Wulfrâno Patrício ou Patrício Filho, certamente não precisa de apresentação nenhuma. Afinal quem tem só de Rádio Clube de Patos, trinta e quatro anos, tem que ser muito conhecido em toda a região. Assim, vamos direto ao assunto.
Destes trinta e quatro anos, neste ele completa o seu “Jubileu de Prata” com um programa de grande valor folclórico e também assistencial – O Encontro das Folias. E também, não há necessidade de explicações, principalmente porque dentro da entrevista tudo foi muito bem colocado.
Portanto, parabéns Patrício e até o “Jubileu de Ouro”, se Deus quiser.
Como foi que começou tudo isso? A idéia do programa, o motivo e tudo mais?
Aconteceu tudo naturalmente. E por incrível que pareça o motivo inicial foi político. Começou na campanha do saudoso Deputado Binga para a Prefeitura em 1958. Foi ai que começaram a aparecer as primeiras Folias de Reis para se apresentarem ao microfone da Rádio Clube de Patos. A primeira mesmo, nós gravamos na Mata dos Fernandes, com a folia do Zé Branquinho, que era muito famosa na época. O Zé Branquinho ainda é vivo e me parece que reside em Lagoa Grande.
Naquela época a campanha eleitoral era muito movimentada, e esse pessoal quis prestar uma homenagem a Sebastião Alves do Nascimento fazendo uma festa onde a folia se apresentou. E isso se tornou uma coisa muito interessante porque dentro dos seus versos eles incluíam o nome do candidato e pediam votos, e coisa e tal. Porque os nossos foliões, como são chamados, organizam as letras que são apresentadas pelos grupos. Eles ligam o nascimento de Cristo a outros acontecimentos. Agora, por exemplo, eles cantam o nascimento de Cristo, e ao mesmo tempo trazem suas ofertas colhendo esmolas ao Dispensário São Vicente de Paulo, lembrando os acontecimentos de hoje.
O que acontece é que as Folias de Reis aqui em Patos de Minas, tiveram duas fases. Antes e depois do início de suas atividades e apresentações através de nossa programação sertaneja na Rádio Clube de Patos. Acho que nós assim podemos considerar. Anteriormente as Folias de dedicavam na roças, às suas visitas tradicionais, às suas festas e entrega de coroa, pedindo esmolas e não sei qual a destinação anteriormente dada a elas.
Inclusive elas eram muito condenadas pela Igreja Católica, porque não traduziam o sentido cristão, religioso. Elas traduziam uma maneira do pessoal se juntar e passar a fazer festa pagã, vamos dizer assim, pois ali entrava muita comida, muita bebida, e o sentimento religioso era deixado de lado.
Mas depois desse evento, que foi a apresentação da primeira folia, o pessoal parece que gostou e começaram a aparecer outras folias durante a campanha eleitoral que se desenvolvia. Todas sempre querendo homenagear os candidatos da época. Porque os partidos já tinham os seus grupos de foliões, e isto foi fazendo com que tudo se desenvolvesse em torno de política.
Quando chegou o mês de janeiro algumas nos procuraram para vir se apresentar, e então, começaram a trazer esmolas, dizendo que eu as destinasse a entidade que quisesse. Nós pensamos em doá-las aos menos favorecidos da sorte, através de uma entidade que pudesse realmente nos ajudar neste intento. Procuramos o Dispensário São Vicente de Paulo, que já era uma entidade organizada, destinando essas esmolas a ele. E as coisas foram acontecendo. Já no ano seguinte apareceram mais grupos, depois mais, até que organizei esse encontro, que em todo mês de janeiro é levado a efeito.
O movimento foi crescendo de uma maneira tal que, para orgulho nosso, hoje têm renome nacional com citações em revistas e jornais de circulação em todo o país. Agora foi para o cinema, para a televisão…
Hoje nós temos programas no mesmo estilo em várias cidades da região, como Abadia dos Dourados, Campos Altos, João Pinheiro, Lagoa Formosa, através de suas transmissões pelas emissoras locais e também na antiga TV Uberaba. Não sabemos que destinação eles dão ao dinheiro arrecadado. Não vai aqui nenhuma crítica, é que não sabemos mesmo se as emissoras cobram ou se não cobram, ou qual o fim do dinheiro arrecadado. A Rádio Clube nunca cobrou nada. Nós apresentamos todo mês de janeiro sem nenhuma remuneração e com toda a arrecadação destinada ao Dispensário.
