DEIXAREI SAUDADE − 163

Postado por e arquivado em 2021, DÉCADA DE 2020, FOTOS.

Eu poderia me vangloriar, mas não vou me vangloriar. Tenho muitos motivos para me vangloriar, mas não vou me vangloriar porque quem eu aconcheguei tinha tudo para se vangloriar e nunca se vangloriou. Aqui dentro de mim reinou a quietude de um ego que nunca se submeteu a fantasias excêntricas. Minhas paredes estão impregnadas de sabedoria, de criatividade, de atividades artísticas que enobrecem a nossa terra. Óbvio, me enobrecem também. Por isso e muito mais não vou me vangloriar, e sim lastimar o fatídico final de minha existência que se aproxima tão rápido como o voo do Falcão Peregrino e a corrida do Guepardo. Todos se foram, não resta mais ninguém dentro de mim. Por aqui¹ e acolá os edifícios pululam como pipoca na panela. Depois de muitos anos envolta em assuntos construtivos, o silêncio humano de hoje é cruel. A Rolinha que ora turturina e o Grilo que à noite estridula são os únicos sons que não me atormentam. O resto me exaspera, assim como me exasperou o som da placa de vende-se sendo colocada na grade. Precisa dizer que com essa ação foi decretada a minha derrocada como imóvel? Os Bem-te-vis daqui só cantam tivi. E eu que nunca tivi passando por mim, fica assim, o adeus ao meu fim. A única satisfação que me envaidece, e me enobrece, sem jamais me vangloriar, é que faço parte da História de Patos de Minas. E assim, deixarei saudade!

* 1: O imóvel localiza-se na Rua Cesário Alvim e foi a residência de Vicente Nepomuceno & Família.

* Texto e foto (01/05/2021): Eitel Teixeira Dannemann.

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