DILEMAS DA GEOVANA

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Depois de um dia de muita labuta numa empresa localizada no Distrito Industrial II, a Geovana chega em casa decidida a ter uma conversa duríssima com a filha, uma manceba no auge de seus 19 anos. É que a mãe ficou sabendo de uma amiga que um seu amigo viu a garota saindo de um motel na Avenida JK em plena dez horas da manhã. Aquilo revoltou a Geovana, que ficou o dia todo se perguntando onde havia errado na educação da filha. Mal se deparou com a Dorinha na sala agarrada ao celular foi logo lamentando:

– Que tristeza, Dorinha, o que fiquei sabendo a seu respeito me arrasou. Um amigo, de altíssima confiança, descobriu por acaso que você está frequentando um motel com seu namorado. Por que, filha, por que se entrega tão fácil assim? Não foi essa a educação que te dei, por que, por que…

Não deu tempo para a mãe terminar a lamentação, pois a Dorinha se levantou e enquanto se dirigia ao seu quarto respondeu:

– Ora, mãe, isso é fofoca de quem não tem o que fazer e fica pela cidade bisbilhotando os outros. Só porque eu fui com um conhecido a um motel o povo já começa a comentar que é meu namorado, onde já se viu isso. Vai lá ver a vovó porque ela está no mundo da Lua.

A Dorinha já estava entrando no quarto quando a Geovana se levantou e foi atrás dela, e nessa percebeu sua mãe, de 95 anos, conversando na cozinha com a comadre, de igual idade:

– Coisa esquisita, sá, de vez em quando dá uns brancos na minha cabeça. Vê só, somos comadres há tantos anos, trabalhamos juntas na roça com os compadres, ficamos viúvas no mesmo ano, te ajudei a criar a Geovana, nos encontramos todos os dias, vamos à missa juntas e vê só, esqueci seu nome. Trem esquisito demais da conta. Vai, comadre, não acha ruim comigo não, diga lá seu nome e espero não mais esquecer.

A mãe da Geovana encarou a comadre, suspirou, olhou para todos os cantos da cozinha, encarou novamente a comadre, suspirou profundamente e respondeu com uma pergunta:

– Comadre, não me leve a mal, mas posso te responder amanhã?

Dito isso, as duas gargalharam por pelo menos um minuto. Depois, voltaram às suas lembranças de labuta na roça. A Geovana então olhou para a porta fechada do quarto da Dorinha, olhou para as duas idosas, voltou para o sofá e pôs-se a pensar como suplantar esses dois dilemas.

* Texto: Eitel Teixeira Dannemann.

* Foto: Montagem de Eitel Teixeira Dannemann sobre foto publicada em 06/06/2014 com o título “Antiga Rodoviária no Final da Década de 1970 − 1”.

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