Não sei de mais nada, estou em frangalhos. É como uma gangrena, uma lepra que está consumindo meu corpo paulatinamente. Resta pouco de mim, só minha parca consciência ainda me permite vislumbrar o passado de muita poeira na seca e muito barro nas chuvas, verdadeiros atoleiros produzidos pelos carros de bois. Sim, no meu tempo de jovem ouvi muito o ranger das rodas. Agora, olhe para meu corpo, veja o que fizeram comigo depois de tanta utilidade. Nada mais importa, estou prestes a encerrar o meu ciclo de vida, quando eu for ninguém mais se lembrará de mim, a não ser as consciências que me habitaram. Vou em paz, e mesmo não sendo reverenciada como os casarões da elite, jamais deixarei de fazer parte da História patense. Preste muita atenção nesta esquina, Avenida Brasil com Rua Paraná. Aqui era o fim da cidade, ou ainda o começo da cidade, tanto faz como tanto fez, aqui era fim ou o começo de tudo para mim. É neste endereço, sem teto e sem adereço, onde eu humildemente espero o meu fim. Repare bem este corpo esgarçado, pois brevemente você não me verá mais. E que meu vizinho aí ao lado se prepare também. Este verso da música “Peso dos Anos”, de Walter Rosa e Candeia, fala por mim: Sinto que o peso dos anos me invade, vejo o tempo entregar à distância minha mocidade. Oportunamente partirei abandonando as coisas naturais, mas deixarei saudade. Com certeza, e assim vou para a eternidade!
* Texto e foto (01/11/2016): Eitel Teixeira Dannemann.