Lá para as bandas do Sertãozinho, pouco depois da Fazenda Experimental da EPAMIG, residia o Mariano com sua fogosa esposa Zuleide num sítio muito bem cuidado e confortável. Além de cuidar da roça produtiva, ele fazia serviços para uma fazenda nas redondezas, e ela uma dona de casa muito boa em vários sentidos. Num rotineiro dia de labuta, um amigo e colega de trabalho disse ao Mariano:
– Abra o olho com a Zuleide, sei não, tão falando coisas por aí…
E o Mariano resolveu abrir o olho com a Zuleide. Numa manhã, ao sair para uma capina, sorrateiramente subiu num copado pé de manga ao lado da casa e lá, bem escondidinho, ficou esperando o pior. Ele veio na figura do capataz da fazenda, que apreciando algumas frutas madurinhas ao alcance da mão, não perdeu a oportunidade para saboreá-las. Na varanda da casa, a Zuleide o esperava com ansiedade. Depois de abraços e beijos ardorosos, o casal adentrou ao imóvel. Quando a porta se fechou, uma dor tremenda tomou conta do Mariano.
Injuriado, o corno desceu do pé de manga, foi ao depósito de ferramentas, apoderou-se do maior facão que encontrou e, disposto a fazer justiça com as próprias mãos, se dirigiu ao lar. De mansinho, abriu a porta. Do quarto, ouviu sensuais gemidos, principalmente da esposa. Um calafrio percorreu sua espinha; o coração a mais de 200 batidas por minuto; sem nervosismo, apenas o facão tremia em sua mão destra; suores intensos; uma vontade imensa de vingança.
Assim, Mariano chegou ao quarto. Lá estava ela, peladinha de tudo, gemendo, gemendo como nunca gemeu com ele. E lá estava o capataz, peladinho de tudo, em cima de sua Zuleide, com a boca no seu seio esquerdo. Mariano então se apresentou:
– Seu sacabuxa da maledicência, comigo não tem perrépis, você vai mooorrrreeeeerrrrr…
E partiu com o facão em riste para cima do homem. Mas o Mariano não contava com o calibre 38 depositado no criado ao lado. Quando o chifrudo bateu os olhos no cano do revólver apontado para seus miolos, ouviu:
– Vou morrer por que, seu besta?
O Mariano não perdeu tempo para responder:
– Você acabou de comer três mangas e agora está tomando leite, cara, manga com leite faz mal, você vai morrer.
E se mandou numa estapafúrdia correria.
* Texto: Eitel Teixeira Dannemann.
* Foto: Montagem de Eitel Teixeira Dannemann sobre foto publicada em 02/02/2013 com o título “Avenida Paracatu na Década de 1920”.