PEDRO E O PSICÓLOGO − 2/5

Postado por e arquivado em CANTINHO LITERÁRIO DO EITEL.

– Pelo visto a Janaína tem muita importância na história.

– E como! Aquele tremendo mulherão está acabando com minha saúde.

 – Explique.

 – O senhor devia ter me visto uns cinco meses atrás. Agora estou pálido e fraco de tanto tentar satisfazer aquela morenaça. Doutor, ela tem uma caldeira permanentemente acesa dentro dela, não cansa nunca. A coitada da Daura até já me disse para ir a um Médico. Ainda mais depois dessas caganeiras. Bem, isso eu fiz, pois estou aqui, né?

– Toda esta estripulia não prejudica seu relacionamento sexual com a sua esposa?

– De vez em quando. Ontem mesmo, depois de três horas deliciosas com a Soraia, fui chegando em casa e me deparei com a mulher toda dengosa com um robe meio transparente. Olha doutor, falo sinceramente, mas a Daura não é de se jogar fora não. Aí, sabe como é, respirei fundo e mandei bala. Foi difícil acordar no outro dia. Eu estava um bagaço.

– Pedro, quem é Soraia?

– É um de meus casos, doutor. Ontem, por uma coincidência, encontrei-me com ela na esquina da Major Gote com a Olegário Maciel. Aí, sabe como é, um mulherão danado, toda sorridente pra mim, me perguntando o que eu ia fazer naquela noite… não deu outra. Pimba!

– Vamos ajeitar as coisas. Você disse lá atrás que seu desarranjo intestinal se iniciou por causa da Candinha. Mas estou percebendo uma série de fatores que poderiam ter desencadeado seu problema intestinal, como a sensação de ter seu romance secreto descoberto pelo marido, o caso com a Janaína e as outras mulheres e o próprio ciúme da Candinha, além…

– Na mosca, doutor, o ciúme da Candinha tá me matando, pois ela ficou sabendo da Janaína e está pronta para botar a boca no trombone.

– Como assim?

– A Candinha esta doidinha de ciúme, doutor. Na semana passada ela me disse que se eu continuar a me encontrar com a Janaína ela vai contar tudo pra Daura.

– É realmente uma atitude drástica que pode lhe causar uma série de transtornos. Tragicamente, pode acabar com os dois casamentos.

– Mas é claro, por isso minha cabeça está a mil e meus intestinos estão derretendo. Ái doutor, por falar nisso, me mostre, pelo amor de Deus, onde é o banheiro. Lá vou eu de novo.

Após o paciente acalmar seus intestinos, o Psicólogo informou-lhe que seu horário chegara ao fim. O bate-papo então continuou numa outra consulta, uma semana depois. Desta vez, a espera na recepção foi mais curta: 34 minutos.

– Tudo bem, Pedro?

– Está melhorando, principalmente porque o atendimento hoje foi mais rápido que o anterior.

– Pois bem, vamos dar continuidade à nossa conversa. Deixe-me conferir os apontamentos. Vamos lá: a Candinha ameaçou contar tudo, certo?

– Não gosto nem de imaginar uma coisa dessas acontecer. Ela vai acabar com o meu casamento e com o dela.

– Entre a consulta anterior e esta houve algum acontecimento marcante?

– De bom foi o Jorge ter se acalmado um pouco, pois armei uma boa para cima dele.

– Armou uma para cima dele? Conte-me como foi isso.

– Eu sou danado mesmo! Articulei uma reunião na empresa com um pessoal que está querendo lotear um grande terreno ao lado do Rio Paranaíba e eu não quero nem saber quando houver a primeira enchente. A Candinha, como sempre, avisou ao Jorge da reunião. Só que, desta vez, disse que ia chegar bem mais tarde que o costumeiro. Então o Jorge se irritou mais do que nunca e começou a falar um monte de baboseiras. Como combinado, a Candinha então disse de prontidão: por um acaso você está insinuando alguma coisa? Como o Jorge disse que sim, ela então o convidou para ir à empresa para ver o que estava fazendo comigo. E num é que o Jorge foi mesmo. Quando ele entrou bufando na sala de reuniões lá pela meia-noite, ao invés de me encontrar aos abraços com a Candinha, o que foi que ele viu? Claro, uma autêntica reunião. Coitadinho dele, quebrou a cara.

