transferir para Uberaba, deixou a presidência, ajudou mais alguns presidentes e em 1972 se muda.
O projeto sonhado consistia em um prédio muito bom, com a possibilidade de ser feito por financiamento. No entanto, o clube tinha pouca gente para assumir o papel de fiador. Receosos de fazer empréstimos, começaram a vender cotas do novo clube com a garantia ao comprador para usar o clube que já estava em funcionamento. Uma quantidade razoável de quotas foi vendida, que no seu entender não foram muitas. José Paschoal Borges sempre tinha sido um companheiro de primeira hora e apoiou todas as atitudes do presidente. Na realidade foi um braço direito de Antônio Felisberto em todas as ações tomadas. Foi o coordenador da venda das cotas. Quando verificou-se a impossibilidade de fazer o novo clube, as vendas foram paralisadas, e então começou a alugar o imóvel para compensar a perda de aluguéis aqui do prédio antigo. Nesta época uma parte onde se localiza o Café Expresso, foi vendida para ajudar a quitar a compra do terreno da esquina da Major Gote com Tenente Bino, propriedade de Nair Amorim. Havia outra loja, ao lado do bar, chamada Balalaika, que vendia calçados, antes da entrada antiga do clube.
O que realmente dificultou a construção do novo prédio é que na hora de conseguir o financiamento, o patrimônio dos sócios não era suficiente para garantir o empreendimento. A equipe responsável pela comercialização das cotas tinha muita credibilidade e trabalhou muito bem. Portanto, nem as vendas foram suficientes e nem o patrimônio alcançava o valor para avalizar a construção.
Outro fator que influenciou o recuo da empreitada foi a mudança de Antônio Felisberto para Uberaba, que tinha uma Delegacia da Receita Federal, enquanto que a unidade de Patos era apenas uma Agência da Receita Federal. Foi lá em Uberaba, onde chegou a ser Delegado da Receita Federal, que concluiu seu curso de Direito. Formou-se também em Economia, Administração de Empresas e Ciências Contábeis e foi convidado para ser professor na Faculdade de Economia. Foi convidado para ficar seis meses como professor, acabou ficando quatorze meses. Em Patos de Minas estudou na Escola de Dona Madalena, no Grupo Escolar Marcolino de Barros, foi aluno e professor de Direito Comercial do Colégio Professor Sílvio de Marco, em substituição ao Dr. Dácio, que teve compromisso com a prefeitura e não pôde continuar como professor daquela escola.
A convite do prefeito Antônio do Valle Ramos, retornou a Patos de Minas para participar da fundação do Instituto da Previdência Municipal (IPREM), sendo o seu Superintendente. O prefeito seguinte, Jarbas Cambraia, o convidou para a administração quando então foi criado o controle geral da prefeitura. O UNIPAM o convidou para ser professor por apenas seis meses. No final, ficou quatorze anos, onde lecionou Direito Tributário, Direito Administrativo e Finanças Públicas. Em 2004 se aposenta por problemas de audição, se mudou para o Rio de Janeiro e atualmente reside em Belo Horizonte.
Presidente da Recreativa durante o período mais duro do regime militar, como agente da receita federal, repassava as informações sobre as pessoas do clube. Eram as melhores possíveis. Com emoção diz que os associados da Recreativa sempre se distinguiram pelo seu amor à Pátria, pela religiosidade e não promovia nenhum movimento negativo ou contrário ao regime.
Membro da ADESG − Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra, onde estudou por curto período na sede da Urca. Pertence a essa associação desde quando residia em Uberaba, quando foi convidado a participar pelo destaque que alcançou como aluno da escola. Também foi Escoteiro da turma de 1947 e tem muito orgulho disso. Logo após a Segunda Guerra Mundial, foi criado o escotismo no Brasil. Antônio Felisberto participou do núcleo aqui em Patos de Minas. Foi um aprendizado importante, criado por aqueles que participaram da guerra, que ensinavam a ser amigo de todos e estar sempre alerta. Com emoção diz: “isso não fugiu de mim, sempre alerta”. E faz o gesto de continência com os três dedos sobre a lateral da testa: “Até hoje, com 83 anos de idade, continuo um garoto sempre alerta”.
Antônio Felisberto Borges faz parte da galeria das pessoas mais ilustres da Sociedade Recreativa Patense a quem ele ama de todo coração, por ser parte de sua família e por compor os valores de seus princípios de amor à Pátria e ao próximo. Uma verdadeira lição de honra e dignidade. Um exemplo legítimo para as atuais e futuras gerações.
* Fonte: Recreativa: Uma Jovem Acima de 80 Anos (2018), de Dennis Lima.
* Foto: Do texto “Antônio Felisberto Borges até 1980”.