Não bastasse a minha longa solidão, a enorme saudade do Cel. Arthur Thomaz de Magalhães e sua família com toda aquela agitação diária, agora um novo dilema me atormenta. Sinto tétricos calafrios nas minhas estruturas já abaladas pelo tempo. Tenho pressentimentos os piores possíveis. Já vi este filme: um casarão antigo anoitece e não amanhece, só restando os entulhos. E não foi um só.
Na semana que passou… ou foi antes… desculpem, minha memória está um pouco fraca. Só sei que me vi assustada com máquinas fazendo uma severa faxina em meu quintal. Deixaram meu quintal sem nada, sem um matinho sequer. Pra que isso? Depois me apavorei com a placa estacada no portão de entrada: estacionamento! Então agora meu quintal é um estacionamento? E eu, qual será minha serventia além de não servir para nada? Eu, que aconcheguei o Cel. Arthur, eu, que já pertenço à História de Patos de Minas, eu, que sou uma das mais nobres casas da Avenida Getúlio Vargas, lá no n.º 180, viverei agora apreciando carros parados em meu quintal?
Pavor, tristeza, conheço como a coisa funciona. Sim, estou sentindo nas minhas entranhas, meus tijolos rangem, um a um, sem exceção. Sim, estou pressentindo o meu destino. Não vai demorar muito e todos me acusarão de estorvo ao estacionamento, vão me acusar de atrapalhar o inexorável progresso. Depois de anos e anos de solidão, sinto o meu fim. É questão de tempo. De repente, veio-me à mente este verso da música “Peso dos Anos”, de Walter Rosa e Candeia, que fala por mim: Sinto que o peso dos anos me invade, vejo o tempo entregar à distância minha mocidade. Oportunamente partirei abandonando as coisas naturais, mas deixarei saudade. Com certeza, e assim vou para a eternidade!
* Texto e Foto (10/07/2016): Eitel Teixeira Dannemann.