RUSGA ENTRE “A DEBULHA” E A “CASA DE CULTURA”

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A edição n.º 48 de 31 de maio de 1982 da revista A Debulha publicou duas notas com o título Vamos Limpar a Cidade? A primeira:

“A DEBULHA” registra com prazer a atuação da Prefeitura Municipal, na última semana, afixando depósitos para coleta de lixo, em várias esquinas do centro.
Resta agora, esperar que saibamos usá-los convenientemente e principalmente que nosso povo saiba respeitá-los e valorizá-los não os danificando, como muitas vezes acontece com as coisas públicas.
Bom seria ainda, que a mesma ação se estendesse a outros pontos da cidade.
À Prefeitura, os nossos cumprimentos.

A segunda:

“A DEBULHA” registra com pesar o fato de apesar de todas as solicitações já feitas por autoridades e pela imprensa em geral, ainda continuem os promotores de bailes, festas e shows afixando cartazes e panfletos e todo e qualquer local, sem prévia autorização dos proprietários.
Lastimamos principalmente que entidades como a CASA DE CULTURA, usem indiscriminadamente deste procedimento. É sabido que todo o comércio de Patos de Minas tem cedido suas vitrines para afixação de cartazes de promoções, o que tem um efeito muito maior.
Acreditamos que esta atitude só virá provocar uma maior barreira à difusão cultural em nossa cidade.

A resposta da Casa de Cultura é datada de 09 de junho, mas só foi publicada na edição n.º 50 de 30 de junho. Nesse espaço de tempo, a revista confeccionou uma ficha contendo espaço para o nome, endereço e profissão ou função da pessoa consultada, com a pergunta: V.S. entende que a afixação de cartazes e panfletos alusivos a shows, bailes e outros, em muros, paredes e postes, contribui para sujar a cidade? As fichas foram distribuídas a 45 autoridades, líderes de classes, profissionais liberais, comerciantes e outros e 19 a pessoas que foram procuradas casualmente.

Então, na dita edição n.º 50 de 30 de junho, foi publicada a resposta da Casa de Cultura:

Patos de Minas, 09 de junho de 1982.
Aos Diretores da Revista “A DEBULHA”
A COMISSÃO CASA DE CULTURA “registra com pesar” o registro de pesar dado a ela na matéria “Vamos Limpar a Cidade” da revisa “A DEBULHA” n.º 48 de 31/05/82. Uma revista, que se diz porta-voz da Cultura, achar que um cartaz informativo afixado em um muro da cidade significa sujar a cidade, está cometendo uma grande incoerência editorial, o que lamentamos muito.
A nossa preocupação maior é limpar a cultura de nosso povo da sujeira que, dia-a-dia, tenta se misturar na nossa história com um único objetivo de nos dominar, também, culturalmente. Para levar este trabalho adiante nós contamos com a participação da sociedade como um todo, e é por isso que, quando estamos com alguma promoção, seja ela de divulgação de nossa cultura, seja como forma de angariar fundos para darmos continuidade ao nosso trabalho, procuramos divulgá-la nos quatro cantos da cidade para que ninguém deixe de participar. Esta divulgação feita com um cartaz bem original e criativo, que, modéstia à parte, sempre procuramos fazer, proporciona confiança e maior emoção. De maneira nenhuma achamos que com isto estamos sujando a cidade. Estamos sim usando uma forma alternativa e inovadora de comunicação, que, por sinal, é usada em todo o país justamente porque a vitrines das lojas são socialmente falando de alcance limitado. Outra alternativa que a CASA DE CULTURA concorda seria encher a cidade de murais e até mesmo grandes painéis, onde os promotores de shows, festas, bailes, etc. pudessem afixar seus cartazes.
Quanto as solicitações das autoridades devemos informar que já fomos felicitados e todo incentivo moral nos é dado a todo instante, não só pelas autoridades, mas pelo povo em geral.
A CASA DE CULTURA lamenta muito ou se sente até orgulhosa por ter sido a “escolhida” para servir de exemplo dos que sujam a cidade, pois há tantas “coca-colas” da vida por aí, que até mudaram o colorido da cidade, não merecendo sequer uma linha de desagravo.
Saudações,
Comissão Casa de Cultura.

E logo após essa manifestação da Casa de Cultura, veio a lista com todos os nomes dos que receberam a ficha com a resposta e o resultado: 59 responderam sim e somente 5 responderam não. Veio o n.º 51 em 15 de julho e o Editorial “Um bom Exemplo” toca no assunto enfatizando o resultado da pesquisa, mas sem citar a Casa de Cultura. E assim deu-se por encerrado o assunto.

* Texto: Eitel Teixeira Dannemann.

* Fonte: Arquivo de Eitel Teixeira Dannemann, doação de João Marcos Pacheco.

* Foto: Pt.wikihow.com, meramente ilustrativa.

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