Filho de Juvêncio Cyrino Ribeiro e D.ª Flaviana Albina da Silva, nasceu em Patos de Minas em 12 de fevereiro de 1897. Cursou a escola do Professor Modesto, que pertencia ao Estado, até o 3.º ano primário. É casado desde 1926, com D.ª Odete Conceição Cyrino. Teve dez filhos, dos quais sobrevivem oito: Dr. Antônio Cyrino Sobrinho, casado com Ivone Silveira Cyrino; Maria de Lourdes Oliveira, casada com Dorinato Rodrigues de Oliveira; Dra. Cleonice Aparecida Cyrino, solteira; Nelson Eduardo Cyrino (Gibão), casado; Prof.ª Terezinha Carmen Cyrino Rodrigues, casada com Délio Rodrigues da Silva; Marli de Fátima Cyrino Generoso, casada com Antônio Generoso Filho; João Cyrino Filho, casado com Cleuza Alves Cyrino e Marilda Abadia Cyrino, solteira. Tem 18 netos.
Ao sair da escola o que o senhor foi fazer?
Fui trabalhar com meu pai, que era carpinteiro. Fazia portas, janelas, esquadrias em geral, e serviço de travamento de casas.
Quanto tempo o senhor trabalhou com ele?
Durante uns quatro anos. Depois ele foi fazer uma ponte no Areado e achou que eu não deveria ir, porque lá era um lugar muito ruim, muito deserto, muito doentio e ele determinou que eu ficasse na farmácia do Agenor Dias Maciel, para praticar com ele. Eu tinha então, 15 anos e fiquei na farmácia durante 4 anos.
E depois da farmácia?
Quando saí da farmácia, voltei a trabalhar com o meu pai, em serviço de carpintaria, em uma oficina que ficava naquela casa em frente ao Cine Riviera, onde está a Lanchonete Pigalle e lá, ele tinha oficina de serraria, carpintaria e ferraria. Mais tarde, deixei o serviço de meu pai e fui trabalhar na empresa do José Rangel: lá nós construíamos as carrocerias dos ônibus, que então chamávamos de jardineiras. Depois deixei o José Rangel e montei uma marcenaria manual, ao lado da igreja velha, na atual Praça Dom Eduardo, para confecção de móveis. Em 1922 estive em Belo Horizonte e trabalhei na construção do antigo prédio do Banco Hipotecário, na Praça Sete e de lá passei uma temporada em Patrocínio com uma pequena marcenaria manual. Em 1926 retornei a Patos e foi neste ano que eu me casei. Quando foi iniciada a construção do Hospital Regional, fui chamado para ser encarregado do serviço de carpintaria, ou seja travamento, forros e esquadrias (portas e janelas). A construção era executada por uma firma de Barbacena que pegara o serviço do Governo do Estado de Minas, quando era Presidente o Dr. Olegário Maciel.
Terminada a construção do Hospital Regional, qual foi a sua atividade?
Montei uma marcenaria e carpintaria na Rua Marechal Floriano, entre a Dr. Marcolino e D. Luiza e dali fui novamente chamado para trabalhar nas obras que seriam realizadas pelo Governo do Dr. Olegário ou sejam: Forum “Olympio Borges”, Escola Normal e Grupo “Marcolino de Barros”, além de um grupo em cada distrito de então (Lagoa Formosa, Guimarânea, Santana, Areado, Presidente Olegário e até João Pinheiro). Também neles fui encarregado de todo o serviço de carpintaria. Todas estas portas, janelas e marcos que existem ainda nestes prédios, passaram por minhas mãos e naquela ocasião aprendi muito, pois vinham engenheiros muito bons e competentes para nos orientar. Tudo lá foi feito com bálsamo, jacarandá, cedro, emburana (que hoje eles chamam cerejeira) e cangica. Inclusive aquele serviço de lambri que ainda existe hoje, no salão do júri do Forum, foi feito por mim. Eu era encarregado do Amadeu Maciel que havia montado serraria e marcenaria na esquina da Avenida Brasil com Rua Dr. Marcolino, para a execução daquelas obras e quando elas terminaram ele me disse: “Você agora vai ficar com a serraria”. Então ele me vendeu a serraria montada, com muitas máquinas, dois engenhos e tudo para eu pagar em 8 anos, com juros de 8% ao ano, que eram pagos de seis em seis meses.
