ZICO AMORIM E SUAS ASPIRAÇÕES NOS IDOS DE 1946

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digitalizar0002João Gualberto de Amorim Júnior (Zico Amorim) é natural de Patos de Minas, nascido no dia 1.º de julho de 1890, filho de João Gualberto de Amorim e Olímpia Caixeta de Melo Amorim. Formado em Farmácia pela Faculdade de Ouro Preto (MG) no ano de 1912, foi um dos primeiros farmacêuticos a exercer a profissão na cidade, tendo instalado na Rua Major Gote a Pharmácia São José. Teve participação ativa e significante na história patense, já que entre várias outras coisas, foi ele e seus filhos Olavo Gualberto de Amorim e Rui Borges de Amorim, seu sobrinho Modesto de Melo Ribeiro e o amigo Bernardino Corrêa Júnior, o Nhonhô Corrêa, que fundaram em 29 de novembro de 1941, a Rádio Clube de Patos, cujo prefixo, na época, era ZYB-4. Foi também um dos fundadores da Sociedade Recreativa Patense, tendo sido eleito seu primeiro presidente.

Gerente da Caixa Econômica Estadual, farmacêutico responsável pela farmácia do Hospital Regional, político influente e atuante como presidente do diretório do Partido Republicano (PR) em Patos de Minas, Zico Amorim trazia em sua alma e coração um manancial de ideias valiosas que visavam o progresso de sua terra natal. Falecido em 10 de dezembro de 1971, aos 81 anos, Zico Amorim permanece vivo até hoje na lembrança dos que sempre o tiveram como um dos mais dignos filhos da terra patense.

A Segunda Guerra Mundial terminara em 08 de maio de 1945. Datado de 29 de outubro daquele ele, Zico Amorim dava por encerrado um manuscrito intitulado “Aspirações do Povo de Patos de Minas”, editado no ano seguinte pela Gráfica Queiroz Breiner Ltda. (Belo Horizonte). Muitas daquelas “aspirações” foram transformadas em realidade nos anos que se seguiram. Aludindo ao término da guerra, afirmou: “Os futuros dirigentes, então, poderão proporcionar mais fàcilmente a seus municípes, uma vez haja boa vontade e sadio patriotismo, o que aspiram para o seu engrandecimento e completo confôrto”.

No manuscrito de Zico Amorim, ele desenvolve quinze temas que considerava de vital importância para proporcionar progresso e conforto aos habitantes da cidade. São eles a seguir de acordo a disposição original da publicação:

1) EDUCAÇÃO E INSTRUÇÃO

Antes de tudo, e acima de tudo, cuidar com solicitude e zêlo da alfabetização da nossa gente do campo, assim como prover os nossos estabelecimentos de ensino primário e secundário com diretores e professôres técnicos, evitando-se, dêsse modo, sacrificar a formação moral e intelectual da nossa mocidade. É preciso que nos convençamos que a verdadeira grandeza de uma cidade, não está sómente no seu progresso material ou seja na beleza de seus edifícios, praças, jardins, mas sim na educação moral e cultura sólida de seu povo!

Que sejam, portanto, subvencionadas as instituições que visam a educação moral e a instrução intelectual e artística de nossa inteligente mocidade, como sejam: o GINÁSIO MUNICIPAL, o COLÉGIO DAS IRMÃS e a RÁDIO CLUBE DE PATOS.

É mistér, igualmente, que se instalem ótimas escolas rurais em todos os povoados, onde já funcionam capelas filiais da nossa Paróquia, como as da MATA DO BREJO, SÃO BERNARDO, CÓRREGO RICO, ARAGÃO, LANHOSOS e LEAL, a exemplo das que já se acham instaladas em ALAGOAS, POSSES, MATA DOS FERNANDES e SERTÃOZINHO. Mas, que se classifiquem de ótimas, conferindo-se-lhes prêmios de valor, extensivos às escolas particulares, sómente aquelas cujos professôres e professôras derem a seus educandos exemplos de dignidade e altivez no desempenho de suas elevadas funções!

