Eu poderia me vangloriar, mas não vou me vangloriar. Tenho muitos motivos para me vangloriar, mas não vou me vangloriar porque quem eu aconcheguei tinha tudo para se vangloriar e nunca se vangloriou. Aqui dentro de mim reinou a quietude de um ego que nunca se submeteu a fantasias excêntricas. Minhas paredes estão impregnadas de sabedoria, de criatividade, de atividades artísticas que enobrecem a nossa terra. Óbvio, me enobrecem também. Por isso e muito mais não vou me vangloriar, e sim lastimar o fatídico final de minha existência que se aproxima tão rápido como o voo do Falcão Peregrino e a corrida do Guepardo. Todos se foram, não resta mais ninguém dentro de mim. Por aqui¹ e acolá os edifícios pululam como pipoca na panela. Depois de muitos anos envolta em assuntos construtivos, o silêncio humano de hoje é cruel. A Rolinha que ora turturina e o Grilo que à noite estridula são os únicos sons que não me atormentam. O resto me exaspera, assim como me exasperou o som da placa de vende-se sendo colocada na grade. Precisa dizer que com essa ação foi decretada a minha derrocada como imóvel? Os Bem-te-vis daqui só cantam tivi. E eu que nunca tivi passando por mim, fica assim, o adeus ao meu fim. A única satisfação que me envaidece, e me enobrece, sem jamais me vangloriar, é que faço parte da História de Patos de Minas. E assim, deixarei saudade!
* 1: O imóvel localiza-se na Rua Cesário Alvim e foi a residência de Vicente Nepomuceno & Família.
* Texto e foto (01/05/2021): Eitel Teixeira Dannemann.