O senhor comprou a serraria sozinho?
Aí eu fiz sociedade com a firma Sebastião Alves e Irmãos constituindo a firma João Cyrino e Cia. Ltda. e então nós construímos as dependências da Estação Experimental do Sertãozinho (a sede e outras coisas mais). Realizamos todos os serviços de pedreiro, carpinteiro, bombeiro, eletricista e pintor. Ao terminarmos a construção do Sertãozinho, a firma continuou atuando no ramo de construções e construímos o Edifício Tupan, onde havia o cinema (onde hoje existem as dependências da Eletrodias, Imperatriz dos Calçados, Casa Soares e outras firmas). Depois construímos aquele prédio do João Teotônio de Castro (onde estão a Chicazinha, Janes Stúdio e Farmácia Sul Mineira); a casa do Mário Noronha, na Rua José de Santana (onde até há pouco funcionava a Charitas Diocesana e hoje existe o Edifício Dom José); depois construímos três casas residenciais na Rua Dr. Marcolino, entre a Avenida Brasil e Rua Marechal Floriano (as do Lauro Santos, Américo Coelho e Joaquim Burgos). Naquela época, construí três casas na Rua Major Gote (do Dr. Omar, do Manoelzinho Teixeira e Juca Ribeiro) e o sobrado da esquina com a Rua Farnese Maciel (em frente ao Alvorada), onde morei durante muitos anos. Depois dissolvemos a firma. O prédio da Rádio Clube de Patos também foi construído por mim.
Mais ou menos quantas construções o senhor executou, entre prédios e casas?
Nunca tive o cuidado de contar, mas acredito que deve ser no mínimo umas 50 e 60. Esqueci de falar no aumento que fiz no Hotel dos Viajantes, da construção dos sobrados do Joãozinho Andrade, do Bar Brasil (na esquina da Avenida Brasil com Rua Dr. Marcolino) e deste onde moro (Av. Getúlio Vargas); as casas do Camundinho, do Armando Magalhães, do Randolfo (onde hoje mora o Dr. Dácio), do Zé Mico e muitas outras.
Quando a firma foi dissolvida, o senhor continuou no ramo de construções?
Quando dissolvemos a firma, o Sebastião Satiro ficou com a serraria e eu assumi a cerâmica que havia sido construída pela serraria. A serraria tinha desenvolvido muito. Tínhamos comprado um locomóvel de 10 HP, porque a força aqui era muito ruim e não dava para tocar as máquinas. Tínhamos carpintaria e marcenaria. Fabricávamos móveis. Desdobrávamos madeira, vendendo madeira para travamentos de casas. Fabricávamos tábuas para assoalho e para forro, tacos e uma porção de coisas mais. A Cerâmica era a “São João”, que funcionava na esquina da Avenida Brasil com Rua Dona Luiza (onde se encontram as instalações da Patos Diesel). Comprei na época, uma fazenda do Vicente Mandu, para extração de barro e lá montei cinco ou seis olarias e fazíamos a extração da lenha na Colônia Agrícola. Movimentávamos então com cinco ou seis caminhões para o transporte de lenha, barro e do produto industrializado (tijolos, telhas, manilhas, ladrilhos, etc.). Ah! Tínhamos também junto à cerâmica uma fábrica de ladrilhos de cimento e pedra plástica (tipo marmorite). Muitos pisos que existem por aí, ainda em perfeito estado, foram fabricados lá. Fabricávamos até túmulos.
O senhor não voltou mais tarde ao ramo de serraria?
