Devidamente paramentado com o mínimo exigido para enfrentar o Covid-19, isto é, máscara tampando rosto e nariz, um frasquinho de álcool no bolso e evitando encostar em quem quer que fosse, lá ia eu numa caminhada pelo passeio da Rua Major Gote em direção à Mecanauto, a oficina mecânica do Taquinho, para pegar meu carro que havia passado por um conserto. Na esquina com a Rua José de Santana, deparei-me com um conhecido da turma do bão. O que é turma do bão? É um conhecido com quem a gente pouco conversa, mesmo sabendo o nome e vice-versa, e quando topa pelas ruas vai um bão? e de lá bem um bão! E fim de papo, cada um segue seu rumo. Para minha surpresa, nessa vez, o distinto estava a fim de papo. E assim fomos conversando:
– E aí, Bão?
– Bão!
– Trem mais doido do mundo esse Covid, né?
– Trem ruim mesmo, cara.
– E o Falcão?
– Pra mim está mais para Pardal.
– Uai credo, sô.
– Deixa essa questão avícola pra lá.
– E a URT se preparando para o Campeonato Mineiro?
– Mais um time de aluguel, a mesmice de sempre.
– Ah, quero te mostrar a foto da minha nova namorada. Olha só que trem mais lindo. Se ela quiser, com ela eu caso. É ou não é o trem mais lindo de Patos de Minas?
Sem ele saber se eu era ou não casado, ou ainda se eu estava ou não casado, respondi ironicamente:
– Você precisa ver a minha namorada e gostaria que você a conhecesse.
– Ora, será que a sua namorada é mais bonita que a minha?
– Não, ela é oftalmologista.
Papo encerrado. Estávamos na esquina com a Rua Farnese Maciel quando ele se mandou em direção à Avenida Getúlio Vargas. No outro dia topei com ele, de novo no Centro, e dessa vez nem bão teve por parte dele.
* Texto: Eitel Teixeira Dannemann.
* Foto: Montagem de Eitel Teixeira Dannemann sobre foto publicada em 06/06/2014 com o título “Antiga Rodoviária no Final da Década de 1970 − 1″.