DEIXAREI SAUDADE − 119

Postado por e arquivado em 2020, DÉCADA DE 2020, FOTOS.

Os humanos não sabem que nós, imóveis, começamos a nos sentir existentes quando os primeiros tijolos são assentados. Assim, logo de cara percebi aquela escola à minha frente. Senti-me feliz, ora, surgir em frente a uma escola¹, e que não era uma escola qualquer, foi bão demais da conta. E quando eu já habitada, quando essa rua cascalhada ainda era conhecida como Irmão Exuperâncio², a cada dia apreciava aquela movimentação da juventude em direção ao saber. Naquele tempo tinha poucos carros e dava para ouvir a alegria da meninada quando chegava ao pátio da entrada com aquele chafariz bonito. Então, a Cidade cresceu e depois que asfaltaram essa rua o número de carros ficou medonho. E lá se foi o chafariz, para acomodar os carros. As transformações no Colégio foram inúmeras, assim como no meu entorno. Minhas semelhantes foram e estão sendo substituídas por edifícios. Por aqui, dentro de mim, recentemente houve a viagem de uma alma para o além. Foi triste, senti muito, mas a vida segue e hoje, com a zoeira do trânsito, principalmente das demoníacas motos ensurdecedoras, já não ouço mais a voz dos estudantes. É muito barulho, incluindo as máquinas construtoras dos imóveis do progresso. Estou na minha, reparando ao máximo a visão daquela instituição de ensino, essa sim, ninguém mexerá. Mas eu, tanto quanto as minhas semelhantes, um dia daremos lugar ao novo. E eu vou, sabedora que pertenço à História de Patos de Minas, e, indubitavelmente, deixarei saudade!

* 1: Colégio Marista.

* 2: O trecho da via entre a Praça Champagnat e o Caiçaras era conhecida como Irmão Exuperâncio. Pela Lei n.º 1722, de 11 de agosto de 1980, ela foi definida como continuação da Rua Major Gote.

* Texto e foto (26/04/2020): Eitel Teixeira Dannemann.

Compartilhe