ZICO AMORIM2) SAÚDE PÚBLICA

Nêste setor ha muito a se realizar em Patos de Minas, sinão vejamos:

a) RÊDE DE ESGOTO – Está em primeiro plano êste melhoramento, o qual deve ser feito pelo sistema separador, com canalização radial e convergente para o Rio Paranaíba. Deixamos de fazer quaisquer comentários a respeito da relevância dêste empreendimento, por se achar ao alcance de todos o quanto de utilidade encerra para facilitar de um modo positivo o saneamento geral e completo de todo o perímetro urbano.

b) ÁGUA POTÁVEL – A água pela qual se abastece a nossa Cidade, provem da afamada fonte do Limoeiro. De fato, pelo seu aspecto parece possuir tôdas as propriedades organolépticas, pois, é límpida, sem côr, sem cheiro e de sabor agradável. Mas, forçoso é confessar, que, ao fazermos uma visita à mesma, verificamos ser o seu meio de captação falho de todos os requisitos necessários para que ela seja usada sem receios de perigo para a saúde da nossa já numerosa população. O ideal seria que ela fôsse captada na sua nascente e protegida por meio de obras de engenharia e daí fôsse canalizada diretamente. Mas, não o foi. Depois de escoar um quilômetro e meio, mais ou menos, de extensão de sua nascente, é que se verifica a sua captação por simples barragem e logo o encanamento para a Caixa de Depósito no alto do Cruzeiro. Uma cêrca de arame farpado, é o único meio de sua proteção da nascente ao ponto de captação. Ora, esta defeza terá seu valor, apenas, contra os grandes animais equinos e muares, mas a sua contaminação é inevitável quer pelo percurso em fora do terreno, quer pelas incursões de animais inferiores e aves silvestres pelos seus dejectos e infecções. A captação de nossa água de consumo está, portanto, a exigir e imediatamente um especialista no assunto.

Ao nosso ver pode-se fazer uma nova captação técnica com instalação de uma caixa purificadora por filtração em areia, que é mais fácil e mais barata que a cloração, antes que ela caia no depósito geral. Só assim se poderá usá-la sem receio de se estar contaminando por helmintos: ascarides, oxiurus, tricocefalos, estrongilos, filarias e inguilulas, tenia solium, batriocefalos e pela ameba disintérica; e, igualmente, por diversos micróbios que se não são germes d’água, nela se conservam e são transportados ao homem, produzindo-lhe várias doenças infecciosas.

Dentre estes se destacam, na opinião de especialistas no assunto, micróbios das espécies cromogenas e incolores; cocos, sarcinas, estreptococos, estafilococos, bacilos espirilos, proteus, clodotrix, leptotrix, salientando-se os saprofitos ordinários e raramente os protegenos, como o bacilo colon, o bacilo tífico, o bacilo piociamico, o estafilococito dourado, o estreptococico piogen, o bacilo carbunculo, o bacilo da cólera, o bacilo diftérico e provavelmente o Schistosomose Mansoni. E a prova é que, em exames microscópicos feitos, recentemente, por clínicos abalizados da Casa de Saúde Imaculada Conceição e do Hospital Regional, já se constataram diversos casos de doentes atacados de Ameba Histolitica e Coli, e de Giardia Intestinalis. Notando-se que dos exames feitos no Hospital Regional do ano de 1940 para cá, verifica-se um aumento sempre crescente, atingindo em 1944: Giardia Intestinalis, 19; Ameba Histolica, 4 e Ameba Coli, 8, quando em 1940 se constataram, apenas, 2 casos de Giardia, 2 Ameba Histolica nenhum de Ameba Coli.

