Toda vez que nuvens cinzentas como essas aí pairam sobre meu telhado um trem esquisito demais da conta invade cada reboco de minhas paredes. Mesmo sendo bem cuidada e eu tendo quase certeza absoluta de que meu atual morador é torcedor da URT mesmo assim essas nuvens cinzentas me trazem maus agouros. Eis que agora tem um sujeito me fotografando. Será que é mais um mau agouro, para que a minha existência fique registrada eternamente na História de Patos de Minas? Digo isso porque o que está acontecendo em vários bairros da Cidade já começa a se despontar por aqui¹: edifícios ocupando os nossos lugares. Não estou nem aí para ficar registrada em foto, eu quero é continuar firme e forte onde estou, isso sim. Mas a cada nuvem cinzenta que chega mais e mais minhas esperanças se diluem no ardor da incerteza. E isso acaba comigo, chega a entortar meus encanamentos, trincar alguns de meus tijolos, e me aperreia deveras. Quando o sol vem e os agouros se vão, me acalmo, para logo ficar esperando novas nuvens cinzentas. E o drama da minha descontinuidade como imóvel me invade, cada vez mais forte. Fazer o que? Lá se foi o sujeito da câmera, sorrateiro e serelepe, quem sabe acabou de registrar mais uma imóvel que um dia se transformará em escombros. Deixa estar, nesse dia fatalmente deixarei saudade!
* 1: O imóvel localiza-se na Rua Jorgeta Maciel, esquina com Rua Marciano Pereira da Silva, no Bairro São Francisco.
* Texto e foto (10/01/2021): Eitel Teixeira Dannemann.