Algum tempo depois o Satiro resolveu vender a serraria e eu disse a ele que se conseguisse alguns companheiros iria comprá-la novamente. Então reunimos o Rodolfo Lemos, o João Pacheco Filho e o Randolfo Borges Mundim e a adquirimos, constituindo a firma Lemos Cyrino e Cia. Logo depois, o Rodolfo vendeu a parte dele e daí a algum tempo eu vendi e minha e ficaram apenas o João Pacheco e o Randolfo.
Quanto tempo o senhor ficou com a cerâmica?
Fiquei muitos anos e tinha como sócio o João da Mata Corrêa (João do Rádio). Mais tarde, vendi minha parte para ele, lá para 1956. Eu tinha cinco filhos estudando em Belo Horizonte e resolvi mudar para lá, para facilitar, mas fiquei lá só um ano e resolvi voltar.
Ao voltar de Belo Horizonte qual foi a sua atividade?
Quando voltei fui trabalhar com meu filho Antônio Cyrino, em obras do Estado. Estive em São Romão, São Gotardo, Boassara, como administrador daquelas obras. Ele tinha mais de vinte obras do Estado e permaneci nesta função durante uns quatro ou cinco anos.
Quantos empregados o senhor tinha nos tempos da serraria e da construção?
Só na serraria eram uns vinte e tantos, agora nas construções havia um número muito grande. Fui eu quem trouxe para cá o João Batista dos Santos e o Honorato da Silva Fonseca, que vieram depois a ser dos maiores construtores de Patos.
Sua cerâmica foi a primeira da cidade e o senhor se lembra mais ou menos qual era a produção dela?
Foi a primeira e nós fabricávamos em média 10 mil telhas (francesas e coloniais) por dia. A procura era tão grande, que precisávamos fazer lista de pedidos para conseguir atendê-los. Antes as telhas vinham de Tambaú e Jaguara, no Estado de São Paulo. Queimávamos em média 10 mil tijolos por dia também. Vendíamos nosso produto para toda a região.
A primeira casa que o senhor construiu ainda existe?
Existe sim. Ela fica ali na Rua Marechal Floriano. É a terceira casa à direita a partir da esquina da Rua Dr. Marcolino e foi lá que morei nos primeiros anos de casado.
O senhor teve ainda outras atividades?
Houve um ano em que eu toquei lavoura e foi o pior negócio que fiz em minha vida. Plantei 20 sacos de feijão selecionado, de primeira qualidade e colhi 9 ruins, porque não choveu na época que precisava. Tive também uma olaria de sociedade com o João Luiz Redondo. Ele amassava barro para fazer tijolos no sistema antigo de tração a burros e eu comprei o maquinário elétrico e nós compramos uma grande área lá na Lagoinha. Acabou que o negócio não deu certo e eu propus a ele dissolver a sociedade: eu ficaria com o motor, o transformador e as máquinas e ele com o terreno, com a tropa, carroções e tudo mais e depois sei que ele e a Maria esposa dele, doaram todo o terreno para a Igreja Presbiteriana. Achei muito bom quando ele passou para a Igreja Presbiteriana, porque eu sempre fui católico, mas ele era ateu e isto me aborrecia muito.
O senhor teve uma aposentadoria compensadora para tanto trabalho?
Olha, naquele tempo a gente pagava muito pouco aos Institutos, porque não tinha interesse, já que não havia benefício nenhum, por isto, só muito a custo, consegui minha aposentadoria e mesmo assim, muito pequena.
Mas o senhor não parou de trabalhar ainda, não é?
Velho não pode parar. Continuo aqui no fundo de casa fabricando uns moveizinhos e outras pequenas coisas. Mantendo um banco de carpinteiro com as ferramentas e faço tamboretes, cadeiras, carrinhos para chá, mesas trabalhadas, cabides e outras coisas. Só não faço o serviço de torno.
NOTA: João Cyrino Neto faleceu em 31/10/1983, de mal súbito, poucos dias após a publicação dessa entrevista.
* Fonte e foto: Entrevista de Dirceu Deocleciano Pacheco e João Marcos Pacheco publicada no n.º 76 de 15 de setembro de 1983 da revista A Debulha, do arquivo do Laboratório de Pesquisa e Extensão de História (LEPH) do Unipam.