O ano passado nós chegamos a arrecadar Cr$ 3.500.000,00 em dinheiro, e com as ofertas fizemos um cálculo aproximado de Cr$ 4.000.000,0. Este ano calculamos alcançar a faixa dos Cr$ 5.000.000,00.
E o fato disto ocorrer sempre no mês de janeiro, tem alguma motivo especial?
Não. Tanto que a primeira apresentação nem foi no mês de janeiro. Foi antes de outubro, porque a eleição naquela época era realizada no dia três de outubro.
Acontece que no mês de janeiro é que os grupos começaram a nos procurar para verem a possibilidade de se apresentarem em nossos microfones. Antes de iniciarmos, nós fizemos um trabalho muito grande de conscientização, inclusive procurando as nossas autoridades religiosas para não entrarmos em conflito. E o que no início poderia parecer condenável foi se transformando. Hoje nós temos as nossas autoridades religiosas como entusiastas desse movimento.
Porque também as folias não se dão mais ao luxo de beber pinga e comer muito. Eles fazem suas festas, fazem suas recepções, mas o grande objetivo é arrecadar esmolas em favor dos nossos pobres.
O espírito religioso se aguçou tanto, que o Bispo faz um congresso no mês de julho com as nossas folias de toda região, mantendo um maior contato, doutrinando e fazendo com que nossos foliões conheçam melhor a história do nascimento de Cristo e como devem tratá-lo com respeito.
Então quer dizer que o fato das contribuições trazidas pelos foliões, foi um fato espontâneo?
Exato. A primeira idéia foi a de se mostrar o trabalho das folias. Inclusive dando-nos um enorme trabalho, já que nós tínhamos não só que apresentar as folias que vinham à rádio, como também tendo que ir gravar diretamente outras no local onde a festa se realizava.
Foi um trabalho que surgiu espontaneamente, e nós nunca pensávamos na vida que pudesse alcançar a dimensão que veio a alcançar.
Atualmente, existem quantos grupos de folias participando deste trabalho?
Isto depende um pouco, porque costumo geralmente encerrar a Festa de Reis, na primeira semana de fevereiro. E sempre no domingo. Por exemplo, no ano passado tive uma semana a mais porque o primeiro domingo deste mês foi dia sete. Agora, esse ano o dia trinta e um cai numa segunda feira, então vou encerrar neste dia.
Portanto tenho menos dias, além disso o pessoal aprendeu uma coisa: todo mundo quer deixar para os últimos dias para fazer uma campanha melhor de arrecadação. E isto traz uma certa dificuldade com satisfazer todo mundo. No ano passado tive 104 folias inscritas. Não apresentei todas: faltaram 19. Esse ano temos 99 inscritas, mas já falharam 4, o que aliás é uma porcentagem muito pequena. Além disso, todas as faltas foram por motivos muito justos: um capitão morreu quando da saída da folia para iniciar o giro; o filho do capitão de uma das folias faleceu há poucos dias; um dos componentes de uma das folias sofreu um derrame cerebral e a folia de Campos Altos não pode vir por falta de condução.
Assim, tenho por enquanto, 92 folias garantidas de se apresentarem, e tenho certeza que ainda aparecerão mais algumas nos últimos dias. Não há no nosso movimento nenhum sentido de competição, isto nós fizemos questão de impor porque quando há competição, há disputa e isto traz rixa… Inclusive já recebemos muitas ofertas de firmas da região para patrocinar as folias com prêmios em troféus, em dinheiro, para os primeiros colocados, mas recusamos para que o movimento não perca esse caráter que é de participação.
Nós não vemos qual o interesse de divulgar qual a melhor folia, ou qual a que arrecadou mais. Nós só queremos a participação dos grupos de folias da região, para preservar esse folclore tão bonito que nós temos aqui. Acho até que hoje em dia é o maior repositório cultural em matéria de folclore na região, as nossas Folias de Reis.
Inclusive por isto, recentemente procurei uma entidade cultural da cidade, a FUCAP, através do João Marcos, do Nelsinho e do Marquinho da Rádio, para oferecer a essa entidade uma participação a partir do ano que vem. Assim, uma entidade que tenho certeza, vai se tornar algo de peso, vai poder nos ajudar a continuar esse trabalho. Estou com quase 60 anos de idade, 25 anos de Folias de Reis, preciso de apoio. Esse apoio deve ser de jovens, para dar continuidade, porque tudo pára um dia. Mas este movimento não pode parar, e para isto com uma entidade cultural à frente de tudo, será muito mais fácil.
