O Zé Antônio é muito engraçado com sua postura em defesa de alguns animais. Não que defender animais seja engraçado, muito pelo contrário, é só a postura dele que é engraçada e, acima de tudo, controversa. Calma que você vai entender. Ele atualmente mora num sítio lá na saída para Presidente Olegário, coisa de quatro quilômetros. E nesse local ele acomoda dez cães e seis gatos − muito bem tratados − e, mesmo morando no meio da natureza, tem dez gaiolas com dez pássaros diferentes. Vai daí que podemos admitir sem erro que o Zé Antônio é fã de caninos e felinos e deveras suspeito com relação a pássaros. E nessa ele solta os cachorros e gatos, sem trocadilho, quando vê alguém maltratando qualquer um deles. Chega a partir pra briga. Dias destes, nas imediações da Praça Antônio Dias, chorou de verdade quando presenciou o atropelamento fatal de um gato.
Quando vem à Cidade, invariavelmente todo dia, um de seus prazeres é frequentar a praça em frente ao antigo Fórum para ofertar quirela aos pombos e pardais e bater papo com seus amigos no entorno da banca de revistas. Um dia eu perguntei:
– Zé Antônio, que tal um churrasco?
Ele deu um largo sorriso e respondeu:
– Vamos nessa, aonde?
Ironicamente, indaguei:
– Uai, Zé Antônio, você não tem dó do boi que vai ser sacrificado para você comer?
É nesses momentos que ele se amua, dá meia volta e cai fora. O trem mais bão do mundo é fazer raiva no Zé Antônio com esse negócio de animais:
– Zé Antônio, você não tem dó do pedaço de porco que costuma saborear no almoço ou da traíra lá do Bar do Peixe? E o pastel de carne do Nazareno que você adora? Fiquei sabendo que você se fartou naquela galinhada no bingo do Lions. Vou te fazer três ótimas sugestões: contrafilé de gato, picanha de cachorro e curió frito. Que tal?
É evidente que o Zé Antônio fechou a cara e se mandou. Dia desses, lá estava ele amparando um cão de rua na Praça Desembargador Frederico. Cheguei e perguntei:
– Zé Antônio, por que você só protege cães e gatos e as outras espécies, além de comer, você não faz a mínima questão de proteger? E além disso, Zé, aonde já se viu morar num sítio e ter passarinho preso em gaiola?
Ele me fulminou com um olhar, largou o cão, fez menção em me dizer cobras e lagartos, mas preferiu girar nos calcanhares e ir embora. No outro dia, um vento brando soprou nos meus ouvidos e me disse que o Zé Antônio estava magoado comigo. Uai, será por quê? É muito esquisito o Zé Antônio!
* Texto: Eitel Teixeira Dannemann.
* Foto: Montagem de Eitel Teixeira Dannemann sobre foto publicada em 02/02/2013 com o título “Avenida Paracatu na Década de 1920”.