Já com os filhos criados e não mais suportando a barulheira das motos o dia todo, de noite e de madrugada, Mathias e Maria Alice resolveram se mudar de Patos de Minas para a roça em busca de uma vida mais saudável. Gastaram um mês procurando um pedacinho de chão até que encontraram uma fazendinha à venda, do jeitinho que eles queriam, menos de trezentos metros do Rio Espírito Santo, pouco depois da entrada da comunidade dos Vieiras, à esquerda.
Não demorou muito resolveu comprar quatro vacas de leite com a aprovação da esposa, dos filhos e dos netos. Todo final de semana a família se reunia na fazendinha para saborear os deliciosos queijos produzidos pelo vovô e os doces de leite preparados pela vovó. E ainda por cima se divertiam em pescarias no rio.
Como o Mathias não tinha muito conhecimento sobre conservação de pastos, o seu tinha se degradado. Numa andança pela beira do rio, notando que o pasto do outro lado estava apetitoso, resolveu levar suas quatro vacas até lá. Mas, ao chegar à beira do rio, ficou na dúvida se ele era ou não muito fundo. Então teve receio e ficou esperando a coragem chegar. Enquanto ele matutava, veio em sua direção um garoto de uns doze anos com uma varinha de pesca na mão. O Mathias não perdeu tempo em perguntar:
– Você sabe se esse rio é fundo?
O garoto não pestanejou em responder:
– Sei não senhor, só sei que uma vez por semana meu pai atravessa sua criação aí e a água bate no peito.
Dito, o garoto procurou seu canto para pescar e o Mathias, todo animado, enxotou as quatro vacas para dentro d’água. Não deu cinco segundos as vacas começaram a afundar. Foi um sufoco, o Mathias gritando, as vacas se esforçando para manterem as cabeças fora d’água. Sorte que a correnteza era fraca e poucos metros adiante o rio formava um canal por causa de um banco de areia, oportunidade que os animais tiveram para se salvarem. Foi um alívio para o Mathias. E lá foi ele tomar satisfações com o garoto:
– Seu moleque, você disse que a água bate no peito da criação do seu pai. Que raio de criação é essa?
– Sem nem olhar para o Mathias, o garoto responde:
– Marrecos.
Foi uma trabalheira danada para o Mathias tirar as suas quatro vacas do banco de areia.
* Texto: Eitel Teixeira Dannemann.
* Foto: Montagem de Eitel Teixeira Dannemann sobre foto publicada em 06/06/2014 com o título “Antiga Rodoviária no Final da Década de 1970 − 1”.