Uma coisa que nós procuramos deixar bem claro, foi esse caráter beneficente que não poderá desaparecer nunca. Agora, que o movimento cresça cada vez mais culturalmente falando, com o apoio da FUCAP, com sua organização, porque me confesso um desorganizado. Sempre trabalhei muito, produzi muito em toda a minha vida, mas sempre fui um desorganizado.
Esta será a função da FUCAP, ela poderá organizar tudo a partir do próximo ano. Uma promoção Rádio Clube de Patos e FUCAP. Ai eu vou para o microfone explicar, para o pessoal das folias. Tudo muito bem explicadinho.
Você acha que com o passar dos anos, com a apresentação dos programas no rádio, aumentou o número de folias na região?
Assustadoramente. As folias se desdobraram, com os grupos às vezes se partindo, e se transformando em duas folias de uma mesma região.
E não só da região, como várias outras folias poderiam participar do programa. Nós só não apresentamos hoje folias de Goiás, porque nós mesmos tentamos explicar que isto ficaria muito dispendioso. Inclusive no ano passado viria uma e não veio. E nesse ano nós fomos procurados de novo.
Mas aqui num raio de 360 kms, nós apresentamos já este ano a Folia de Quartel Geral, que fica para lá de Dores do Indaiá.
Fora da região do Alto Paranaíba, você tem conhecimento de outros encontros de Folias, ou trabalhos neste sentido?
Eu praticamente conheço muito pouco da história da Folia de reis. Mas de vez em quando ouço no Projeto Minerva a apresentação de Folias. Já ouvi as folias de Três Corações, no Sul de Minas. São boas folias, mas não se comparam com as nossas de jeito nenhum. Não posso dizer quais as melhores, para não melindrar a sensibilidade de ninguém, mas nós temos folias aqui realmente notáveis.
São verdadeiros conjuntos vocais do mais alto gabarito. Folias para fazer coro para o Milton Nascimento cantar. Realmente sem defeito algum.
Por falar nisso, o que você vem achando do trabalho de músicos e pesquisadores musicais, como o próprio Milton, Dércio e Doroty Marques, e tantos outros, que estão tentando preservar essa nossa cultura popular?
É uma tendência natural, tentar preservar as raízes da nossa música. Essa é a conclusão mais lógica a que o artista pode chegar – preservar as nossas folias, a nossa glória. Cantar as nossas coisas, que podem ainda ser melhoradas, para todo mundo conhecer esse trabalho nosso aqui no interior.
Uma vez em Belém do Pará, estive conversando com um amigo dos meus filhos, que é sociólogo, e que assistiu ao curta-metragem sobre as folias daqui. Ele me disse que ficou fascinado e gostaria muito de conhecer isto tudo de perto, já que só conhecia através de livros.
Existe um forte interesse da classe intelectual brasileira em preservar esse nosso folclore, em mantê-lo vivo.
Aquela vez que o Dércio Marques esteve aqui no encerramento, como foi que os foliões sentiram o trabalho dele?
Ah, os foliões adoraram. O Dércio é uma figura muito simpática, e a gente nota, um eterno lutador pelas raízes da nossa música. Só está faltando a ele o lugar que merece dentro da MPB. Mas vai chegar lá, porque ele luta para alcançar este objetivo. Foi uma satisfação muito grande contar com a presença dele em uma de nossas festas de encerramento.
Dizem inclusive que ele está com a idéia de gravar um disco, “Fulejo”, só com folias. Vai ser ótimo mesmo. De forma que foi uma satisfação tê-lo aqui e será ótimo se pudermos recebê-lo novamente.
E estas entidades ligadas ao folclore, como a Comissão Mineira de Folclore, nunca fizeram nada para incentivar este trabalho?
O Deputado Binga me falou muitas vezes nesta Comissão, mas o que acontecia é que eu não tinha meios de chamar este pessoal aqui para recebê-los. Nossa campanha tem o objetivo de levar donativos ao Dispensário, e eu não posso tirar dessa renda uma despesa de hotel, de viagem, essas coisas.
Isto vai ser trabalho da FUCAP. É a divulgação que nós queremos. Ativar a Comissão Mineira de Folclore, o Projeto Minerva, o Mobral, e todos esses órgãos que possam se interessar por este trabalho. Agora que nós temos nossos Deputados, a FUCAP deve entrar em contato com este pessoal para trazê-los aqui.
