PACIENTE FUGIDIO

Postado por e arquivado em CANTINHO LITERÁRIO DO EITEL.

Numa manhã não muito distante no tempo, dia de levar meu pai a um hospital para uma consulta corriqueira, ele invocou de, antes, saborear um pastel de carne na lanchonete do Nazareno, lá na Rua José de Santana. Consumado o seu desejo, fomos para a Casa de Saúde, como se dizia no passado, e aqui nunca entendi, pois ninguém com saúde procura um hospital. Deixa pra lá.

Como eu sabia que naquele dia por volta das onze horas um meu amigo ia ser operado de uma hérnia, resolvi visitá-lo para desejar-lhe sucesso na cirurgia. Conseguido o número do quarto em que ele estava internado, fui até lá. Ao chegar, já ia dar o toc-toc na porta quando ouvi lá de dentro uma vez feminina dizendo:

– Calma, calma, é uma cirurgia tão simples, você sabe muito bem disso, você foi muito bem preparado para ela, aqui temos todo o necessário para que tudo corra bem.

Legal demais da conta, pensei, deve ser uma enfermeira acalmando o meu amigo. E ela continuou:

– Não entendo o porquê você está tremendo todo, mesmo sendo a sua primeira cirurgia invasiva. Olhe aqui bem dentro dos meus olhos: vá com firmeza e tudo vai ser de acordo com o figurino.

Que bacana, pensei novamente, esse hospital é mesmo de primeiro mundo, as enfermeiras são até psicólogas, fazem tudo para acalmar os clientes, quer dizer, os pacientes. Resolvi deixar o papo entre os dois continuar para voltar depois. No local de espera para a consulta, eu e meu pai aguardávamos com a mansidão exigida quando vem meu amigo apressado rumo à saída do hospital. Sem entender aquilo, sustei seus passos e perguntei porque ele desistiu da cirurgia mesmo depois de todas as palavras confortadoras da enfermeira. Ele, mais assustado do que eu, disse:

– Cara, quando o médico chegou com a enfermeira ao quarto para as providências de praxe, pedi um instante para fazer uma ligação e aí quando voltei, antes de abrir a porta, ouvi a conversa dos dois e então…

– Perái, amigo, então quando eu cheguei à porta do quarto e ouvi a conversa não era você que estava lá dentro conversando com a enfermeira?

– Não, era o médico!

* Texto: Eitel Teixeira Dannemann.

* Foto: Montagem de Eitel Teixeira Dannemann sobre foto publicada em 02/02/2013 com o título “Avenida Paracatu na Década de 1920”.

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