– E por causa desse fato ele se acalmou?

– É, a Candinha disse que quando ela chegou em casa o Jorge estava calminho de tudo. E ainda por cima pediu desculpas por ter desconfiado de sua fidelidade. É besta o homem, não? Esta ceguinho!

– Quer dizer que este foi o bom acontecimento?

– Claro, doutor, é menos um aborrecimento, mas a Candinha esta uma fera comigo. O senhor acredita que ontem à noite ela foi até a casa da Janaína? A sorte é que a tia dela não estava em casa. Se tivesse, a confusão seria maior ainda.

– Tia de quem?

– Depois da morte da mãe, a Janaína se desentendeu com o pai por causa das mulheres que ele estava levando pra casa, e por isso está morando com uma tia, que também é viúva e não tem filhos.

– Interessante.

– Só se for para o senhor. Aliás, não gostei do comentário. O senhor está me gozando?

– Imagina, eu disse que é interessante porque é mesmo. Este encontro trouxe algum transtorno ao caso?

– A maior confusão, e para falar a verdade, estou ficando numa sinuca de bico.

– O que aconteceu no encontro das duas?

– As duas tiveram uma tremenda briga. A Janaína disse que agora ela era a minha amante. A Candinha foi logo retrucando dizendo que a amante era e ia continuar sendo ela. Vai daí que a briga foi inevitável. A coisa só não se complicou porque a Candinha foi embora antes da vizinhança chamar a polícia. Imediatamente as duas me ligaram. Para piorar tudo, naquela noite esqueci meu celular na mesa da sala lá de casa, pois eu cheguei com uma caganeira brava e fui deixando tudo pela casa. No que ele tocou, adivinha quem atendeu?

– A sua esposa.

– Na mosca. Doutor, gastei duas horas para convencer a Daura que aquelas mulheres eram funcionárias da empresa que estavam com problemas familiares e por isso estavam chorando. Ainda bem que elas não falaram os nomes verdadeiros, porque a Daura conhece bem as duas.

– A sua esposa conhece também a Janaína?

– Doutor, a Janaína tem 17 anos e é filha do vigia noturno lá da empresa. Por isso eu disse que foi graças a Deus que a tia dela não estava em casa. Já pensou a Candinha descobrir que a Janaína é filha do Humberto?

– Humberto é o vigia noturno?

– Ele mesmo.

– Mas como foi que a Candinha descobriu que você está de caso com a filha do Humberto?

– A Janaína, antes de brigar com a pai, ia muito na empresa. Ela tem só 17 anos, mas é um mulherão. E quando eu vi pela primeira vez aquela morena, gamei. Ai então eu a contratei para servir cafezinho aos clientes. Não deu outra. Não sai da minha cabeça o nosso primeiro encontro. Um belo dia a Candinha me pegou fazendo uns afagos na morena. Disfarcei dizendo que estava ensinando a ela bons comportamentos. Mas acho que não colou. Tanto que a confusão aconteceu.

– Pedro, a Janaína, além de menor, era virgem?

– Virginha de tudo, doutor, um troço de doido.

– Você pode se meter numa grande enrascada por estar tendo um caso com uma menor, sabia?

– Perái, doutor, esta a fim de me denunciar?

– Você sabe muito bem que não se trata disso. A realidade é que a sua atitude pode realmente lhe causar dissabores policiais se vier a público.

– Me dá caganeira só de pensar nisso.

– E o pai, sabe do caso da filha contigo?

– Nem passa pela sua cabeça.

– E a tia?

– Que tia?

– A tia da Janaína, ela sabe de alguma coisa?

– Ela é irmã do Humberto e também nem sonha como é fogosa a sobrinha.

– Como você está fazendo para o caso continuar às escondidas?

– Bem, a Janaína está brigada com o pai, que por isso deixou a menina com a tia. Quando vamos nos encontrar, ela diz, simplesmente, que vai dar uma saidinha. Com ela, nunca fico até tarde, justamente para a tia não criar caso. É no máximo até dez horas da noite.