Pode-se argumentar que êsses doentes tenham se contaminado em outros meios ou lugares, mas o fato a se considerar com a devida prudência é que aquelas doenças teem-se multiplicado em PATOS DE MINAS justamente depois que se vêem desprezando, por ser insuficiente, a ÁGUA DO CAPÃO, cuja captação inicial obedecera a certas exigências indispensáveis para se obter uma boa água potável. Ante êste perigo iminente, pois, de se contrair uma dessas perigosas moléstias, a filtração domiciliar se impõe como uma medida preventiva, sendo o filtro mais aconselhável, ainda que mais demorado, o de VELAS CHAMBERLAIND.

Conclui-se, ante à evidência do exposto, que compete aos Govêrnos Estadual e Municipal tomarem, com carinho, tôdas as providências necessárias para uma imediata solução dêsse magno problema, a bem da saúde da nossa já numerosa população.

ZICO 1c) O GRANDE BREJO – Êste grande pantano que separa o Bairro do Rosário do Centro da Cidade precisa ser, para saneamento geral, drenado de um extremo a outro, com a respectiva canalização completa e eficiente da água que emana do mesmo. Isto feito, torna-se fácil transformá-lo de um terreno até então inútil e insalubre, parte num grande lago, parte num grande parque, ambos cercados por larga avenida em forma oval arborizada e fartamente iluminada.

d) A LAGÔA GRANDE – Esta belíssima lagôa situada ao lado do Campo de Aviação, por seu turno, deverá ser, em próximo futuro, transformada numa piscina encantadora, cercada de um sólido cais e larga avenida, com farta arborização própria em derredor. Notando-se, aqui, que se torna indispensável a construção de um largo canal de esgoto da Lagoinha anexa para o Paranaíba, afim de se evitar, em ocasião de chuvas torrenciais que ela transborde, escoando-se para a Cidade e danificando, ora a estrada real, ora plantações e prédios dos habitantes do Bairro de Santa Terezinha.

e) AS FOSSAS SÊCAS – Êste processo de instalação sanitária, a não ser que se obedeça uma desinfecção sistemática das mesmas, por meio de cal e petróleo, traz sérios inconvenientes para a higiene pública. O mesmo se dando com as FOSSAS RECEPTORAS de águas servidas de milhares de pias e usadas em todos os prédios dos menores aos maiores, espalhados no perímetro urbano, mormente aquêles onde funcionam pensões, escolas e colégios, pois umas e outras se transformaram, por se acharem literalmente cheias, como de visu já verificamos, em viveiros infectos de micróbios, muitas vêzes de espécies periogosas, como o bacilo coli, b. disentérico, estreptococicos, estafilococicos, etc., o que constitue o perigo iminente de uma epidemia de desastrosas consequências na Cidade. Uma medida de emergência se faz, portanto necessária, até que se resolva a questão primordial de tôda a higiene urbana – A REDE DE ESGOTOS.

f) SANEAMENTO DOS QUINTAIS – A devastação de plantações impróprias em todos os quintais, visando-se o arejamento dos mesmos, mórmente daqueles que terminam em terrenos úmidos, como os do Brejo e Corrego da Biquinha, seria uma medida prática e de grande utilidade, pois, verifica-se que ai, assim como nas tais fossas sêcas, proliferam os tais pernilongos, que à noite infestam as habitações, martirizando os que desejam conciliar o sono; e, igualmente mosquitos transmissores de certas doenças, sendo mesmo possível encontrar-se o anopheles do impaludismo. O que se precisa saber também é que, justamente, nesses lugares úmidos dos quintais, onde se amontoam lixo, esterco e todas imundicies, geram e se desenvolvem as conhecidas moscas caseiras, as quais se transportam para o interior das casas, carregando em suas patas e asas diversos germens perigosos como os da infecção tifica, colerica e disenterica. Não são, pois, insetos inocentes como geralmente se afirma. Pelo contrário, são perigosíssimos e por consequencia devem ser combatidos até a sua completa exterminação, evitando-se o seu contato com todo e qualquer alimento. Um grande higienista já denominou-as de moscas tificas. Deve-se, por conseguinte, ter por elas um verdadeiro nojo e medo!…

