CASAL ASSANHADIÇO

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O cidadão Omar Melo é daqueles que não têm paciência para desatar nós dos cadarços de tênis e nem para tirar o lacre de alumínio de embalagens de manteiga sem rasgar. Casado com a Juventina já lá se vão quatro primaveras, ambos na juventude de seus 28 anos de idade, ainda sem filhos, moradores no Bairro Morada do Sol. Ele, técnico numa operadora de telefone. Ela, funcionária em uma loja de eletrodomésticos na Rua Major Gote, daquelas que ficam fulas da vida quando percebe uma única gota de urina na borda do vaso, pois sabe que o marido não caprichou na mira, depois de inúmeras vezes em que ela falou para ele urinar sentado.

O que a Juventina mais se incomoda é com as tiradas sarcásticas do marido. E nessa ela vira o bicho. Certa vez, lá estava o Omar na sala assistindo TV. A Juventina sentou ao lado dele e perguntou:

– Tem alguma coisa diferente na TV?

– Nada diferente, apenas a tradicional poeira.

Não deu outra: discussão braba. E de discussão braba em discussão braba, todas elas contemporizadas pela sogra que mora a poucos metros deles, sem sabermos qual a sogra, isto é, se do lado dele ou do lado dela, o negócio é que noutra certa vez, a Juventina, após um banho relaxante, untava-se com um hidratante em frente ao espelho quando se achou um pouquinho acima do peso e, coisa horrível, percebeu uma preguinha abaixo do olho esquerdo. Desesperada, clamou ao Omar:

– Marido, veja isso, pelamordedeus, diga alguma coisa para me acalmar.

– Ora, Juventina, parabéns, você está com a visão perfeita.

Não deu outra: discussão braba e mais uma vez a tal sogra é que acalmou os ânimos. E com os ânimos acalmados, mesmo dormindo cada um quietinho no seu lado da cama sem apresentarem aqueles famosos desejos, amanheceu o dia e os dois, serenos, prontos para rumarem aos seus trabalhos, cada um na sua moto, quando a Juventina observou o casal vizinho:

– Viu como aquele marido lá se despede da esposa com um beijo de amor?

– É, muito legal.

– É, legal né, mas você não faz o mesmo.

– Ô doida, como vou fazer o mesmo se nem conheço a mulher dele?

Não deu outra: discussão braba e mais uma vez a tal sogra é que acalmou os ânimos. Isso até o reencontro à noite, pois no que o Omar começou a explicar o porquê de chegar às nove horas…

* Texto: Eitel Teixeira Dannemann.

* Foto: Montagem de Eitel Teixeira Dannemann sobre foto publicada em 06/06/2014 com o título “Antiga Rodoviária no Final da Década de 1970 − 1”.

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