Mas aí nós temos que organizar, e não apresentar isto que venho fazendo. Porque sozinho, é muito difícil; organizar cem folias que representam mil e quinhentas pessoas no mínimo. E apresentar oito folias em um só dia, das 6:00 horas da manhã às 6:00 da tarde, uma pessoa só, acaba dando para cansar.
Além disto, fazerem gravações e enviá-las a todo mundo. Eu sei por exemplo, que temos folias daqui de Patos gravadas na França, Alemanha e Estados Unidos. E também, o curta metragem feito graças ao Oswaldo Amorim e ao grupo da EBN, que rodou não só todo o Brasil, como vem sendo divulgado em todo o mundo, através das Embaixadas Brasileiras.
A FUCAP deverá ampliar este trabalho, e fazer a sua história para depois contá-la por ai. Assim espero que nosso movimento fique conhecido. Não quero nada a respeito de meu nome. Quero que as folias de Patos de Minas e da região fiquem conhecidas. Disse ao João Marcos: “Quero que Patos se torne a capital brasileira das Folias de Reis, já que capital brasileira do milho, nós não somos há muitos anos.
Patos poderia se tornar a Rainha das Folias de Reis. Seria uma boa idéia para se lançar na Festa do Milho.
Na Festa do Milho não funciona muito bem. Nós temos apresentado algumas a pedido do Sindicato Rural, mas não há tempo. A Folia não pode ser apresentada muito rápido.
Uma vez nós enviamos uma das folias para cantar na TV Uberaba, mas eles vieram de lá insatisfeitos. Foram lá tiveram um trabalho medonho para conseguir condução, hospedagem, tudo muito caro, para se apresentarem durante três minutos. O pessoal voltou frustrado.
Eles querem mostrar sua arte, mas querem ter tempo. Porque se deixar eles cantam uma hora, uma hora e tanto. No nosso programa, eles podem apenas demonstrar, com vinte ou vinte e cinco minutos, para cada uma, conforme o espaço que temos.
Assim, na Festa do Milho, a não ser que destinassem um dia para ser o “Dia das Folias de Reis”, não há condições. Poderíamos inclusive fazer uma espécie de competição, já que isto não iria interferir no programa para o Dispensário, e temos certeza que Folias interessadas em vir, não haveriam de faltar.
Audiência também não seria problema, não é mesmo? Pelo menos no programa parece que isto não é mais.
Este é um aspecto muito importante, porque a audiência das folias aqui em Patos e na região é uma coisa extraordinária. Na época do programa a região toda acompanha tudo. Ou para esboçar a sua opinião quanto a qual a melhor, ou para ver qual a que trouxe a maior renda. A gente vê na rua, ou por telefonemas que recebemos um interesse extraordinário. E hoje em dia, todas as classes sociais se interessam pelas Folias de Reis.
Nestes 25 anos de programa, devem ter acontecido vários incidentes marcantes, não é mesmo? Cite as coisas inesquecíveis.
A nota mais marcante de todos os programas de Folias de Reis que já apresentei na vida, foi muito triste.
No ano passado, um elemento de uma folia do município de Lagoa Formosa, depois de ter se emocionado falando pela primeira vez em um microfone, mandado sua mensagem aos seus familiares e amigos, afastou-se para o seu local e tocando seu instrumento começou a tremer e foi caindo aos poucos. Mandamos que o deitassem. Os companheiros já nervosos, dizendo que ele sofria de Chagas e em poucos instantes ele estava morto.
Teve também uma vez, quando uma folia também de Lagoa Formosa, vinha para participar da Festa do Milho. Era isso mesmo, que ocorreu um desastre com o ônibus deles e morreram quatro pessoas de uma vez. Isto até deu origem a uma música sertaneja da dupla “Pedrinho e Toninho”, chamada “Quatro Cruzes da Saudade”. Dois acontecimentos muito marcantes e tristes ao mesmo tempo.
E alguma coisa que teve a sua importância pelo caráter cômico? Alguma dificuldade com o microfone, ou algo assim?
Lembro-me de uma vez que o cidadão que foi fazer o oferecimento da folia, se entusiasmou muito e disse mais ou menos o seguinte: “Ofereço para minha mãe, ofereço para o meu tio, para o cumprade fulano de tal, para isso, aquilo e ofereço para minha esposa fulana de tal e para minha namorada Maria de tal”.