3) ASSISTÊNCIA SOCIAL AOS POBRES – Avoluma-se cada vez mais o número de menores desamparados e de esmoleres que percorrem diariamente as nossas ruas, constituindo esse aumento um problema sério e cuja solução merece ser bem estudada por quem de direito. Aos forasteiros que aqui aportam parece ser uma incúria da nossa parte para com os desprotegidos da sorte. Mas, é preciso que se saiba, que essa questão assustadora da mendicancia em PATOS DE MINAS, surgiu com a fundação do HOSPITAL REGIONAL, em demanda do qual afluem constantemente, vindas de outros Municípios, numerosas familias pobres a procura de um tratamento gratuito para os seus infelizes doentes. Acontece, então, que alcançada ou não a cura destes, a maioria delas, sem recursos para regressar, fixa aqui as suas residencias, espalhando-se pelos bairros da Cidade. Cumpre, pois, ao Governo Municipal, ao nosso ver, fazer retornar, em parte, essa gente á sua terra natal; e, para os que aqui ficam ou residem fundar ou pelo menos amparar a fundação de um ASILO PARA MENORES, onde se eduquem, se instruam e aprendam um ofício qualquer; e, um ORFANATO PARA MENINAS POBRES, salvando-as assim de se precipitarem no abismo da desonra e afim de que amanhã uns e outros, bendizendo os seus benfeitores, sejam uteis a si, às suas familias e á sociedade.

4) LUZ E ENERGIA ELÉTRICA – Os prejuizos até então decorrentes, devido à falta, há anos, de luz e energia elétrica, já se tornaram incalculáveis, quer para a Prefeitura, quer para os particulares, quer para o grande número de casas comerciais e industrias diversas movidas a eletricidade: MOINHO DE TRIGO, SERRARIAS, CERAMICAS, PADARIAS, FÁBRICAS DE GELO, MÁQUINAS DE BENEFICIAR ARROZ, GABINETES DENTÁRIOS, LAPIDAÇÃO DE DIAMANTES, APARELHO DE RAIO X, ESTAÇÃO DE RÁDIO EMISSORA e OFICINAS MECANICAS. Além disso, é natural prever-se que, quando PATOS DE MINAS, pela sua possante NOVA USINA HIDRO-ELETRICA DAS LAGES, puder fornecer farta energia elétrica a todos os interessados, quantas fábricas mais se instalarão aqui, impulsionando o seu engrandecimento?!… E, consequentemente, quantas familias terão o seu amparo e o futuro de seus filhos garantidos por todas essas mesmas emprezas?!

ZICO 3Os geradores, vindos dos Estados Unidos, os quais estavam entravando o término das óbras da Usina, já se acham no Rio de Janeiro. Que se ultimem, como medida de premente necessidade, os demais serviços a cargo da Prefeitura e Soc. de Instalações Técnicas Ltda. (SIT), como o Prédio da Sub-Estação, o acabamento definitivo do Prédio das Máquinas, com proteção a concreto contra as enchentes, a estrada de descida às mesmas, o retoque final da Linha Condutora de Energia, para que, no início do Novo Ano de 1946, se inaugure a bem do nosso conforto e do nosso progresso, a NOVA USINA ELETRICA.

5) CALÇAMENTO DA CIDADE – PATOS DE MINAS pelo seu brilhante desenvolvimento verificado por grande número de edifícios particulares e públicos, ricos e elegantes, pelas suas luxuosas vitrines, dignas de figurarem em qualquer grande cidade ou Capital, pelo bom gosto do trajar de seus filhos, não póde mais prescindir de ter as suas principais ruas, praças e avenidas devidamente calçadas e tratadas com rigoroso asseio.