– Você disse que a Candinha está uma fera contigo. Ela continua com a ideia de contar tudo?

– Ah! doutor, a coisa piorou, agora ela botou na cabeça que vai se separar do Jorge e que eu tenho que me separar da Daura para a gente se casar. Pode?

– É esta a atitude que geralmente tomam as amantes.

– Mas tinha de ser comigo?

– Meu caro Pedro, você está todo enrolado por culpa sua e ainda está achando que é um azarado?

– Mas doutor, o que eu devo fazer?

– Quer mesmo minha opinião?

– Claro! Por que acha que estou aqui? E olha que cada sentada neste sofá duro que nem pedra custa bem carinho, hêim!

– Você ama sua esposa?

– Ah!, tem dó, doutor.

– Responda, Pedro, você ama sua esposa?

– Mas claro que amo. A Daura é uma mulher maravilhosa, uma mãe perfeita.

– Estes relacionamentos extraconjugais, principalmente com uma menor, não lhe causam nenhum tipo de ressentimento em relação ao amor que você diz sentir pela sua esposa?

– É doutor, para falar a verdade, de vez em quando fico meio ressabiado. Afinal de contas, a Daura é uma esposa maravilhosa.

– Se você demonstra constrangimento nestes relacionamentos, que tipo de sensação o faz procurá-los?

– Sei lá. Ou sei? Bem, eu já disse isso, a grande verdade é que sou louco por mulher, entendeu?

– Sim, entendi, mas a sua esposa não é uma mulher?

– Êpa, esta me estranhando ou está estranhando a Daura, doutor?

– Se você é louco por mulher, e a Daura sendo uma esposa maravilhosa como você mesmo disse, por que este impulso por outras mulheres?

– É, mas… realmente a Daura é uma esposa maravilhosa, mas… sabe como é, doutor, ela não… como vou dizer, ela não é muito… digamos, fogosa que nem a Janaína, a Candinha, a Soraia e outras tantas. A verdade, e eu já disse, é que sou louco por sexo, mas como a Daura não consegue me acompanhar, o jeito é apagar meu fogo fora de casa. Fui claro?

– Muito claro. Agora responda-me: como você faz para conciliar seu tempo entre trabalho, amantes, casos e família?

– É muito complicado. Por enquanto, estou conseguindo levar a coisa. Só que agora complicou. Já imaginou se a Candinha bota mesmo a boca no trombone? E se ela realmente se separar do Jorge, estou lascado, doutor.

– Já passou pela sua cabeça esquecer por uns tempos suas amantes e casos?

– Nunquinha! Você está querendo que eu crie calos nas mãos? Sai para lá, jacaré!

– Pedro, você tem que assimilar a ideia de que um dia a casa vai cair. E quando isso acontecer, não vai ser fácil você se levantar. Pelo menos, preocupe-se por causa da menor.

– Vire essa boca para lá, doutor, estou precisando é que o senhor me ajude a resolver este problema e não ficar dizendo ai que vou me complicar.

– Pedro, estou tentando te ajudar o máximo possível. Este desarranjo intestinal que o atormenta diariamente é fruto de todo o estresse que lhe acometeu a partir do momento em que a Candinha ameaçou relatar o seu caso amoroso com ela. O que você precisa é se acalmar e procurar um Andrologista.

– Andrô o que?

– Andrologista, Pedro, é um profissional Médico especialista no aparelho reprodutor do homem.

– Que é isso, doutor, o senhor está ficando louco? Não tenho nada na ferramenta. Ela está funcionando que é uma beleza. Se quiser saber, pergunte para a Janaína, a Soraia, a Candinha…e até mesmo para a Daura.

– Calma, Pedro, você precisa mesmo procurar este profissional para que ele possa identificar o fator que está causando-lhe tanto desejo sexual.

– Pra que?

– Justamente para que ele possa diagnosticar a causa para você voltar a ter um comportamento sexual normal.

– É doutor, tô achando que o senhor pirou mesmo. Por um acaso gostar de mulher como eu gosto não é normal? Qualé a sua, doutor, esta me estranhando?

* Texto: Eitel Teixeira Dannemann.

* Foto: Wdrfree.com, meramente ilustrativa.

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