A Gioconda tem 13 anos de idade. É uma das melhores e mais educadas alunas de uma tradicional escola no Centro. A família, muito bem de vida, moradora em um casarão no Bairro Sobradinho, tem um orgulho tremendo da filha única. Por isso o choque da descoberta, que deixou os pais sem ação sentados no sofá da sala, um olhando para o outro, totalmente arrasados. É que a Gioconda, chegando com um olhar pesaroso, antes de ir para o seu quarto disse:
– Não sou mais virgem, não sou mais virgem, agora serei uma vaca, uma vaca…
Depois de uns penosos cinco minutos de silêncio, nem pai nem mãe tiveram o discernimento para procurarem a filha. O que fizeram foi iniciar uma guerra de acusações sem fim, expondo uma relação que faltava apenas um motivo para trincar:
– Está aí o resultado dessas saias curtas e calças coladíssimas que você usa, andando toda emperiquitada, dando atenção demais da conta aos meus amigos, toda sorridente. Tudo isso é exemplo pra menina, e ela sabe muito bem que você perdeu a virgindade aos 15 anos de idade, então, ela tratou de ser mais esperta que você e…
– Ora, olha só quem está falando, o garanhão da turma de amigos safados que vive dando em cima de garotinhas com a idade da nossa filha ou sabe-se lá se não mais novas, o metido a gostoso até com as esposas dos amigos, é claro que são exemplos nojentos para ela e além do mais…
Lá do quarto, Gioconda percebeu que os pais estavam tendo uma séria discussão pelo tom da voz de ambos. Silenciosamente se aproximou e se viu diante de um arranca toco violento, inédito até então, pois as briguinhas entre eles eram comuns, mas nunca tinham chegado a esse nível de baixarias. Ela então sentou-se no meio dos dois, que imediatamente se calaram. Ambos seguraram a mão da filha e pediram para ela contar como aconteceu. E ela contou:
– Já estava tudo acertado para eu fazer a Virgem na encenação do Presépio no colégio. Sei lá porque, a professora mudou de ideia e disse que eu não mais seria a Virgem, e sim a vaca. Aí então fiquei muito chateada.
* Texto: Eitel Teixeira Dannemann.
* Foto: Montagem de Eitel Teixeira Dannemann sobre foto publicada em 02/02/2013 com o título “Avenida Paracatu na Década de 1920”.