Faz-se mistér, que se inicie, logo após o serviço de RÊDE DE ESGOTOS, o calçamento de nossas principais praças e ruas. Não se deve, absolutamente, deixar que a cidade se estenda do bairro do Cruzeiro à margem do Paranaíba para então se cogitar desse relevante empreendimento!…

6) ESTRADAS E PONTES – Urge que se construam em todo o Município, praticando-se um áto de verdadeira justiça social para com a grande classe de pecuaristas e agricultores as primitivas estradas reias, de rodagem com as suas pontes e pontilhões. Isto, porque, com a construção e conservação das atuais estradas de automóveis, aquelas vieram quasi a desaparecer, tornando-se intransitáveis, mórmente as que se convergem para a Cidade.

A Estrada de Automóvel desde a ponte do Paranaíba ao Hospital Regional deve também ser transformada numa ampla avenida, arborizada e cuidada sempre com desvêlo por ser a porta larga que dá entrada à Cidade. Indispensável se torna lembrar, aqui, as vantagens extraordinárias que traria, aos habitantes dalém Paranaíba e a todos em geral, a construção de uma ponte no mesmo rio, no local denominado PORTO DAS POSSES. A ponte da estrada de SANT’ANA à LAGÔA FORMOSA e CARMO DO PARANAÍBA e a das TRÊS BARRAS estão igualmente a exigir urgente reconstrução. Outra medida, que, nesse assunto, deve ser cuidada logo e com solicitude, por parte da Prefeitura, auscultando os interesses comerciais do Município, é aquela da boa conserva de todas as estradas de automóveis que nos ligam aos povoados, distritos e cidades vizinhas e principalmente a abertura de outras com a de SÃO GONÇALO e a de SANTO ANTONIO DO BONITO, onde centenas de garimpeiros conterraneos nossos trabalham intensamente em busca de preciosas gemas e fazem as suas compras fóra por falta, exclusivamente, de um meio rápido de comunicação com a séde do Município.

7) RÊDE TELEFÔNICA – Não se póde explicar por que motivo PATOS DE MINAS, sendo um centro comercial de primeira ordem, ainda não possua uma bem organizada EMPREZA DE TELEFONES. Torna-se, pois, indispensável que o Govêrno Municipal incentive e ampare a quem resolva dotar a nossa Cidade com esse importante e imprescindível empreendimento, ligando-a por ótima rêde telefônica, não só aos distritos e cidades vizinhas, mas também aos grandes centros.

8) URBANIZAÇÃO DA CIDADE – Não se precisa ter ólhos de lince para enxergar os defeitos arquitetônicos de pequenos prédios espalhados por todas as nossas ruas e praças. A construção, portanto, de prédios no perimetro urbano, cujas frentes não correspondam às exigências modernas, deve ser evitada a bem não só do mesmo proprietário como principalmente do embelezamento geral das nossas ruas e avenidas.

A planta da Cidade deve ser rigorosamente respeitada condenando-se tudo o que seja arcaico, e esteja fóra do alinhamento. Outra medida inadiável é que sejam numerados todos os prédios; que se coloquem placas com os respectivos nomes em todas as ruas; e, finalmente, que todas as praças sejam transformadas em lindos jardins públicos, fartamente iluminados, contratando-se, para esse fim, um técnico urbanista.

9) MERCADO MUNICIPAL – Ante o grande desenvolvimento comercial de PATOS DE MINAS e aumento sempre crescente da sua população, a construção de um amplo Mercado que prime pelas rigorosas exigências do asseio e conforto, se impõe taxativamente por facilitar e modernizar as transações comerciais diretamente entre produtores e consumidores de generos alimentícios de primeira necessidade, evitando-se, assim, em parte, os vendedores ambulantes sem fiscalização sanitária.

Como deve ser extranho às inúmeras famílias que teem fixado residência aqui, ao serem forçadas a atender, centenas de vezes por dia, em suas casas, aqueles que exploram diretamente a venda de aves, óvos, frutas, cereais e hortaliças. Quem, como nós, estamos acostumados de há muitos anos a ouvir o insistente batido à porta e o insistente “quer comprar?”, não nos admiramos mais… Porém, na realidade, quanto sofrem as donas de casa com esse arcáico sistema! Reafirmamos, pois, a construção de um confortável MERCADO, torna-se necessária aos ólhos de todos aqueles que aspiram o nosso progresso.

