Eu já me questionei inúmeras vezes sobre as vantagens do progresso. As almas que me habitam conversam rotineiramente sobre isso, principalmente quando chove. E quando cai chuva um tantinho só de forte, mesmo por poucos minutos, é um pandemônio, pois a rua¹ se transforma numa autêntica cachoeira e muita água já veio parar em minhas entranhas, para desespero dos meus donos. Aliás, já é famosa na Cidade a cachoeira dessa rua, um peteco disgranhento que ninguém consegue dar fim. No tempo em que fui construída havia poucas casas por aqui, havia grandes descampados que absorviam bem a água. Aí então veio o tal progresso, desordenado, foram asfaltando as ruas sem as devidas redes pluviais. Deu no que é hoje, e é só o céu enegrecer para o povo dessa região tremer. E a coisa só vai piorar, pois com as casas perdendo espaço para os edifícios, vão-se os quintais, vai-se a terra e vem o cimento e o asfalto. E tome cachoeiras e estragos.
Para falar a verdade, o que me preocupa em relação ao progresso não é a rua cachoeira. Quem sofre são meus donos, eu nadinha. O que me causa agonia e desesperança em relação ao progresso é reparar nas transformações ao meu entorno. A característica principal do progresso relacionado a imóveis é o danado crescimento vertical. O povo vai nascendo, a população aumentando e começa a faltar espaço. A solução? Ora, é só derrubar a casa antiga e tacar um edifício no lugar! E assim o rolo compressor vai passando por cima de nós sem piedade alguma. Eu já estou com as barbas de molho há muito tempo. O que já ouvi falar sobre negociações de casas por aqui fazem minhas paredes trincarem de emoção. Escancarando a realidade, sinto-me na condição do sujeito com câncer terminal só esperando o seu dia do juízo final. É a vida, que sempre será buscada pela morte. Pelo menos tenho consciência de que faço parte da História de Patos de Minas. E no dia em que eu partir para o além, deixarei saudade!
* 1: O imóvel localiza-se à Rua Tomaz de Aquino, n.º 129, entre suas colegas Ibrahim Pereira e João Maria de Souza, no Bairro Rosário.
* Texto e foto (09/02/2019): Eitel Teixeira Dannemann.