MÃE ESPERTA

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Dona Saulina é do tempo em que as residências eram dotadas de enormes quintais ocupados por grande variedade de árvores frutíferas e hortas caprichadíssimas. Aliás, pode-se dizer que sua propriedade era uma autêntica chácara situada nos confins do hoje Bairro Alto dos Caiçaras, quando ainda não existia o clube. Certa vez ganhou da comadre Gislane uma muda de mexerica poncã, plantada com muito carinho.

Naquele tempo, a matrona tinha cinco pirralhos que considerava muito bem educados com a ajuda do severo marido, mas que, na verdade, eram cinco arteiros. Eis que no alvorecer de um novo dia, quando foi regar a planta, veio uma enorme decepção: lá estava a muda toda esgarçada jogada aos pés da velha jabuticabeira. Imediatamente convocou os filhos e cada um deles apontou um irmão como sendo o responsável pela arte. Foi então que ela se lembrou de um artifício para pegar filhos mentirosos, aprendido com a comadre Josefina. Ajuntou cinco pequenos gravetos do mesmo tamanho e entregou a cada um dos filhos dizendo:

– Fechem a mão com o graveto e fiquem de costas para mim. Fiquem quietinhos enquanto rezo em nome de Nossa Senhora da Abadia. Enquanto eu estiver rezando, a Santa vai fazer crescer o graveto que estiver na mão daquele que arrancou o pezinho de mexerica e assim ele não terá como desmentir a malvadeza que fez.

Enquanto Dona Saulina rezava em alto e bom som, o menino que havia praticado a arte, imaginando-se o moleque mais esperto de Patos de Minas, partiu o seu graveto na certeza de que, quando abrisse a mão e o revelasse menor, estaria isento da culpa.

Terminada a reza, a mãe ordenou aos filhos que se virassem e abrissem as mãos. E disse:

– Eis aí, garoto malvado, pedi em silêncio à Santa que, ao invés de aumentar o graveto, o diminuísse.

Descoberto o autor da má criação, a mãe chamou-o a um canto, passou-lhe uma tremenda carraspana acompanhada de uma tradicional surra dos idos tempos. Depois dessa, nenhum dos filhos aprontou outras artes.

* Texto: Eitel Teixeira Dannemann.

* Foto: Montagem de Eitel Teixeira Dannemann sobre foto publicada em 28/02/2013 com o título “Prefeitura em 1916”.

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