10) MATADOURO MUNICIPAL – Já o possuimos e bem instalado fôra de início, mas, está atualmente a exigir uma geral e completa reforma com rigorosa observância da higiene que alí deve sempre vigorar, a bem da saúde pública, visando-se, outrossim, defender os interesses dos senhores Açougueiros, proporcionando-lhes acomodações próprias e asseiadas para conservar o gado a ser abatido, o qual não deve ficar exposto ao sol, à chuva, à fome, ao cansaço, assim como entregar aquele serviço sempre a pessoas que correspondam à responsabilidade do cargo ocupado.

Outras duas medidas profiláticas concernentes ao serviço do Matadouro e que, por sua vez, devem ser postas em prática: o exame sanitário, por clínico veterinário, das rezes a serem abatidas; e o transporte da carne ao açougue, o qual deve obedecer especiais cuidados de asseio, arejamento, proteção sistemática contra poeiras e as moscas tíficas. Cumpre-nos, aqui, chamar a atenção de todos, que é pela carne de porco, que se transmite ao homem a TENIA SOLIUM e a TRIQUINOSE pela TRICHINA SPIRALIS.

11) PANAIR DO BRASIL, S.A. – Esta grande empreza que veiu nos beneficiar extraordinariamente, pondo-nos em contato rápido com as capitais Federal, de Minas e Goiaz, não deve, jamais, encontrar aqui a mínima dificuldade em se instalar definitivamente, podendo assim oferecer aos seus viajantes ao descerem em PATOS DE MINAS o máximo conforto, o que redundará em nosso próprio proveito, porque significar-lhes-á que somos um povo amante da civilização e do progresso.

12) MELHORAMENTOS PARTICULARES – Achando-se a Prefeitura à frente dos destinos do Município, deve estar logicamente também à frente de tôdas as realizações que visam o bem da coletividade. Logo deve incentivar as emprezas particulares que teem por mira o nosso engrandecimento quer material, quer moral, quer intelectual, isentando-as de taxas onerosas ou fornecendo-lhes gratuitamente nos primeiros anos de funcionamento: água, luz e energia elétrica, uma vez construam prédios de vulto, destinados a hotéis, cinemas, bancos, fábricas e clubes importantes, como o da Sociedade Recreativa, Aero-Clube, Cine-Tupan, Cine Olinta, Magnífico Hotel, Ginásio Municipal, Casa de Saúde Imaculada Conceição e a nova Matriz ou futura Catedral.

13) CADEIA E REPARTIÇÕES PÚBLICAS – Ao Govêrno Federal solicitar para que se edifique um prédio próprio para o funcionamento dos Correios e Telégrafos, pois, o nosso crescente aumento da população assim está a exigir a bem da garantia e conforto, não só do público, como dos funcionários daquela repartição. Para isso torna-se preciso que a Prefeitura faça a respectiva doação do terreno e o Govêrno então, atenderá ao povo de PATOS DE MINAS, como estamos informados, nessa sua justa aspiração.

ZICO 4Ao Govêrno Estadual fazer-lhe sentir a necessidade dos dois melhoramentos abaixo e que a ele se acham afetos:

a) – A remodelação completa da Cadeia Pública local, transformando-a, inclusive a parte superior do edifício, antigo Forum, numa prisão confortável, dispondo de um dormitório limpo e um pátio onde os encarcerados possam tomar sol e respirar um ar mais puro. A privação da liberdade é o seu maior castigo! Para que então aumentar-lhes os sofrimentos e encurtar-lhes a existência, obrigando-os a passar dias, meses, anos entre as quatro lúgubres paredes de uma prisão anti-higiênica?!…

b) – A construção de um prédio próprio para instalação definitiva do Posto de Profilaxia desta Cidade, o qual até o presente tem funcionado em prédios alugados, o que em absoluto não condiz com o fim a que se destina.

