BABESIOSE CANINA

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É causada por um protozoário do gênero Babesia, que produz destruição dos eritrócitos. A severidade da doença pode variar de assintomática a fatal. A anemia hemolítica é a marca principal da infecção e complicações envolvendo diversos órgãos como fígado e rins podem ocorrer. Foi descrita pela primeira vez por Piana & Galli-Valerio em 1895, na Itália, em cães com febre e icterícia. O primeiro relato nos Estados Unidos foi feito por Eaton, em 1934. Estudos prévios baseados em métodos sorológicos demonstraram que a doença está presente em várias regiões do Brasil, transmitida pelo “carrapato marrom do cão”, o Riphicephalus sanguineus.

O ciclo biológico da Babesia no hospedeiro vertebrado ocorre unicamente no interior das hemácias, com o parasito se dividindo assexuadamente. No carrapato ocorre a reprodução sexuada, com fusão de gametas no interior das células intestinais e formação de um zigoto móvel, alongado, conhecido como esporocineto. Este invade a hemolinfa do carrapato, alcançando todos os órgãos, onde se multiplica. Nas fêmeas, os esporocinetos presentes no ovário atingem seus ovos e a larva nasce infectada. Quando a larva começa a se alimentar, os parasitos migram para a glândula salivar e vão sofrer novas divisões e transformações, com a formação de esporozoítos. A transmissão de Babesia se dá pela inoculação de esporozoítos (forma infectante) durante o repasto sanguíneo de carrapatos. Este necessita ficar fixado no cão por no mínimo de 2 a 3 dias para que a transmissão ocorra.

Acredita-se que a anemia hemolítica é responsável pela maioria dos sinais clínicos. O mecanismo exato é desconhecido e a teoria mais comumente aceita é que este tipo de anemia é devido a antígenos solúveis do parasito aderidos na superfície das hemácias através de anticorpo ou hemólise mediada por complemento. Número reduzido de plaquetas (trombocitopenia) é outra manifestação comum. A patogenia está relacionada com a ação hemolítica, intra e extravascular, variando com a espécie de Babesia, com a cepa, dose infectante, imunidade e idade do hospedeiro vertebrado. O sistema imune parece não ser capaz de eliminar completamente a infecção e animais que se recuperam da primeira infecção normalmente se tornam portadores crônicos do parasito. Esta resposta imune de proteção não previne a reinfecção, mas diminui o grau de parasitemia, morbidade e mortalidade quando os animais são reexpostos ao parasito.

O aumento da destruição de hemácias, intravascular e pelo sistema fagocítico mononuclear, leva a uma sobrecarga hepática. Ocorre congestão hepática e esplênica e hiperplasia do sistema fagocítico mononuclear, com consequente aumento do baço e do fígado. O aumento da formação de bilirrubina, devido a maior destruição de hemácias leva a um acúmulo de bile e consequente distensão da vesícula biliar. A liberação de pirógenos, devido à destruição das hemácias, leva ao quadro de febre, que pode ser bastante elevada. A anóxia anêmica pode levar a um metabolismo anaeróbico e acidose metabólica. Devido a hemoglobinemia ocorre uma hemoglobinúria e o depósito de pigmento férrico, aliado a anóxia tissular, podem levar a nefropatias. A lesão renal pode ser mais acentuada em animais velhos. Atualmente sabe-se que diversas citocinas desempenham papel importante na patogenia da babesiose.

Podemos suspeitar de babesiose canina sempre que observamos cães, principalmente jovens, com apatia, anorexia, febre e histórico de infestação por carrapatos. Entretanto, como esses sinais são inespecíficos, devemos realizar exames laboratoriais para confirmarmos a suspeita clínica. O diagnóstico definitivo depende da demonstração dos parasitos em hemácias infectadas, amplificação de DNA de Babesia extraído de sangue infectado ou tecido, ou resultados de sorologia positivos. Poucas drogas são capazes de eliminar por completo os parasitos sendo o diminazeno a droga comumente usada em todo mundo.

A prevenção da babesiose é importante para o controle e diminuição da ocorrência da doença. A primeira medida de prevenção é o controle do vetor carrapato. Devem ser feitas inspeções frequentes da pele e do pelo do animal em busca de carrapatos e retirá-los, pois eles necessitam de no mínimo 2 a 3 dias de alimentação no animal para transmitir o parasito. O ideal é sempre usar um carrapaticida. Há uma vacina produzida a partir de cultivo celular com exoantígenos de B. canis com uma eficácia de 70 a 100%. A vacinação não previne a infecção, mas parece bloquear o início de muitos dos processos patológicos envolvidos na patogenia da doença. As vacinas podem limitar a parasitemia, anemia e o desenvolvimento de esplenomegalia. A Babesia pode ser transmitida por transfusão, por isso é importante ter controle dos animais doadores de sangue fazendo testes sorológicos e retirando os soropositivos do programa de doação.

* Fonte: Infecções Causadas por Hemotozoários em Cães e Gatos de Ocorrência no Brasil: Semelhanças e Particularidades (2007), de Elusa Santos de Andrade.

* Foto: Br.pinterest.com.

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