Ai eu entrei no microfone: “Que é isso rapaz”…
Outro fato interessante, ocorreu com a vida do governador Magalhães Pinto, aqui em uma “Roda de Violeiros”. Não sei se isto pode ser importante agora…
Pode contar.
Bom, o fato é que era uma competição, e portanto havia prêmios. Prêmios para primeiro, segundo e terceiro colocado. E ai nós anunciávamos: “E atenção, para o primeiro colocado, além do troféu e do prêmio de tantos mil cruzeiros em dinheiro, uma oferta de Carrocerias Titan a dupla vencedora vai receber um milhão. Isto foi falado durante todas as eliminatórias e perguntavam: “Mas um milhão?” E eu respondia: “É, um milhão”.
Acontece que o Lourinho, lá nas máquinas das Carrocerias Titan havia confeccionado um grão de milho de meio metro de comprimento mais ou menos. E na hora de entregar, nós chamamos o Governador para entregar. Acontece que ele achou tão interessante que pediu e levou o milhão para ele.
(De forma que o Magalhães Pinto gosta de milhões não é de hoje).
Teve também este ano, uma coisa que me emocionou muito. É que o Capitão Lico da EVA, de Lagoa Formosa, trouxe sua mãe com 113 anos para assistir sua apresentação aqui, e ela nos deu um novelo de linha que fiou com as próprias mãos. Coisa muito emocionante.
Inclusive essas lembranças dos foliões são muito comuns, não é mesmo?
Ah, sim. Muitas folias trazem lembranças para o “patrício”. Artesanatos como carros de boi em miniaturas, completos, feitos por eles mesmos. Porque muitos foliões são artistas artesanais, que inclusive fabricam seus próprios instrumentos, até mesmo rebecas.
Eu tinha lá em casa muitos desses instrumentos, caixas, rebecas, pandeiros, reco-reco, mas… pode reproduzir ai… o Professor Oliveira Mallo me levou isto. Me levou e está adornando a casa dele. Mas isto é um patrimônio que ele ainda pode devolver um dia, inclusive por termos planos de fazer o “Museu da Folia”.
Também é uma pessoa que como historiador e incentivador do folclore, tem dado muito apoio a este trabalho. Não é isso?
É verdade. Ele tem dado um bom apoio. Agora ultimamente ele se afastou, como se afastou da nossa imprensa, o que lamento profundamente, porque ele é uma pena brilhante.
Mas ele sempre foi um entusiasta das nossas raízes, nosso folclore, prestando um bom serviço nos acompanhando, incentivando e escrevendo muita coisa sobre as folias. Realmente ele deu muita divulgação. Nós temos que agradecer e reconhecer o seu trabalho, sem dúvida alguma.
Existe alguma coisa programada para comemorar este “Jubileu de Prata”, ou vai ser só mais um ano?
Não. É só mais um ano, nós não temos pretensão nenhuma, maior que a da campanha. Este é o nosso único objetivo.
Alguma mensagem especial para encerrarmos?
Bom, nós agradecemos ‘A Debulha” por ter lembrado os 25 anos do nosso movimento, porque foi o único órgão de divulgação do nosso município que nos procurou. Então, à direção da Revista, a vocês que nos entrevistaram, nós agradecemos imensamente em nosso nome, em nome do Dispensário, em nome doa capitães e de seus companheiros de folias da região toda por essa deferência em nos entrevistar.
Também os nossos melhores agradecimentos às nossas autoridades, que têm nos prestigiado tanto, ao Dispensário, um agradecimento todo especial e aos capitães de folias e seus companheiros o nosso Deus lhe pague pelo muito que eles têm feito na preservação do nosso folclore e em benefício dos nossos pobres.
E a esperança que a FUCAP nos ajude a realizar um bom trabalho daqui para frente, por que um dia o “Patrício” terá que parar.
Esperamos que este dia demore muito ainda.
* Fonte: Entrevista de João Vicente D. Pacheco, Edson Nunes Júnior e José Clarete da Silva publicada no n.º 63 da revista A Debulha de 15 de fevereiro de 1983, do arquivo do Laboratório de História do Unipam.
* Foto 1: Arquivo do jornal Folha Patense.
* Foto 2: Arquivo da revista A Debulha.
* Foto 3: Folia do Capitão Zé Branquinho, do arquivo da revista A Debulha.
* Foto 4: Folia do Capoeirão do Badú.