DEIXAREI SAUDADE − 174

Postado por e arquivado em 2021, DÉCADA DE 2020, FOTOS.

Se existe milagre, não sei, mas deve existir, só pode, quem sabe por eu estar aqui ao lado da Igreja do Rosário¹. Mas que milagre é esse? Gente do céu, alói, fui erguida lá pras bandas de década de 1920 ou sei lá se lá vai fumaça antes disso. Não me recordo de jeito algum, só sei que sou antiga demais da conta. Quando eu falo em milagre por ainda estar de pé sendo tão anosa assim, é só olhar em volta de mim e reparar nos disgranhentos edifícios. Por essa redondeza ainda tem muitos imóveis do passado, mas, óbvio, não tão antigos como eu… deixa pra lá, isso não vai alterar absolutamente nada a minha sina. Por que eu disse sina? Porque, sinceramente, mesmo com a vizinha Igreja, não vai ter solução para mim. Ora, ela está salva, ou vai ter alguém com a autoridade para derrubá-la? Nunca, nunquinha! Enquanto eu, tadinha de mim, velhinha e que aconcheguei tantas almas, nessa modernidade com adendos à minha originalidade sou apenas um bar, nada mais que um bar, à espera de que um dia as máquinas cheguem para me derrubar. Ô angústia, ô danura, ô trem mais ruim do mundo de presenciar todas essas mudanças e eu não poder fazer absolutamente nada para escapar da degola. Não tem jeito, mais dia ou menos dia chegará a minha vez de entrar para a História de Patos de Minas, e, mais do que evidente, deixarei saudade!

* 1: Na esquina na Avenida Paracatu com a Travessa Maria Inês de Jesus. Leia “Avenida Paracatu na Década de 1920”.

* Texto e foto (25/07/2021): Eitel Teixeira Dannemann.

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