14) DISTRITOS E VILAS – Ao CHUMBO, SANT’ANA DE PATOS, LAGÔA FORMOSA E VILA GUIMARÂNEA levar de um modo geral os melhoramentos que, como a Séde do Município, estão necessitando para o seu bem estar e devido conforto.

E todos eles pelas suas rendas próprias e pagamento de impostos não fazem plenamente jús a que sejam igualmente beneficiados?!…

15) ESTRADA DE FERRO – Seria desnecessário encarecer, aqui, em nossas ASPIRAÇÕES, as vantagens extraordinárias que adviriam a PATOS DE MINAS e aos Municípios vizinhos, se um ramal da R. M. Viação viesse nos ligar aos grandes centros. Entretanto, para finalizar o nosso modesto trabalho, façamos algumas considerações justificativas, do que pensamos a respeito deste relevante assunto. Falar em PATOS DE MINAS, é falar da Princêsa de uma região riquíssima em madeiras de lei e possuidora, como inicialmente registramos acima, evocando a opinião insuspeita e valiosa do dr. Fernando Costa, das melhores e mais férteis terras de Minas Gerais.

E S. Excia., tão bem e fortemente impressionado ficou ante o que pessoalmente verificou, que PATOS DE MINAS, eternamente grata, deve-lhe a instalação, aqui, da ESTAÇÃO EXPERIMENTAL DO SERTÃOZINHO, cujas obras montaram para o Govêrno Federal, em dois milhões e seiscentos mil cruzeiros. Isto importa em afirmar que as nossas terras produzem de tudo e da melhor qualidade! De fáto, embora à força dispendiosa de gasolina, PATOS DE MINAS, exporta de tudo para os grandes centros. Haja visto a espantosa produção e exportação do nosso afamado feijão, cujo número de sacas eleva-se em uma média de cento e cinquenta mil anualmente, e denominado injustamente “Feijão Catiára”. Conclue-se, pois, que vimos de há muito tempo prescindindo desse meio fácil, rápido e barato de transporte e conmunicação, o qual uma vez conseguido concorrerá admiràvelmente para o nosso maior e espontâneo engrandecimento, assim como beneficiará muitíssimo aos inúmeros compradores de fóra que, aqui, a miude veem se abastecer e se enriquecer com a nossa fantástica produção de gêneros de primeira necessidade.

Cabe, portanto, ao povo em geral, pelas suas laboriosas classes: comercial, industrial, agrícola, pecuarista e liberal, pelas suas cinco Agências Bancárias, aqui, otimamente instaladas em Edifícios próprios, levantar-se com o seu novo e futuro Prefeito à frente e unidos em um só élo de perfeita união de vistas e solidariedade, pleitear junto ao Govêrno Federal para que êste, transformando a Estação do Sertãozinho, em Instituto Experimental do Brasil Central, visto já se cogitar de fundá-lo em Minas, e consequentemente mandando ou visitando pessoalmente por S. Excia. o Sr. Presidente, uma das mais ricas, salubres e futurosas Regiões de Minas Gerais, faça chegar aqui, praticando um ato da mais elevada justiça administrativa e do mais puro e sadio patriotismo, um – RAMAL DA ESTRADA DE FERRO.

* Foto 1: Capa do manuscrito, do arquivo da Biblioteca do Unipam.

* Foto 2: Zico Amorim, do arquivo da Sociedade Recreativa Patense.

* Foto 3: Panorâmica na década de 1940, do arquivo de Dácio Pereira da Fonseca.

* Foto 4: Avenida Getúlio Vargas na década de 1940, do arquivo da Fundação Casa da Cultura do Milho.

* Foto 5: Antiga Matriz na década de 1940, do arquivo do jornal O Tablóide (Fernando Kitzinger Dannemann).

 

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